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Por quê eu não sou assim?

As problemáticas de vermos atores adultos fazendo personagens adolescentes

Eu tenho certeza que você já pensou nisso em algum momento da sua adolescência. Pode não ter sido um pensamento consciente, mas é quase inevitável que você tenha visto um filme ou uma série, durante seu maior período de insegurança consigo mesmo, e não tenha pensado que seu corpo era completamente diferente do corpo adolescente que tenha visto na televisão. Meninos com corpos musculosos e barba cheia, meninas com quadril definido e seios grandes – e você, com seus 14 ou 15 anos, com corpo ainda em desenvolvimento, ainda lutando contra espinhos e cravos. Ver adolescentes com tal estética todos os dias na sua tela e tentar não se comparar a isso não é fácil. E se você não sabe que os atores ali são adultos com mais de 20 anos, fazendo um personagem mais novo, você não consegue evitar que a mesma pergunta ronde sempre a sua mente: por quê eu não sou assim?

A lista de atores e atrizes que interpretam tais papéis não é pequena. Jason Earles se tornou conhecido aos 30 anos ao interpretar Jackson, o irmão da Hannah Montana de 15 anos. Bianca Lawson foi a Maya St. Germain, de Pretty Little Liars, com 33 anos, enquanto sua personagem tinha 17. Barbra Streisand fez a jovem Yentl, de 17 anos, quando ela mesma já tinha 41. Na primeira temporada de The Vampire Diaries, Stefan Salvatore tinha apenas 17 anos, enquanto o ator que o interpreta, Paul Wesley, já tinha 27 anos. Em Friday Night Lights, Taylor Kitsch já tinha 27 anos quando fez o papel de Tim Riggins, que tinha apenas 14 anos.

Taylor Kitsch em Friday Night Lights

Temos exemplos assim até mesmo no Brasil. A atriz Daphne Bozaski fez Benê, de 16 anos, quando ela já tinha 25. Gabriela Medvedovski, também com 25, fez Kayla. Ambas na mesma edição de Malhação. E elas não são as únicas: podemos ver nos elencos de novelas, vários adultos interpretando estudantes de ensino médio.

Imagino que nem muitos tenham pensado a fundo o que isso pode causar na mente de um adolescente, mas a verdade é que à imagem e à estética é sim um problema existente no século XXI. Essa preocupação com o corpo vem geralmente pautada por questões de higiene e cuidados com a saúde, mas não se restringe a isso. Há uma crescente preocupação com uso de cosméticos e padrão de beleza, principalmente a partir dos anos 1980, quando o corpo ganhou mais espaço nos espaços midiáticos.

E o cinema de Hollywood se tornou um de seus grandes palcos.

Ao difundir novos valores culturais e veicular imagens de corpos perfeitos através de vários formatos, ele é um dos principais fatores que instigam as pessoas, dia a dia, a buscarem alcançar tal padrão, seja por consumo de produtos, dietas alimentares ou cirurgias plásticas. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, mais de 115 mil crianças e adolescentes se submeteram a operações em 2018, quando seus corpos ainda estão se desenvolvendo.

Reprodução: Associação Médica de Minas Gerais

Existem muitos atores já adultos que realmente parecem mais novos e se passam muito bem por um estudante de ensino médio. Mas há outros que apenas ativam as inseguranças de jovens quando os veem na tela. Maquiagem perfeita, curvas acentuadas. Braços musculosos, abdômen definido. Um corpo adulto para uma idade ainda em fase de crescimento. E isso repetindo a todo instante, todo dia, a cada filme e série que assistimos. É o suficiente para martelar na mente a ideia de que preciso dar um jeito, preciso fica mais bonito, me vestir melhor, mudar. Iniciei esse artigo com uma pergunta, mas o termino com outra.

Por quê eu preciso ser assim?

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