Cinco filmes para apreciar o trabalho do cinema nacional e cativar-se por seus enredos divertidos
As primeiras filmagens em território brasileiro ocorreram em 1898, na Bahía de Guanabara, e já no ano seguinte foi aberta a primeira sala de cinema em São Paulo, com exibição filmes sobre o cotidiano carioca. A partir daí, o país foi evoluindo aos poucos nessa área e conquistando um espaço de respeito quanto a criação de suas obras, mas ainda exportando significativamente produções americanas. Em 2002, a Academia Brasileira de Cinema é criada, tornando-se um instrumento fundamental na busca de maior qualidade de produção e alcance de público – com filmes como Cidade de Deus (Fernando Meirelles) e Carandiru (Hector Babenco) sendo reconhecidos internacionalmente.
Devido à falta de investimentos na área cinematográfica, o cinema brasileiro enfrenta inúmeras dificuldades sobre possível carência de recursos há anos, mas sobrevive com a luta e dedicação daqueles que trabalham no meio e estão dispostos a fazer o melhor com o que possuem. Nos últimos meses, a Ancine (Agência Nacional do Cinema) vem sofrendo ameaças do atual governo, que argumenta de forma ignorante sobre o conceito de arte e expõe um juízo de valor duvidoso sobre sua possível condição da liberação do incentivo financeiro na produção de filmes nacionais.
O TOP 5 de hoje vem com a missão de trazer um pouco da produção nacional para que essa seja lembrada e reconhecida por quem lê o blog, afinal , cada vez mais é perceptível a preferência da maioria do público brasileiro por filmes estrangeiros, lotando cinemas em suas exibições, enquanto os filmes nacionais costumam passar despercebidos e sem o devido valor que, muitas vezes, merecem.
5- Linda de Morrer (Cris D’Amato, 2015)
A obra segue a formula nacional de desenvolvimento de filmes, com grande semelhança com as típicas novelas e algumas jogadas falhas de humor, mas tais características não estragam totalmente o enredo que traz elementos interessantes presentes na crítica a respeito do culto a estética perfeita, na abordagem do relacionamento mãe – filha com problemas de comunicação/compatibilidade de ideias e na sútil descaracterização moralista da filha que critica a mãe, mas não reconhece sua posição de privilégio. O protagonista, interpretado por Emílio Dantas, é carismático e ajuda no equilíbrio entre mundos proposto na obra, mais do que apenas vendo espíritos, mas passando uma imagem humana que atinge o público.
O filme conta a história da vaidosa Paula Lins (Glória Pires), uma médica famosa por criar um remédio com a promessa de que acabariam com as celulites das mulheres, o que faz com que a mesma invista pesado na divulgação e criação de um padrão de consumo que atinja suas clientes. Tudo parecia estar indo para um caminho de sucesso, apesar das constantes brigas da mulher com sua filha (Antônia Morais), até a doutora decidir consumir o próprio produto e descobrir os efeitos colaterais da pior forma possível: caindo de uma escada e morrendo. Porém, esse não é o fim da presença de Paula no mundo físico, ela se vê presa em forma de espírito e descobre que precisa resolver questões mal resolvidas antes de partir para o além, percebendo que deve parar a produção do remédio e desistir daquilo que trabalhou para o bem maior. O que a leva na busca por Daniel, o médico sensitivo, que a ajuda a resolver a situação.
4- Loucas pra Casar (Roberto Santucci, 2015)
Malu (Ingrid Guimarães) é uma mulher dedicada ao seu trabalho, realizada profissionalmente, mas que se sente sozinha ao perceber que todas as suas amigas já estão casadas, construindo famílias e esperando bebês. Isoo a faz se questionar o porquê de seu namorado e chefe, Samuel (Márcio Garcia), não a pede em casamento sendo que já namoram há três anos. Após desconfiar que o homem tem um caso, a mulher decide contratar um detetive e descobre o envolvimento do parceiro com a dançarina Lúcia (Suzana Pires), deixando ambas indignadas com a cara de pau do moço, mas ainda dispostas a lutar pelo amor dele até mesmo com o surgimento de uma terceira mulher: Maria (Tatá Werneck), uma jovem religiosa que também se mostra interessada em competir pela atenção do empresário.
