Você não deveria assistir tanta TV

Talvez essa pareça uma frase que sua mãe te diria em 2004, mas acredite, o tempo gasto na frente das telas pode ser mais maléfico do que prazeroso.

Os filmes e séries sempre fizeram parte da vida e do cotidiano da maioria das pessoas, afinal, quem não gosta (ou gostava, em um mundo A.C. — Antes do Corona) de chegar do trabalho, tomar aquele banho caprichado e se jogar no sofá para maratonar alguns episódios das suas séries favoritas enquanto comia um lanchinho? Para muitos, isso já poderia ser considerado um ritual.

Mas então, os trens saíram dos trilhos quando o Corona chegou e desestabilizou a vida de cada um de nós. Foi e ainda é um cenário terrível, estamos presos em casa; tentando levar a vida em uma situação sem precedentes e tendo de lidar, não apenas com nossos próprios medos e emoções naturais, mas também com o bombardeio de informações negativas que recebemos diariamente. Dessa forma, o conteúdo dos serviços de streaming tem saído da posição de maior entretenimento da quarentena e assumido, cada vez mais, o posto de “escape da realidade existente fora da TV”. E isso até seria bom… se fôssemos controlados.

De acordo com o Dicionário inFormal, maratonar é o termo usado para designar o ato de “assistir a um seriado, ler um livro ou consumir qualquer produto de entretenimento de forma ininterrupta, frenética e incessante, com bastante interesse e empolgação, consumindo inteiramente ou parcialmente em um curto período de tempo”, e haja frenesi! Se você acha que a utilização desse tipo de entretenimento já era alto antes, saiba que o consumo da Netflix pós Covid-19 cresceu 61% nos Estados Unidos, por exemplo, e que, aqui em nossas “terras Brasilis”, a média agora é quase 8 horas diárias em frente à TV. Esse parece um número pequeno para você?

É fato que devido ao isolamento social, nos vemos cada vez mais privados de fazer aquilo que gostamos ou de realizar atividades que outrora consumiam nosso tempo, tempo este que agora parece ser grande demais para as poucas opções de entretenimento oferecidas, mas gastar horas em frente à tela da TV, computador ou mesmo celular maratonando uma série inteira ou saga de filmes em um único dia não vai realmente resolver o seu problema de tédio e pode acabar se agravando e se tornando um vício de verdade. Acredite, já existem pessoas no mundo que são medicamente diagnosticadas como “viciados em Netflix”.

Como já estamos predominantemente parados, por estarmos em casa, o problema se agrava quando as sessões em frente à TV vão substituindo o tempo que poderíamos dedicar à prática de atividades físicas (seja você um lutador no maior estilo Karate Kid ou alguém que estala quando tenta tocar a ponta dos pés), convívio social (sabe aquela mensagem chata no whatsapp ou uma vídeo chamada, ela é importante) ou ao próprio sono (ou vai me dizer que você nunca madrugou por causa de uma sériezinha?).

Como se já não bastassem as noites perdidas por causa dos episódios em si, tem mais! Se você é do tipo que começa a assistir alguns episódios às 6 da tarde, mas para às 10 da noite, saiba que também está sendo prejudicado. Assistir a vários episódios de uma série antes de dormir pode impactar negativamente no sono não só por uma noite, mas várias seguidas, porque as telas de TV e computador emitem luz de espectro amplo que retarda a liberação de melatonina (hormônio do sono), alterando o ciclo e padrão do sono (e também te faz “envelhecer” mais depressa, mas isso é outra conversa), diz o neurologista e diretor do centro de distúrbios do sono de Michigan Medicine, Ronaldo Chervin. E não vamos nem entrar no quesito de que ficar sentado por longos períodos pode elevar o risco de síndrome metabólica, que pode levar a doenças cardíacas, derrames , diabetes tipo 2 e trombose venosa profunda.

Eu sei, eu e você somos simples seres humanos que só queriam esticar as pernas cansadas em um sofázinho de 2 lugares e dar algumas risadas assistindo vários episódios de sitcoms e não há mal algum em desejar um pouco de paz, eu te garanto. O importante é que saibamos controlar nossos horários e conhecer as vantagens e desvantagens daquilo que gostamos. Afinal, eu tenho certeza de que você não gostaria, por exemplo, de ligar a TV para distrair-se dos problemas que podem causar uma crise de ansiedade ou depressão, sem saber que pode estar piorando seu estado ao fazer isso. Sim, existem especialistas que afirmam que assistir muita TV pode causar ansiedade e aumentar a depressão, ligadas à insônia.

O que quero dizer aqui, é que tudo bem mergulhar de cabeça em 1 episódio por dia; ou quem sabe, dia sim dia não. Mas talvez não continue tudo tão bem se este um episódio acaba se tornando uma temporada inteira. Já dizia o ditado da vovó: “tudo em excesso faz mal”. Cabe a você controlar o tempo gasto em frente à TV, assim como o tempo gasto no trabalho, em redes sociais ou navegando pela internet. Não espere pelo “Você ainda está assistindo?”, da Netflix. Os sistemas de streaming não se importam se você vai passar 24hrs parado, eles não ligam para sua saúde. Na verdade, a maioria das empresas vêm criando programações justamente pensadas para serem vistas compulsivamente, não é uma coincidência que o próximo episódio comece automaticamente. Seu tempo é o dinheiro deles. Mas quem faz seu tempo é você e mais ninguém.

Séries e filmes são incríveis. Universos inteiros esperando para serem descobertos, para nos emocionar, nos divertir, nos tirar da realidade e abraçar-nos com a maravilhosa sensação que só um personagem fictício e idealizado poderia proporcionar. A ficção pode nos fazer sentir representados, pode nos ajudar a moldar nossa personalidade e relacionamentos com o outro e, até mesmo, nos ajudar com a timidez na hora de começar uma conversa com alguém que nunca vimos. Viu só? Ela também tem coisas boas! E acredite, ter tempo improdutivo é extremamente importante para cada um de nós, não há culpa alguma em tirar uma folga para se entreter e viver momentos só seus. Mas o quanto realmente vivemos enquanto estamos sentados em frente à TV?

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