Olho para todas as caixas e móveis desmontados e fecho os olhos tentando lembrar de quantos sonhos foram feitos e realizados ali, cada móvel foi comprado porque eu tinha um projeto de uma casa que não era minha, e agora não mais me pertence. Desorganização e cansaço resumem o processo, passo o dia todo carregando caixas e no fim do dia, já na “casa nova” olho para tudo sem forma e não me reconheço ali, então um sentimento de frustração me toma, me consome e quase me para, até que eu sinto fome e decido procurar um mercado em um bairro onde eu não nada conheço ainda.
No portão da rua, a nova vizinha me dá as boas vindas e me oferece ajuda caso precise. Ando um pouco e acho no mercadinho um senhor simpático que me avisa onde posso encontrar pão francês naquele horário, caminho mais 200 metros e a dona da padaria me mostra um atalho para chegar mais rápido ao meu novo endereço. De volta, vejo ainda meus móveis sem lugar, mas vejo os cachorros felizes como nunca, então projeto colocar uma rede ali para ficar perto deles.
De repente um lugar para deitar e a alegria dos que moram comigo me fazem sussurrar: “eu mudei demais”! Então sonhos voltam a ser feitos, os móveis ainda desmontados passam a caber direitinho. Lembro-me que montar uma casa e começar a sonhar com um casamento foi uma grande mudança da pessoa desapegada que eu era há tempos. O bairro novo já parece não ser tão ruim e os meus sonhos começam a caber perfeitamente ali. Eu mudei demais, já mudei de novo e espero continuar mudando, tudo isso por dentro já que externamente estou exausta e concentrada em eliminar todas essas caixas…