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Presos entre o antigo e o novo velho

Por que a indústria cinematográfica parece cada vez mais acorrentada aos remakes e adaptações de obras já existentes?

Já faz tempo que as palavras “remake”, “reboot” e “adaptação” deixaram de ser uma novidade na vida dos consumidores da cultura pop, mas se por acaso você está por fora de todo esse mundo deixe-me apresentar para você, de uma maneira bem chula, o que representam essas tais palavras: pega-se uma obra já existente, seja esta recente ou não, e cria-se uma nova obra em cima dela. Pronto, está aí uma boa explicação. Como já disse, isso não é algo atual, ainda no ensino médio escutamos a famosa frase-lei do químico Antoine Lavoisier que diz que “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, mas seria isso também uma lei no entretenimento?

Desde 2017, a criação de obras inspiradas em outras vem tomando conta dos cinemas, e se não superam a quantidade de obras originais, pode-se dizer que roubam os holofotes destas, já que o anunciamento de um remake toma muito mais espaço na mídia do que o anúncio de uma nova criação. Entretanto, junto à crescente presença desses filmes vem aumentando cada vez mais a quantidade de textos e vídeos na internet que questionam a repetição e a saturação que esses tais “termos” têm trazido para o mundo cinematográfico. Se está saturado, por que continuar insistindo?

O primeiro aspecto é um fator bem conhecido, o lucro. Um estudo realizado pelo site Casumo, em parceria com a empresa de SEO Verve Search, revelou que 91% dos remakes que ganharam vida em 2019 tiveram menos audiência que suas versões originais. Onde está o lucro aí? Você me pergunta. É bem simples, mesmo que não alcancem os originais, remakes ainda conseguem se pagar e gerar excedentes para seus estúdios. 

O segundo aspecto ainda está ligado ao primeiro, e trata-se da compulsão à repetição e padronização na chamada “cultura de massa” (termo criado pela Escola de Frankfurt, assim como o termo “indústria cultural”). O objetivo dessa cultura nada mais é do que padronizar e homogeneizar produtos de maneira a torná-los superficiais ao ponto de agradarem o maior número de público possível. Não é difícil enxergar isso nas adaptações de alguns serviços de streaming (alô, Netflix!) que adoram pegar obras inseridas em diferentes contextos culturais — sejam elas filmes regionais, livros internacionais, animes, entre outros — e transformá-los em produtos mais simples e no estilo “estadunidense de ser”, sem se preocupar em estar ou não perdendo toda a essência. A simplificação dessas culturas é necessária para venda em larga escala, segundo a lógica do capitalismo industrial e financeiro. Por isso, quando algo faz sucesso na “indústria cultural”, ele é aproveitado ao máximo, repetido ao extremo até que o público se esgote o suficiente para não conseguir mais consumir aquilo.

Mas se a audiência já começou a reclamar da saturação desses filmes, por que continuam consumindo-os? A resposta está em uma só palavra: nostalgia. Vivemos atualmente tempos cada vez mais difíceis, o mundo tem passado por uma polarização como nunca se viu, políticos extremistas ganham cada vez mais espaço e as redes sociais vem se tornando um lugar de julgamento e tormento. Dessa forma, acabamos nos agarrando a tudo que possa nos trazer uma ideia de tempos mais fáceis (ou, ao menos, que parecem mais fáceis). Em seu próprio psicológico, pessoas têm se segurado cada vez mais à fantasias infantis, ou mesmo, a antigas épocas idealizadas que não viveram, mas que, erroneamente, imaginam ter sido mais descomplicadas (e, acredite, não julgo ninguém por isso). O que acontece, é que os remakes são a própria personificação da nostalgia e em um mundo em que se respira “saudade” eles não poderiam ser mais procurados. 

Isso significa que esses filmes são amados por seus telespectadores? De maneira nenhuma. Na verdade, a grande maioria deles são extremamente criticados, “estão tentando destruir minha infância”, é o que sempre dizem. Mas esse sentimento de amor para com a obra original e a certeza da frustração no final do filme, não impedem as pessoas de irem ao cinema ou consumirem tal filme no serviço de streaming. E visualizações é o mesmo que dinheiro. 

Por fim, pensar em uma “extinção” dos remakes e adaptações, ou mesmo, na diminuição deles nos próximos anos, me parece bastante utópico. As obras continuarão a ser repaginadas e relançadas, goste o público ou não. Este é um investimento seguro para as plataformas de filmes e, mais uma vez, onde há lucro, há repetição. Por isso, enquanto a nostalgia fizer parte frequente de nossas vidas, os remakes também farão parte frequente das nossas telas. Então, já dizia o ditado contemporâneo, as obras originais que lutem (e nós que já estamos saturados também)!

Fontes:

Por que Hollywood faz tantos remakes de filmes clássicos?

Opinião: o Cinema precisa mesmo de tantos remakes?

Coluna do Pablo: Remakes são bons, mas jamais serão melhores que os originais

SOCIOLOGIA: Cultura de Massa

Considerações sobre a Indústria Cultural sob perspectiva da Escola de Frankfurt 

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