Conheça o cenário do turismo internacional no Brasil antes da pandemia

Conheça o cenário do turismo internacional no Brasil antes da pandemia

Por André Gomes, Brenda Scota e Yuri Tomaz

Dados de 2019 da Organização Mundial do Turismo mostram que a atividade turística é responsável por cerca de US$ 7,6 trilhões no mundo sendo, portanto, um dos setores que mais se destacam no cenário internacional e de elevada geração de emprego e renda. Dentre os países mais visitados no mundo de 2010 a 2019 estão a França, Espanha, Estados Unidos, China e Itália. De acordo com a planilha da receita cambial turística, os EUA é o país que contém a maior receita em bilhões desde 2010, além de ser o país que mais realiza eventos internacionais no mundo. 

Para o Prof. Magnus Luiz Emmendoerfer, do Departamento de Administração e Contabilidade da Universidade Federal de Viçosa, coordenador do Grupo de Pesquisa em Gestão e Desenvolvimento de Territórios Criativos, turismo é uma atividade onde há fluxo de pessoas para determinado local e ocorre interações e compartilhamento de experiências entre turistas e comunidade local.

O Brasil, apesar de dispor de condições fantásticas para cativar os turistas, principalmente devido a sua riqueza paisagística e recursos naturais, ocupa a 49ª posição dos destinos mais visitados no mundo. Mas o que faziam esses turistas no Brasil antes da pandemia? Como era o cenário, para onde vinham e quem eram esses turistas?

Análises de planilhas do Ministério do Turismo mostram que a nacionalidade dos turistas que mais viajavam para o Brasil nos últimos cinco anos eram argentinos ou tinham a Argentina como país de residência. Diversos relatórios e trabalhos científicos apontam que nas últimas três décadas do século XX o modelo ‘sol e praia’ se consolidou fortemente como o motivo de viagem mais evidente. E isso é verdade! As planilhas revelam que a maioria dos turistas internacionais tinham como motivo da viagem o lazer e a motivação principal para escolher o Brasil era desfrutar do modelo ‘sol e praia’. Além disso, as vias de acesso mais utilizadas é a aérea e a terrestre.

O mapa, construído pelos redatores da reportagem, permite ilustrar como era a distribuição dos turistas internacionais por destinos brasileiros. O cruzamento dos dados de relatórios e planilhas anteriores evidenciou que o turismo de lazer concentram-se nas regiões onde são possíveis desfrutar do ‘sol e praia’, tendo Rio de Janeiro–RJ (29,7%) como principal destino, seguido de Florianópolis–SC (17,1%) e Foz do Iguaçu–PR (12,9%), enquanto São Paulo–SP permaneceu estável de 2014 a 2019 com 43,8% e Armação de Búzios–RJ passou a ocupar 3,4%.

Os dados revelam que antes da pandemia do Covid-19 a região sudeste do Brasil concentrava o maior número de leitos, restaurantes, bares e similares e detinha o maior número de prestadores de serviço turístico em organização de eventos (congressos, convenções e congêneres) cadastrados no Ministério do Turismo. 

Em comparação aos dados de 2018, os dados colhidos pela equipe em 2021, de acordo com o estudo de demanda turística internacional e com base no ano de 2020, o novo levantamento revela que:

  • O número de restaurantes, bares e similares cadastrados no MTur aumentou em todos os destinos turísticos mais visitados do Brasil;
  • O número de prestadoras de serviços turísticos na organização de eventos, congressos ou convenções também mostrou aumento em todos os destinos, de acordo com o mapa de destinos mais visitados;
  • Os números de parques temáticos cadastrados no MTur no Rio Grande do Norte, Amazonas e Minas Gerais mantiveram estável em 2018 e 2019;
  • O número de parques temáticos em Pernambuco caiu pela metade em 2019, com relação a 2018;
  • O número de leitos em São Paulo e Minas Gerais aumentou drasticamente de 2018 a 2019;

Para o Prof. Emmendoerfer, a concentração desses serviços na região Sudeste está associada à formação histórica do Brasil, onde o Sudeste brasileiro foi escolhido como área mais favorável, no primeiro momento, em função de sua variedade ambiental (térmica e geográfica), águas termais e as riquezas minerais chamar atenção. 

