Você já olhou para um personagem e perguntou o que aconteceu com ele?
Algum tempo atrás eu assisti a uma série de vídeos que explicavam a psicologia dos personagens principais de How I Met Your Mother e de Friends, duas das minhas obras audiovisuais favoritas. Naquela época, aqueles vídeos simplesmente alugaram um triplex na minha cabeça, principalmente os que falavam sobre Barney Stinson e Chandler Bing.
Na análise do youtuber Vítor Vaz, ele expôs tudo o que eu sabia e, principalmente, o que eu não sabia sobre aqueles que eram os meus personagens favoritos de ambas as séries. Explicando a psicologia por trás de tais personagens, fatores que poderiam determinar as motivações por trás de suas ações, ele me fez conseguir enxergar o que eu ainda não havia percebido quando assisti às séries várias e várias vezes. Entretanto, mais do que abrir os meus olhos para a vida de Barney e Chandler, aquelas análises fizeram com que eu percebesse coisas sobre mim que eu ainda não havia percebido. Ao final dos vídeos eu saí com apenas um pensamento: eu estou quebrado.
Mas tudo bem, eu comecei pelo início e pulei direto para o final, ignorei toda uma jornada, uma construção. Vamos focar nela.
Assistindo à How I Met Your Mother e Friends diversas vezes, os personagens Barney e Chandler ocupavam posições diferentes nas minhas avaliações. Enquanto Barney era o meu personagem favorito de HIMYM por toda a sua complexidade, por ser o personagem que, na minha visão, foi o mais bem construído, Chandler ocupava esse posto em Friends por ser aquele com o qual eu mais me identificava, fosse com os defeitos ou com as qualidades. O que eu não havia percebido ainda, é que esses dois personagens em específico eram muito mais que somente complexos, que havia muito mais por trás das piadas e das cenas marcantes, havia um motivo que justificava cada ação deles, afinal, eles estavam quebrados.
Você deve estar se perguntando: afinal, o que é estar quebrado? Na minha concepção, todos nós nascemos inteiros e, de acordo com o que vivemos, algumas coisas podem nos quebrar, ir provocando pequenos ferimentos, deixando marcas ao longo de nossa vida.
Decepções. Fracassos. Sonhos não realizados. Relacionamentos mal construídos. Experiências ruins. O que pode ser mais real do que isso? Certos acontecimentos moldam quem nós somos, quem nós vamos nos tornar. Certos acontecimentos nos quebram, de dentro para fora.
Sim, a realidade tende a ser decepcionante em diversos momentos, quantas vezes você esperou algo e recebeu o inimaginável em troca? São nesses momentos que você talvez pensou em como seria bom viver em um universo de fantasia, como seria reconfortante ir estudar em Hogwarts, passar um dia no batalhão de Brooklyn 99 ou ouvir uma história engraçada dos personagens de Modern Family. Contudo, você não vive uma vida de ficção, os seus problemas não são fantasiosos, eles são reais. Você pode imaginar que não terá um “e ele foi feliz para sempre” assim como acontece naquela que é a sua história favorita, e bom, tudo bem, talvez isso realmente possa ser o mais provável de se acontecer.
Mesmo na ficção, existem personagens quebrados. Barney e Chandler são a prova disso, são a prova também de que, mesmo estando quebrados, eles podem ser amados, eles conseguem ter um final feliz.
Barney não teve um pai. Foi traído pela garota que amava e traiu os próprios princípios. Ele foi ferido. Viveu segundos intermináveis. Errou. Tentou mudar. Ele falhou. Disfarçou sua solidão atrás de bebidas, mulheres e ternos caros. No final, quando tudo parecia perdido, o amor, o verdadeiro amor, abriu uma nova porta em sua vida que, com certeza, não era verdadeiramente lendária até então.
Chandler cresceu em um lar quebrado. Como ele poderia realmente amar alguém se ele mesmo não se amava? Como ele poderia imaginar que um dia algo daria certo em sua vida quando tudo até então havia dado errado? Infeliz no seu emprego e nas suas relações. Escondido atrás de piadas, das suas inseguranças. E bom, ele finalmente foi compreendido. Ele foi aceito, mesmo com todos os defeitos que ele pensava ter.
Nós estamos expostos a coisas boas e ruins, alegrias e decepções. Nós vamos nos magoar, nós vamos ser feridos. Vamos ouvir mais nãos do que sins, viver segundos intermináveis. Faz parte do processo de viver.
Talvez lendo esse artigo você tenha se reconhecido como uma pessoa quebrada, por qualquer que seja o motivo. Um mau relacionamento com seus pais, um amor que não aconteceu, amigos que não te entendem ou um sonho que ficou distante de se realizar. E bom, está tudo bem. As imperfeições da sua vida mostram que você está vivendo a realidade, e sim, a realidade pode ser cruel. Podem te machucar, intencionalmente ou não, podem te atacar de todos os lados os lados, mas isso significa que você está vivendo.
O que nos molda não são os nossos fracassos ou os nossos ferimentos, e sim como lidamos com eles. Na história da sua vida, tudo bem você ser o personagem quebrado, só não se esqueça que não estar inteiro é o primeiro passo para a reconstrução.
Fonte:
A Psicologia de Barney Stinson em ‘How I Met Your Mother’.
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