Tarde de uma quarta-feira que já precede o frio típico do outono. O sol gelado reflete os olhos cor de mel e o cabelo curto num coque meio solto. A voz calma e serena contrasta com a zoeira dos pássaros, o fundo ideal para uma boa conversa de banco. O sotaque do sul de Minas entrega: muitas horas de viagem até aqui. Os olhos que mais se direcionam para o céu do que para o prédio espelhado à nossa frente me chama a atenção: Por quê esse fascínio pelo céu? “Meu sonho é pilotar avião”. Já andou? Não, mas sonho é sonho e ponto. Sua cor? Azul do céu. Azul do mar. Azul de liberdade. As lentes da câmera da Nikon, que a acompanham assim como seu óculos escuros, denotam seu olhar sobre o mundo: ela observa, registra, fotografa com o olhar.
O vento frio a uma blusa de distância balança os fios soltos do seu cabelo cacheado enquanto ela me diz o quanto se interessa por política. Como Maquiavel dizia: téchne, a arte da política. E também por tantas outras: música, cinema, literatura. A arte de viver: testar possibilidades, se aventurar na natureza, ser um “peixe fora d’água”. Com 21 anos, ela já morou em outros lugares, mas de algum modo a UFV (Universidade Federal de Viçosa) se tornou seu lar; gosta do gramado, da beleza e diz com palavras bonitas: “cativante e fascinante”.
Nessa altura do campeonato, você nem deve se lembrar que não mencionei o nome dela, escrito no cordão de ouro que brilhava: Fátima. Limito-me em dizer que ela sorri, um sorriso leve de quem tem conversa por pelo menos mais duas horas ou três. Sorri de mansinho, pensa e se perde no olhar; sorri com os olhos castanhos claros. Ela é aquela que quer voar.