A primeira impressão que o filme passa vem pelo título, a ideia de uma mulher com o principal objetivo ser casar causa certo desconforto no cenário atual, mas ao longo da obra podemos perceber que a construção do enredo se trata principalmente do desenvolvimento pessoal de Malu, de como trata suas próprias emoções e expectativas, de como encara o suas decisões e alcança seus objetivos. O final é surpreendente e traz uma bagagem reflexiva sobre amor próprio, fazendo o público questionar até que ponto devemos nos moldar ao outro e como não podemos desistir de quem somos, se trata da compreensão da personagem principal a respeito da origem de suas angústias estarem dentro de si. Vale a pena conferir, as cenas engraçadas são ótimas e os personagens trazem ensinamentos leves.
3- Se Eu Fosse Você (Daniel Filho, 2006)
Cláudio (Tony Ramos) e Helena (Glória Pires) são um casal moderno, ou seja, dedicados ao trabalho e que pouco saem do padrão diário de viver seguindo a ambição, resultando em constantes discussões e afastamento emocional do par. Tudo parece perdido, até acontecer um evento completamente inusitado: durante uma das brigas em um elevador, os principais trocam de corpo. Tal acontecimento complicado faz com que os dois, literalmente, tenham que se colocar no lugar do outro e assumir o papel do cônjuge, enquanto buscam soluções para reverterem o acontecimento bizarro, fazendo com que entendam um pouco mais o lado do parceiro e tenham um olhar mais compreensivo, renascendo a paixão que os uniu.
O filme é uma boa pedida para dias que precisam de uma obra mais clichê, a atuação de Tony e Glória é algo a ser apreciado junto a forma com que constroem a mudança de corpos entre os personagens, sem caracterizações exageradas e repleta de momentos divertidos.
2 – Confissões de Adolescente (Daniel Filho, Cris D’Amato 2014)
O filme é baseado em uma série de sucesso dos anos 90 e uma obra literária de mesmo nome, ambos construídos por Maria Mariana, que até chegou a interpretar uma personagem na série. Essa obra entra na lista com um tom mais dramático, mais voltado para a fase juvenil da vida e seus constantes questionamentos na busca por respostas a respeito de que caminho seguir no amadurecimento individual. A princípio, a produção pode parecer desinteressante para o público, que busca um entretenimento mais adulto, mas a magia do enredo se encontra justamente nessa busca por um equilíbrio em suas identidades que está presente nas personagens. É um filme em que o espectador se relaciona com os conflitos, percebe que já passou por algo parecido ou já viveu momentos exatamente iguais, além de receber a mensagem da importância da união, autoconhecimento, respeito e amor.
A história gira em torno de quatro irmãs que vivem com o pai viúvo, seus conflitos são mostrados ao público de diversas maneiras, afinal, a representação de personagens vai do início da adolescência, com a Karina (Clara Tiezzi), até o final da mesma com a Tina (Sophia Abrahão). Quando o homem começa a ter dificuldades financeiras, as garotas decidem se juntar para ajudar na situação, enquanto enfrentam seus próprios dramas pessoais.
1 – O Homem do Futuro (Cláudio Torres, 2011)
O primeiro lugar traz um toque de ficção científica para a lista de hoje, o filme conta a história do físico João “Zero” (Wagner Moura), que busca construir uma nova fonte de energia sustentável, mas acaba desenvolvendo uma máquina do tempo que o leva há 20 anos no passado, tempo em que ocorreu um dos maiores arrependimentos de sua vida – e que o perturba desde que ocorreu. Ele volta para uma festa em 1991, que Helena (Alinne Morais) o troca por outro homem (Gabriel Braga Nunes). Vendo o acontecimento inusitado como uma oportunidade para mudar o acontecimento e melhorar seu futuro, esperando estar ao lado da mulher. Porém, ao voltar ao presente, percebe que está tudo diferente e que seu ato foi egoísta e impensado, o que o faz tentar corrigir o que ocorreu.
O filme é um daqueles que aquece o coração do público, que cumpre o papel do protagonista aprender uma lição com seus erros, mostra a luta por um romance antigo que não consegue esquecer. Traz uma cena incrivelmente fofa, quando Helena e Zero cantam juntos no palco e nos mostra uma atuação inteligente do protagonista que se encaixa nesse intercâmbio entre ficção e romance.