Mas você já tentou dar uma chance para The Marvelous Mrs. Maisel?
Depois de estudar no mesmo colégio por seis anos, uma das minhas maiores questões quando passei na faculdade definitivamente era conhecer pessoas novas, afinal o que conversar com completos desconhecidos? Fazer isso aos 10 anos não era uma missão tão complicada, mas aos 17 o clima definitivamente era outro. Apesar da preocupação no primeiro momento de silêncio que aconteceu entre mim e aquelas que viriam a ser minhas futuras amigas uma pergunta surgiu, “Vocês já viram Gilmore Girls?” e esse simples questionamento foi suficiente para horas de conversa a fio com todas aquelas que seriam dali em diante minha companhia diária.
Com o tempo e a convivência eu percebi que aparentemente o assunto Gilmore Girls é algo comum entre as pessoas, não só do meu curso, mas da minha faculdade em geral. Somos todos meio Rory Gilmores discutindo se somos Team Jess ou Team Logan, se estamos no curso certo, se somos realmente bons naquilo que nos propusemos a fazer e com outras mil questões que nos fazem olhar para a protagonista da série e pensar “ela é igual a mim” e definitivamente todos nós encontramos certo conforto naqueles 40 minutos de episódio que se tornaram um refúgio em momentos de loucura universitária.
Mas porque eu iria vir aqui indicar uma série tão popular assim, que todos já viram ou pelo menos sabem sobre o que se trata? É aí que você se engana. Apesar de amar a família Gilmore e suas histórias, hoje eu queria falar sobre uma outra série da mesma autoria, para todos aqueles que sentem falta do humor ácido de Lorelai, da sensação familiar que Stars Hollow proporciona, dos dramas amorosos e até mesmo dos atores.
Ganhadora de sete prêmios Emmy, dois Globos de ouro e diversos outros, a série The Marvelous Mrs. Maisel é da autoria de ninguém mais ninguém menos que ela, Amy Sherman-Palladino. Não reconhece este nome? Então eu vou te contar que a Amy é simplesmente a responsável pelas sete temporadas da nossa querida Gilmore Girls, e apesar da história completamente diferente conseguimos perceber claramente o mesmo estilo em Mrs. Maisel, sem que a série se torne uma cópia ou um genérico, pelo contrário, Amy se mantém extremamente original.
Ambientada em uma Nova York dos anos de 1958 e narrando a história de uma jovem judia de classe média alta, a trama se inicia quando a nossa querida protagonista, Midge, se vê diante de um pedido de divórcio do marido, que a troca pela sua secretaria. Após um leve surto e muito vinho, Midge sobe no palco de um bar no centro da cidade, onde começa a fazer um show de stand up – algo que seu, agora, ex-marido, tentou fazer durante muitos anos – e depois de muitas risadas e uma prisão por indecência, a zeladora do bar, Sussie, vê um futuro na profissão de comediante para a Sra. Maisel.
Apesar do plot já ser bom o suficiente para convencer alguém a assistir, a série ainda conta com personagens cativantes e caricatos que por si só já mereciam séries individuais, um comentário especial para o espetacular Tony Shalhoub, que interpreta o pai da protagonista em uma performance hilária. O humor se mantém no mesmo estilo, ouso dizer que ainda melhor do que o da sua antecessora. Agora para um público mais maduro, Amy acerta perfeitamente a mão nos stand ups feitos por Midge e nas milhares de piadas sobre o que é ser mulher nos anos 50, a realidade que os protagonistas enfrentam sendo judeus praticantes, sobre o divórcio naquela época e outras questões que só ela trabalharia com tanta assertividade e na linha tênue do humor ácido que conhecemos tão bem.
E para os saudosistas, algumas figuras queridas da nossa tão amada Gilmore Girls, fazem participações especiais esporadicamente entre um episódio e outro, até mesmo Milo Ventimiglia, o amado Jess, faz uma breve aparição como par romântico de Midge na quarta temporada. Além dos atores, outra fórmula que a autora repete é a dos diversos pares românticos que a protagonista conhece ao longo da série, fazendo com que o telespectador torça até o último segundo pelo seu preferido e gerando novamente discussões como “Team Jess x Team Logan”, mantendo o público ansioso por um próximo episódio.
Às vésperas do fim, The Marvelous Mrs. Maisel encerra neste ano de 2023, com sua última temporada e já deixa saudades e o gostinho de quero mais, que só obras tão boas são capazes de fazer, mostrando que mesmo após 10 anos do encerramento de seu maior sucesso, Amy Sherman-Palladino se mantém cativante e atual.
Leia também:
John Hughes, cinema adolescente e as noites de CineCom que ainda vamos viver
Um texto para quem já amou alguém