Chego na faculdade, frio, calor, chuva, isso não importa, existe uma repetição que me persegue:
– Cala a boca, Igor.
É o que eu escuto quando o encontro na sala ou nas quatro pilastras, depende do que combinamos no dia. Reviro os olhos em resposta e, dependendo do meu humor, retribuo a ofensa ou só dou risada e o cumprimento. Neste momento, observo mais um padrão, as camisas de time. Barcelona, Liverpool, Vasco, Argentina e Portugal são as que me lembro de cabeça. E claro, ele usa um chapéu do Cruzeiro quando lhe convém. Junte tudo isso com óculos escuros e você terá um estilo do jeito Gabriel de ser.Gabriel Fernandes Victor (sim, Victor é o sobrenome da sua família e não um segundo nome, lide com isso), é um mineiro orgulhoso, principalmente quando eu digo que São Paulo é melhor do que Minas. Como as camisas denunciam, ele é obcecado por futebol, mas como nasceu com o dom da escrita e não da bola, veio para comunicação para se tornar um jornalista esportivo, aquele repórter raiz mesmo, que tem o privilégio de ficar perto dos maiores craques da atualidade. Mas às vezes eu tenho a sensação de que ele só quer ser jornalista para entrevistar “ele”, o homem que fez Gabriel cometer o maior crime de torcedor brasileiro: torcer para a Argentina em uma Copa do Mundo. É em homenagem a “ele” a tatuagem no braço de “D10S”. É para “ele” as saudações quando suas fotos aparecem nas aulas. O homem que fez Gabriel amar o futebol: Lionel Andrés Messi, ou “o maior jogador de todos os tempos”.
Para equilibrar a balança por ser fã de um dos maiores vencedores de todos os tempos, ele torce para o Vasco, que não ganha nada de relevante desde a Copa do Brasil de 2011 (não Gabriel, campeonato carioca não conta), e desde então só vem gerando decepção. Mas isso não desanima esse vascaíno, que continuou fiel mesmo depois das quedas de divisão e outros vexames.E assim chegamos na que eu considero a mais importante constante em sua vida: a sua resiliência. Sonhar grande sempre foi regra, assim como lidar com as consequências das suas escolhas. Um exemplo disso é quando ele conseguiu sua vaga para fazer o ensino médio no Instituto Federal de Diamantina, cidade localizada a mais de 100 km de distância de sua cidade natal, Itamarandiba. E ele partiu, e foi essa escolha que o fez chegar aqui na UFV, mas nem tudo são flores, já que essa escolha também o fez ser chamado de “Vagabundo” pelos seus parentes de Diamantina, e principalmente, fez ele ficar distante de sua amada mãe.
Existem certas coisas que são passadas por genética mesmo, e todas as características relativas à perseverança que Gabriel possui foram herdadas de sua mãe, Mária (“presta atenção no acento para acertar a pronúncia de seu nome, ela merece”). Criou seu filho praticamente sozinha, e era nele que ela pensava toda vez que saía para trabalhar de madrugada, mais uma constante, que eu tenho certeza que se repete com ele pensando nela todo dia antes de ir pra faculdade.