Esse texto foi escrito sob a necessidade de quebrarmos a primeira regra. Precisamos falar sobre o Clube da Luta.
Há 25 anos, Brad Pitt e Edward Norton estrelaram uma das maiores obras cinematográficas de todos os tempos, com um dos maiores
plot twists da história. Clube da Luta, que é inspirado num romance escrito por Chuck Palahniuk e publicado três anos antes, é um filme que combina ação, críticas sociais, atuações impecáveis e uma fotografia impressionante. É, sem dúvida, o trabalho da vida de todos os envolvidos e um marco que continua a ser observado e analisado até hoje.
Para analisar essa obra, precisamos relembrar a história dirigida por David Fincher. O protagonista que também narra a história, interpretado por Norton, que não tem o nome revelado, é um americano comum insatisfeito com sua vida e carreira e que sofre de insônia. O personagem então adquire o hábito de frequentar grupos de apoio para finalmente se sentir vivo, o que acaba se tornando uma espécie de vício, que o faz dormir como um bebê todas as noites. Porém, esse hobby é perturbado por Marla, que também tem o mesmo costume bizarro que o protagonista, tornando-se uma rival na disputa pelo seu espaço.
Em uma viagem de negócios, ele conhece Tyler Durden, um carismático e descolado vendedor de sabonetes com um espírito anarquista, que instantaneamente se torna seu amigo. A partir daí, uma narrativa se constrói em torno da amizade dos dois, que vai crescendo cada vez mais, culminando na criação conjunta do “Clube da Luta”, um espaço para homens igualmente insatisfeitos com suas vidas se enfrentarem.
O personagem principal, que teoricamente tinha um ótimo emprego e um apartamento perfeito, se sente vazio e vê na amizade com Tyler e na disputa com Marla, motivos para continuar vivendo. No fim, ele “perde” tudo: seu apartamento pega fogo. No entanto, ele se muda para a casa completamente suja de Tyler e ali ele finalmente sente que tem um propósito de vida.
[SPOILER]
O tempo vai se passando e o narrador cada vez mais começa a embarcar nas loucuras de Tyler, como roubar gordura humana no hospital para fazer sabonete ou fazer uma queimadura química em sua própria mão. Mas o que talvez o espectador não sabia é que, na verdade, Tyler era o próprio narrador.
O protagonista não tem seu nome revelado ao longo do filme, o que faz muito sentido e se torna uma escolha genial, visto que a obra propõe um questionamento. A ausência de um nome demonstra o vazio de sua existência, reforçando que ele é apenas mais um indivíduo perdido no meio ao sistema; mostra que ele não é especial, apenas uma peça em uma engrenagem alienante.
Você não é especial.
A narrativa é construída de forma perfeita para deixar claro que Tyler, na realidade, não existia, mas, ao mesmo tempo, mantém quem está assistindo preso à história para que essa revelação passe despercebida. Ao longo do filme, flashes com a imagem de Tyler aparecem na tela; no ônibus, eles pagam apenas uma passagem; no avião, eles tem apenas uma mala, e o narrador nunca está ao mesmo tempo com Marla e Tyler. As respostas sempre estiveram lá — você só não percebeu.
Talvez de forma irônica, a parceira de Tyler durante todo o filme, ajuda o narrador no final a vencê-lo. A convivência com Tyler foi tão intensa que o protagonista finalmente se tornou aquela figura que sempre desejou e, de mãos dadas com Marla, observou todo o caos que ajudou a construir.
A obra se constrói a partir de críticas sociais muito bem elaboradas, abordando temas como consumismo, alienação e a busca por identidade. A insônia do personagem simboliza seu desconforto e vazio diante de uma vida materialista e de aparências. Tyler, na verdade, é uma figura idealizada pelo narrador, o homem que ele sempre quis ser.
A personalidade de Tyler é usada ao longo do filme justamente para confrontar e questionar tudo aquilo que se propõe criticar. Logo no início, um único aviso é dado, no qual Tyler demonstra claramente seu descontentamento com tudo aquilo em que a sociedade se transformou — uma crítica que, de certa forma, também pode ser voltada para ele próprio. Uma sociedade completamente deturpada e o consumismo desenvolvido construíram Tyler como uma figura de revolta.
“Trabalhamos em empregos que odiamos para comprar coisas de que não precisamos.”
No fim, o narrador se deixou levar pelo sistema que ele mesmo odiava, o que acabou o tornando uma pessoa deprimida e com baixa autoestima, isso serviu como gatilho para criar um alter ego que realmente admirava.
Tyler prega que as lutas não são sobre ganhar ou perder, mas sobre sentir-se vivo, fazer parte de algo, experimentar sensações de adrenalina e poder em uma sociedade que os invisibiliza.
Todos os personagens do núcleo principal estão, na verdade, imersos em um profundo sentimento de solidão. O narrador, tão deprimido e desconectado do mundo, acaba criando outra personalidade em sua mente. Marla, desesperada, busca refúgio ao tentar cometer suicídio e se apoia em alguém que mal conhece. Até mesmo Robert Paulson, um dos membros dos grupos de apoio, que sofre de ginecomastia, precisa aliviar seus sentimentos de angústia através do contato com outras pessoas, pois apenas chorar nas reuniões já não é o suficiente.
Em um primeiro momento, Clube da Luta não teve tanto sucesso nas bilheterias, talvez por ter sido lançado no mesmo ano que O Sexto Sentido, Matrix, 10 Coisas que Eu Odeio em Você e À Espera de um Milagre. Contudo, com o passar dos anos, acabou se tornando um filme cult com presença marcada na cultura pop ao redor do mundo.
Clube da Luta é, essencialmente, a história de um homem em busca de propósito e significado em sua própria vida. O final, deixado em aberto com a “morte” de Tyler, pode simbolizar que o narrador finalmente está assumindo o protagonismo de sua própria história, encontrando um sentido e, ao mesmo tempo, sua própria identidade.
No climinha de Linkin Park no Brasil, escrevi esse texto ouvindo:
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