Summary
Observo mais uma vez aquela casa antes de ir embora. Casa. Parece tão incompleto chamar só assim o que foi sempre a "casa de vovó"
Por Kamily Oliveira
Passo em frente à casa verde com grades nas janelas e portão amarelo, automaticamente sinto a necessidade de ir até lá. Então, a realidade me atropela e percebo que não sei mais quem mora ali.
Vejo-me criança, chegando da escola, cansada, após subir aquele morro tão alto. Paro em frente à casa e retomo o fôlego, não alcanço a janela, fico na ponta do pé. “Vó!”, espero aparecer um rosto enrugado. Tomo a benção e ela convida para entrar. Entro.
A sala da casa de vovó sempre me trouxe certo conforto, a decoração composta basicamente por imagens de santos e fotos de netos demonstrava o tipo de avó que ela era.
“Tá com fome?”, ela mal espera a resposta antes de ir para a cozinha. Vovó Donana, como sempre a chamei, nunca foi uma cozinheira de mão-cheia, mas ai de você se não aceitar comer alguma coisa quando ela oferece (e ela sempre oferece!).
Distraio-me com alguma novela mexicana na TV e ela chega com um prato de arroz e batata frita, acompanhado por um copo de suco de pacotinho. Fico lá até meus pais chegarem e me levarem para casa. Enquanto espero, fazemos companhia uma à outra e as novelas vão passando, assim como o tempo.
Observo mais uma vez aquela casa antes de ir embora. Casa. Parece tão incompleto chamar só assim o que foi sempre a “casa de vovó”. Agora é só mais uma casa da rua. Possui a mesma cor, a mesma janela, mas não tem mais a mesma pessoa atrás dela.