Chegando em casa, com pressa e agoniada, meio eufórica ainda pela subida da ladeira enorme, pergunto ao Elder (o dono da mercearia que fica embaixo de onde eu moro) :

– Chegou?

Ele me entrega uma caixa, leio o remetente e sorrio de leve. É a letra dela, falo baixinho. Subo as escadas e abro a porta, procurando em todas as direções: A faca! que vejo no canto da mesa. Sentada na minha cama, penso: finalmente estou em casa…

A caixa bem embalada cheia de fita me dá um certo trabalho para abrir. Quando finalmente consigo, vou me acalmando, abrindo-a devagar. Lá está ela (Tinha esperado uma semana desde que falaram que me mandariam): Um quilo de farinha, farinha de verdade, não essas coisas que vendem aqui. Esta seria a primeira vez em meses que eu comeria algo que veio de casa.

Fechei os olhos e com carinho pensei de novo: Estou em casa. Eu estava lá. Sentada à mesa de madeira da varanda no sítio da vovó, esperando o almoço sair, o barulho de galinhas ao fundo… a minha bisa pedindo para eu fazer alguma coisa quase sempre impossível, meu biso todo de branco esperando com tanta paciência… De um lado a outro, a vovó levava as panelas quentes, o cheiro de peixe frito que ela sempre fazia a meu modo.

Lembrei do calor daquele lugar, daquela memória. Lá era quente e não somente pelo sol que tem me feito falta ardendo na pele. Abro os olhos marejados. Mesmo que seja longe e difícil ir para casa, eles sempre dão um jeito de me fazer voltar.