Os dados que poderão salvar vidas

Os dados que poderão salvar vidas

Após o rompimento das barragens em Mariana e Brumadinho em 2015 e 2019, respectivamente, em torno de 300 vidas foram perdidas, sendo esta última, a mais drástica em relação à morte das vítimas. Construídas para serem barreiras artificiais de água, seriam responsáveis pela contenção e acumulação de substâncias para beneficiamento da indústria de minérios. Contudo, na verdade, tornam-se uma bomba que pode explodir a qualquer momento. 

Em 2019, a empresa Vale responsabilizou-se pelo planejamento e divulgação de um mapa digital com as Zonas de Autossalvamento das 64 barragens sob sua administração, sendo que 59 se encontram em Minas Gerais. Dessa forma, esses mapas ajudariam no encontro de rotas de fuga para moradores dos locais em caso de rompimento. Entretanto, essa divulgação nunca ocorreu. Um ano depois, em 2020, a equipe do Repórter Brasil teve acesso a todos esses mapas e planejamentos, em papéis, e por meio da tecnologia viabilizaram um mapa de fácil acesso e compreensão. 

Por meio da Lei de Acesso à Informação, a equipe conseguiu as cópias físicas dos mapas de inundação das barragens junto da Defesa Civil de Minas Gerais, sem cópias digitais, que inviabiliza e dificulta o acesso a esse tipo de documento por pessoas não residentes ou sem acesso à cidade de Belo Horizonte, onde fica a sede do órgão. Além deste órgão, a equipe esteve em contato com a própria mineradora Vale, professores e funcionários de uma das escolas que corre risco de ser atingida, entre outros personagens de cunho técnico. 

Toda e qualquer empresa responsável por barragens no país precisa elaborar um plano de emergência, contendo esse mapa de auto salvamento. Ainda assim, segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), a empresa não precisa disponibilizar esse documento para o grande público, mesmo que seja informação de domínio público. Logo, foi por meio dessa reportagem que esse tipo de informação veio à tona pela primeira vez no país.

Área mapeada na região de Brumadinho/MG – Reprodução

O mapa contém um compilado de dados como: número de municípios a serem afetados, número de edificações públicas e escolas a serem atingidas, mapa da área a ser afetada e número de barragens em risco. Além disso, relembra o tamanho da área de destruição da tragédia de Brumadinho e como ela se assemelha, quase em sua totalidade, com o mapa e os recentes dados adquiridos. 

Área atingida pela lama em Brumadinho/MG (esquerda) e área mapeada e prevista pelos documentos da Vale (direita) – Reprodução/Repórter Brasil

Além disso, atrelado ao mapa, no corpo do texto da matéria, fazem um compilado numérico de quantas edificações seriam atingidas nas principais cidades, dentre um total de 17 municípios. Segundo os dados coletados, 10 escolas e mais de 15 mil prédios públicos poderiam ficar embaixo de lama em menos de trinta minutos após um suposto rompimento. 

Escolas em destaque que seriam atingidas pelos rejeitos da barragem, em caso de rompimento, próximo a Santa Bárbara/MG

Unindo a tecnologia do Google Maps e os mapas físicos de auto salvamento, essa excelente, precisa e necessária coleta e apuração de dados foi realizada pela jornalista Amanda Rossi e pelo pesquisador e geógrafo Hugo Nicolau, sendo este último encarregado, principalmente, pela viabilização do mapa digital. Se esse conteúdo nunca tivesse sido produzido, milhares de famílias talvez morreriam antes mesmo de saber que dormiram e acordaram sob o caminho da lama durante anos.

Exercício feito por Jéssica Morgenia e Letícia Passos

Jéssica Morgenia

Estudante de Comunicação Social - Jornalismo UFV

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