Venha saber o que está por trás do clássico gótico das animações
Nossa trajetória enquanto seres humanos é repleta de fases e momentos marcantes, e entre elas uma das mais simbólicas, sem sombras de dúvidas, é a infância. A fase, que quando se está nela quer que ela logo passe, mas quando se passa dela apenas desejamos retornar, para muitos um período que simboliza uma rotina simples, cuja as únicas preocupações são ansiar pela sexta-feira para que passar o fim de semana brincando com os amigos ou grudados em frente à TV vendo os nossos desenhos favoritos. São várias as definições e significados que podemos dar a esse momento mágico, mas para mim a infância sempre será sinônimo de uma coisa: Disney.
Acredito que, assim como eu, muitos também cresceram com os desenhos da companhia do rato mais querido do mundo. Sendo atualmente o maior império midiático da face da terra, a Disney soube como ninguém se estabelecer e consolidar como o representante máximo do entretenimento família com suas histórias mágicas repletas de morais e significados atemporais. Afinal quem nunca se emocionou com as tramas das princesas maltratadas por suas madrastas más ou quando Simba perde seu pai em O Rei Leão? (Não preciso por um alerta de spoiler, né?).
São tantas histórias lindas e encantadoras que não foi atoa que a empresa chocou o mundo em 1996 quando lançou um filme sobre preconceito racial, hipocrisia religiosa e as diferenças entre a paixão sexual, amor romântico e amor honesto. Estou falando, é claro, do incrível mas infelizmente esquecido O Corcunda de Notre Dame, um dos clássicos mais esquecidos da Disney por ser consideravelmente mais sério e pesado do que se espera de um típico filme “disneyano”. Isso o levou a ser extremamente rejeitado na época por ser considerado impróprio demais para o seu suposto público alvo, mas que com o passar dos anos foi sendo resgatado pelo público fazendo com que ele ganhasse um cult following considerável e recebendo aclamação tardia como um dos projetos mais ousados e corajosos que a Disney já ousou em fazer. Venha agora conferir alguns detalhes que você talvez tenha deixado passar despercebido quando assistiu.
Totalmente diferente das origens
Como já mencionado, o filme contém tons mais maduros e sombrios do que a maioria das animações familiares, mas o que pode ser uma surpresa para alguns é que o material de origem teve que ser basicamente modificado por completo para que se enquadrasse minimamente no padrão DIsney. Baseado no romance ultrarromântico Notre Dame de Paris do autor francês Victor Hugo, o filme difere drasticamente em história e temas: enquanto o filme é reconhecido por uma trama focada na justiça social e combate ao preconceito e possui um final otimista, o livro já se trata de uma história melancólica pautada numa sociedade medieval corrupta com a maioria dos personagens sendo moralmente ambíguos e que, majoritariamente, ou morrem ou tem um final miserável. A própria descrição deles se modifica, se na adaptação Quasimodo é um adorável desajustado com um coração puro que apenas deseja conhecer o mundo, no livro ele é uma figura semi-monstruosa e emocionalmente desequilibrada capaz de cometer assassinatos. Outras mudanças consideráveis incluem que o antagonista Claude Frollo no original não era um juiz, e sim um religioso inicialmente de bom coração que vai se corrompendo conforme vai se deixando levar pelos seus desejos carnais. A mudança da profissão do personagem foi para que se evitasse polêmicas com grupos religiosos e é um reflexo de outra grande inspiração para o filme: a adaptação da mesma obra lançada em 1939 considerada um dos grandes clássicos do cinema.
Presença de figuras ilustres
Em meio ao grandioso número musical “Lá Fora” que ilustra os anseios e desejos do nosso protagonista, vemos uma Paris animada e movimentada repleta dos mais diversos tipos de pessoas, entre elas, em um rápido frame, está outra amada protagonista da renascença Disney: A Bela de A Bela e a Fera, que passa rapidamente pela cena com seu clássico vestido azul e lendo um livro como de costume. Se trata de um momento breve que facilmente passa despercebido mas que já foi o suficiente para que fãs criassem teorias que os filmes compartilham um mesmo universo e se passam simultaneamente, o que até faz sentido já que ambos se situam na França, mas se demonstra pouco provável já que a história de Quasimodo se passa na capital e a de Bela no interior séculos após o período em que Corcunda está ambientado, se tratando provavelmente de um Easter Egg.
Estilo
Lançado nos anos 90 em meio a chamada renascença Disney, época que o estúdio se revitalizou e lançou grandes histórias épicas que se tornaram clássicos, o filme conta com uma cinematografia de tirar o folego. A começar por sua animação 2D com cores coloridas digitalmente altamente detalhadas e contrastes de luz que se mescla com a animação 3D utilizada para dar a vida a cenários e a habitantes da cidade, dando uma dinamicidade e complexidade de cenas grandiosas que apenas contribuem para o enredo do filme, se tornando um verdadeiro show de visuais, aliado ao estilo gótico e de alto contraste.
Homenagem ao autor
Como uma forma de demonstrar respeito ao autor, apesar de todas as mudanças já citadas anteriormente, a equipe achou uma forma um tanto quanto inusitada de o homenagear: Dando seu nome a pedras! No filme, Quasimodo tem como seus únicos amigos um trio de gárgulas que se manifestam somente para ele, ocupando o papel obrigatório de sidekick do protagonista, uma delas se chama Victor e a outra Hugo, que juntando forma o nome do autor da obra original Victor Hugo.
A família do autor odiou
Apesar da tentativa da Disney de homenagear o escritor, seus descendentes odiaram o filme, considerando-o uma banalização e vulgarização da obra que não representava toda sua grandiosidade e significado, levando inclusive a problemas legais.
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