A vida de Madame Satã
Por André Gomes e Yuri Tomaz
Transformista e figura peculiar para se pensar a boemia carioca do século XX, Madame Satã (1900-76) foi a representação de vozes subalternas na Lapa, Zona Central do Rio de Janeiro, ao usar o corpo e a voz como instrumentos políticos de denúncia e subversão de ordem. Odiada pela burguesia hegemônica e amada por seus simpatizantes, a artista representava as bichas pretas da época ao demarcar espaços socioculturais distintos a partir de intersecções relacionadas ao gênero, raça e classe. Os crimes cometidos por Madame Satã – ela se orgulhava disso – refletem o seu modo de demarcar um lugar periférico e a sua trajetória diante das lutas e pautas censuradas dos sujeitos e sujeitas, sobretudo os homoafetivos, profissionais do sexo e trabalhadores da noite de forma geral. A personagem elencada teve – e tem – sua vida tematizada em produções audiovisuais, performances teatrais, livros e em artigos científicos, além de ser referência para travestis com capital de visibilidade, como Luana Muniz, por exemplo.
Fonte: Green, James N. (2003). O Pasquim e Madame Satã, a “rainha” negra da boemia brasileira. Revista Topoi. vol. 4(7).