Julia Nunes Elias

Os olhos verdes para cima e para baixo acompanhados da boca que se move, como se fossem guiados por um mesmo ritmo, formam as mais variadas e  engraçadas expressões de Julia Nunes Elias que “quando sustar” já te fez rir. 

       A Timotense, desde nova foi despachada pro mundo. Aos 13 anos já sonhava grande e sabia com certeza  “ eu quero morar fora,  eu quero muito ir embora”.  Queria ser atleta fora do país, me conta com os olhos brilhando, e a mão apertada de lembrar desse passado, não tão distante.  O sonho não aconteceu, mas com certeza abriu novos caminhos.

    “Vou estudar a área de marketing, publicidade e comunicação, posso fazer isso na minha cidade mesmo ” dizia a Julia vestibulanda e logo em seguida fazia malas para vir a Viçosa cursar Química.  A decisão de permanecer na sua cidade, de fazer particular e de cursar Marketing veio em contraponto á aprovação no SISU (sistema de seleção unificada) para graduar sobre a sua matéria favorita do ensino médio e as falas de ‘Dona Patrícia’ que com convicção insistiu “vai conhecer um pouco pra você saber como é que é” a trouxeram até aqui.

    A, então, feliz “caloura da química” trilhou a mudança de profissão a cada matéria do ciclo básico do curso. Engenharia de alimentos foi o próximo da lista que a levou diretamente ao  “E SE… eu fizer cursinho pra Medicina?” e então…

.PANDEMIA. 

    Deixou de precisar passar no vestibular para precisar sobreviver física e mentalmente ao cenário em que se encontrava. 

   “Me sentia sozinha” mesmo com todos que a rodeavam. Foi criada por mulheres  fortes, então assim também se tornou. O assunto fez com que seu olhar baixasse e procurasse as mãos ao desabafar “eu não sabia como ser frágil, não havia espaço para ser vulneravel”. No momento onde o mundo mais falou sobre medo, Júlia escondeu o seu,  passou pela mudança de curso,  mudança da vida como conhecia e pela mudança de um relacionamento que ‘daria em casamento’ para ‘solteira’ e só, deixada inclusive por si mesma. 

 “eu não sabia quem eu era. eu fiquei tanto tempo vivendo para ele que eu me deixei ir, passei a gostar do que ele gostava e fazer o que ele fazia e no fim eu não sabia quem eu era, o que eu gostava e queria…” 

  Sinto meu corpo doer bem lá no fundo, ao ouvir a voz que já está mais baixa ressoando cada uma dessas palavras e ao completarem a frase inteira concluímos no espaço de silêncio “teve que se reconstruir”. Não a conheci antes, mas posso dizer que fez um excelente trabalho ao se redescobrir.

     Nossa mineira, que já foi caloura das exatas, engenharias, novata no cursinho,  agora uma excelentíssima caloura de Comunicação Social – jornalismo é também muito além de seu histórico e basta conviver um pouquinho com ela que “quando susta” já está encantada. 

    Carismática e criativa, ela ama o mundo do cinema e dos jogos e atualmente é administradora da torcida feminina de LOL ( jogo de RPG, League of Legendas) onde pode exercer uma de suas facilidades; liderar. Ela também canta como um hobby particular e usa de sua escrita para os projetos  que faz parte, além claro de desabafos e terapia pessoal. Ser dona de muitos talentos abre o direito de desgostar de alguns pontos da vida “ odeio usar calça jeans,  acordar cedo e ser contrariada” assume com um tom de humor.  Ri e como quem pensa  ‘é meu direito não gostar de coisas’ . 

     O que era pra ser um café, “quando sustei” virou um almoço, sol e muita surpresa. No meio do pensamento, recebo a resposta de uma das perguntas que já havia soltado no ar. Quase que precisando contar pra não esquecer nenhum dos muitos começa “ sonho em ser mãe, sonho em ter filhos, casar, formar, sonho em morar fora do Brasil . . . sonho até em ter um sitiozinho sabe?”  

   Julia com seus 23 anos vive muito, sonha muito e é muito, principalmente muito a se conhecer.  Estou sentada aqui a alguns bons minutos ou horas e nunca sei prever qual será o próximo ponto. Precisamos de mais futuras  jornalistas assim, com bagagem de mundo, alguns “ fundos do poço”, redescobertas, histórias, viagens e vontades… fomos interrompidas, precisamos parar por aqui. esse perfil ficará incompleto não somente pela falta de tempo de conversa mas sinceramente porque nem com o dobro de tempo eu conseguiria  descrever alguém tão completo.