Não sei dizer em qual momento eu comecei a valorizar tanto o ato de registrar acontecimentos, mas isso, de alguma forma, se tornou parte de quem eu sou. Costumo não me prender a apenas um modo de registro e assim, tento colecionar lembranças de todas as formas. Comecei a refletir sobre isso por causa de um exercício proposto em um projeto de extensão do qual faço parte, e agora, me encontro sentada em minha escrivaninha e diante da única foto de minha avó que tenho aqui comigo.
A ideia da atividade era revisitar alguma lembrança para desenvolver um ensaio. “Com certeza esse texto será sobre vovó!”. Como não seria? Quando eu penso na palavra “saudade” vejo Dona Geralda em seu quartinho de costura. Passei toda a infância e grande parte da adolescência morando na casa dela por causa do trabalho da minha mãe, e ainda hoje, mesmo depois de tanto tempo, me causa certa estranheza saber que não poderei me sentar diariamente com minha avó para tomar café e conversar.
Uma das primeiras coisas que eu apresento alegremente a todos que visitam meu quarto aqui em Viçosa é essa minha foto com ela, em algum aniversário meu. Dois, três anos? Apesar de não conseguir lembrar desse detalhe com clareza, tenho um imenso carinho pelo registro. Agora, olho para imagem, tento me concentrar em alguma lembrança para contar e sinto uma enorme inquietação por não conseguir escolher entre tantos momentos marcantes que já vivenciei ao lado dela. Uma frustração por não ter seus sábios conselhos para me nortear nessa nova fase da minha vida.
Que angústia saber que esse porta-retrato é o único registro físico que tenho de Dona Geralda, e que eu não posso simplesmente viajar de volta para minha cidade e tirar outras fotos, gravar vídeos ou algum áudio de sua risada tão marcante, porque ela já não está mais em seu quartinho de costura me esperando pra tomar café e conversar.
Lembro-me nitidamente desses momentos que passamos juntas: Ela sempre tentando me ensinar algum tipo de arte ou alguma receita nova; Como foi fácil escrever uma crônica sobre sua infância para um trabalho de escola (Dona Geralda adorava contar histórias sobre o seu passado). Apesar disso, contemplar que não tenho quase nenhuma prova de que isso aconteceu, que ela esteve aqui, e perceber a ausência de registros de uma época tão diferente da minha vida, me causa uma imensa aflição. E então, eu temo pelos momentos em que essas lembranças começarão a se perder. O instante em que elas deixarão de ser tão nítidas. E aqui comigo, terei apenas essa foto.
Oi Cibelle que texto maravilhoso! Consegui “enxergar”a sua avó mesmo sem ter a conhecido , texto assim , com certeza guardarão por muito tempo essa preciosidade que só a gente entende
Grande abraço
Sou um pouco da época onde registros fotográficos eram escassos. O que existia, e eram muito bons, eram os relatos, nos mínimos detalhes, dos locais, experiências e sentimentos.
Escreva e guarde. O que está registrado no seu coração e lembrança passará a existir para quem se interessar.
Muito boa! Parabéns.