Quem tem menos de 40 anos provavelmente não viu o trem passar em Viçosa. Nossa geração não conhece o som metálico do atrito das rodas com os trilhos, nem o agudo e curto silvo do apito do condutor avisando o momento da partida do trem na estação. Essas memórias pertencem a Edvaldo Ferreira dos Santos ou Vado da Rua Santana. Para ele, a ferrovia é mais do que memórias, é uma paixão que o acompanhou ao longo de toda a vida.
Nascido em 1956, cresceu em berço ferroviário, filho de um pai também ferroviário que influenciou seu destino. Vez e outra, é convidado para contar sua história como artífice de manutenção da linha férrea, o que sempre faz com muito orgulho, inclusive se caracterizando como um trabalhador daquela época, com direito a chapéu e gravata de maquinista.
Vado começou sua carreira em São Geraldo e também atuou no Espírito Santo. A privatização da RFFSA em 1996 o levou a trabalhar na Ferrovia Centro Atlântica, propriedade da Vale, até sua aposentadoria em 2004. Sua paixão, porém, não se aposentou. Ele se uniu a outros entusiastas para resgatar a importância da ferrovia na região, o que considera um projeto de vida.
Não bastasse o pai e alguns de seus tios trabalharem na via permanente, toda a sua família morava, literalmente, ao lado da linha, na Rua Santana, nº 650. Pela janela da casa, gostava de ver os vagões passarem. Viu Maria Fumaça, viu locomotiva movida a diesel e até pegou carona de tabela quando trens passavam lentamente.
Vado também viu o desenvolvimento chegar. Máquinas e materiais de construção chegando de trem no campus da UFV… Vagões que traziam artistas, filmes e até circo… Em algumas ocasiões, o trem era tão grande que dividia a cidade ao meio.
Embora a ferrovia tenha sido desativada em Viçosa nos anos 90, Vado ainda alimenta a esperança de trazer o trem de volta, quem sabe um trem turístico. Sua história é uma recordação viva do papel da ferrovia na formação da cidade, uma história que merece ser mantida viva para as gerações futuras.