O pesquisador afirma que o motivo para que o turismo de ‘sol e praia’ se constitua mais fortemente no Brasil está ligado à beleza natural, diversidade ambiental e aos recursos litorâneos. Salienta que a importância da atividade turística para o Brasil é fruto de diferentes atrativos e pluralidade de oportunidades, mas que é necessário limite para que os recursos não sejam explorados apenas para o desenvolvimento econômico.

Magnus Luiz Emmendoerfer é Pós-doutor em Administração Pública e em Turismo. Realiza pesquisa na área de Gestão e Políticas Públicas de Turismo (criativo). Entrevista concedida em 19 de maio de 2021. Todos os direitos autorais são reservados para uso exclusivo dessa reportagem.

Hora certa para viajar

Os redatores dessa reportagem entraram em contato com uma ex-residente que morou no país por 8 anos. Raquel Agra, 41, é de Portugal e atualmente mora na Inglaterra. A bióloga residiu no Brasil entre de 2012 a 2020 e desde o início do isolamento social, que afetou diretamente o setor turístico, não retornou. 

Como meio de transporte, Agra sempre utilizou a via aérea, tanto para a chegada e saída do Brasil quanto para o deslocamento no interior do país. Apesar de o motivo principal de suas viagens serem a trabalho, o depoimento da ex-residente revela que sempre que tinha oportunidades desfrutava dos recursos naturais do país para além do seu papel como bióloga, o que são grandes motivos e opções para o lazer internacional e possibilidades de unir o trabalho ao divertimento.

Apesar de ter parentes no Brasil, quando o motivo era viagem a trabalho Agra não tinha outra escolha a não ser se hospedar em hotéis e flats. Isso evidencia que não só o turismo internacional concentra os meios de hospedagens nesses espaços como também é reflexo do turismo interno (de uma região do país para outra).

Quando perguntada sobre os desafios que a pandemia trouxe para os turistas, considerando que houveram mudanças significativas em função dos isolamentos, a bióloga disse que a insegurança e a forma como a doença vem se disseminando no Brasil são as principais preocupações.

Raquel Agra é bióloga e ex-residente no Brasil. Visitou 24 estados brasileiros entre 2012 e 2020. O vídeo foi encaminhado à equipe de reportagem no dia 18 de maio de 2021. Todos os direitos autorais são reservados para uso exclusivo dessa reportagem.
Imagens: Acervo pessoal.

Emmendoerfer afirmou a nossa equipe que os efeitos e impactos da pandemia no turismo revela vulnerabilidades e limitações do setor. Para o docente, a assistência social, educação patrimonial, saúde, política e outras esferas precisam andar juntas, além das parcerias do setor público e privado. 

Algumas dicas para o cenário após a pandemia foram dadas pelo especialista, tanto para os turistas quanto para os planejadores.

  • Verificar se no destino tem uma estrutura de saúde adequada para atendimento da população local e aos turistas;
  • Realizar turismo de forma consciente, saudável e sustentável;
  • Preparação e apoio por parte dos planejadores;
  • Não tornar o turismo massificado. Repensar a capacidade para não superlotar o espaço;
  • Novas agendas de políticas públicas que trabalhe o saneamento, saúde e educação alinhadas ao turismo;
  • Modais de transporte diversificados;
  • Integração.

Assista a entrevista na íntergra com o Prof. Magnus Luiz Emmendoerfer aqui.

E depois da pandemia, quais motivos para visitar o Brasil? Agra afirma que o país é um dos mais biodiversos do mundo e riquíssimos em termos de recursos naturais e culturais.

É um país que tem uma grande diversidade cultural. Uma grande musicalidade, diversidade de sons e práticas culturais, folclóricas e religiosas também. Eu acho que o Brasil é um caldeirão de experiências.

Raquel Agra

Andre Felipe Gomes

Um comentário em “Conheça o cenário do turismo internacional no Brasil antes da pandemia

  1. Parabéns aos organizadore(a)s deste estudo. Necessário e muito bem informativo, inclusive para nós, pesquisadores multidisciplinares, bem como o próprio turismo.

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