A pandemia dentro das aldeias indígenas
Quase um ano atrás, a realidade da pandemia estava atingindo a maioria dos brasileiros, que até então, acreditavam que a quarentena duraria apenas alguns meses. Não havia ainda muita perspectiva, em maio de 2020, até onde o vírus conseguiria chegar e até quando duraria.
A preocupação com os locais sem estrutura médica, o caos na busca por leitos de UTIs, a taxa de ocupação nos hospitais… todas essas difíceis realidades estavam sendo vividas. Quanto tempo o vírus demoraria a chegar nas aldeias indígenas? Nos povos que, teoricamente, vivem isolados? Qual seria a resistência? E o suporte médico? Veríamos uma alta taxa de mortalidade nos indígenas pelo Brasil, ou não?
O InfoAmazônia, veículo independente, publicou em maio de 2020, a reportagem “Distantes de UTIs e respiradores, indígenas da Amazônia tentam se blindar do vírus”. Utilizando dados e o que intitulam de geojornalismo da Amazônia, eles mapearam a distância entre as aldeias indígenas até os leitos de UTIs.
As informações foram levantadas a partir do cruzamento de dados da localização das aldeias indígenas disponibilizadas no Sistema de Cadastro de Aldeias (SisAldeia) da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) e do número de leitos que existem nos municípios ao redor, com base no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde do Ministério da Saúde.
A média da distância das aldeias da Amazônia Legal, é de 315 km de um leito de UTI do Sistema Único de Saúde (SUS). Mais da metade está a mais de 200km e 10% estão entre 700 km e 1.079 km. Isso tudo, levantado como uma distância linear, sem contar obstáculos e possíveis alterações na rota. Além disso, a dificuldade de locomoção dentro dessas terras é muito mais complicada e necessita de maior tempo.
Outro mapeamento foi a respeito da concentração dos respiradores. Quantos estavam disponíveis? Como seria o acesso? Mais da metade dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) da Amazônia Legal tem menos de 50 respiradores.
A maioria dos municípios da Amazônia não possuem nenhum respirador, o que ocasiona na necessidade de locomoção ainda maior dos indígenas, que precisam ir até municípios vizinhos em busca.
Todos esses levantamentos, dados e fundamentos no IBGE, trazem uma visão macro da situação para quem está de fora. Além disso, as exemplificações nos levam até histórias específicas de aldeias e indígenas que se encontram numa situação ainda pior do que a dos mapeamentos.
A necessidade do jornalismo de dados é de trazer a informação de forma direta e clara. Entender a preocupação e a realidade através dos números. Combinado com a humanização através das histórias que ilustram esses números, o leitor se informa e até se choca com um contexto que não esperava e que agora, não tem como contestar ele.
O InfoAmazônia tem como objetivo claro que “o cruzamento das notícias com os dados pretende melhorar a percepção sobre os desafios para a conservação da floresta”. Uma série de reportagens são feitas e que valem muito a pena serem lidas. Essa, em relação as aldeias indígenas e os leitos de UTI, busca mostrar para os leitores a enorme preocupação e zelo que precisamos ter na proteção deles e, sobretudo, no isolamento dessas aldeias durante a pandemia. Se dependerem de estrutura, de leitos de UTI, do transporte de uma aldeia até o hospital… o cenário pode se tornar ainda mais caótico.
Por Brenda Scota.