Ouro dos catadores

Ouro dos catadores

Apesar da importância ecológica e social, ainda falta investimento na coleta seletiva de Viçosa.

Arlindo Neves é catador desde que se entende como gente. Com 48 anos, seguiu os passos do pai e começou a catar lixo com 5 anos de idade. Casado a 22 anos e pai de um casal, Arlindo deve “tudo ao lixo”. Com ele conquistou o sonho da casa própria, e tem orgulho ao afirmar que é capaz de prover sua família. Mas não foi fácil, acordando todos os dias as 5 da manhã e voltando às 10 da noite, foi necessária muita perseverança.

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Carrinho utilizado por um dos catadores, na sede da ACAT. (Reprodução: Projeto Interação)

Durante grande parte da sua vida trabalhou sozinho, e nos últimos anos abraçou a causa da Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Viçosa – ACAT. Localizada no galpão da Sociedade São Vicente de Paula, no final da rua Santana, a ACAT conta com 20 associados, buscando materiais recicláveis nas ruas de Viçosa, contribuindo para a limpeza da cidade. Além da ACAT, existe outra associação em Viçosa, a Associação dos Trabalhadores da Usina de Triagem e Reciclagem de Viçosa – ACAMARE. Ambas são independentes, tendo sua própria forma de se autogerir.

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Esteira onde ocorre a triagem dos resíduos sólidos, na ACAMARE (Reprodução: Projeto Interação)

Fórum do lixo

Para facilitar a conversa em relação a coleta de lixo, existe o Fórum Municipal Lixo e Cidadania Viçosa – FLMC-Viçosa, que envolve a participação de representantes do SAAE, que possui contrato com as duas associações. A empresa cede dois caminhões para os catadores, além de pagar pela prestação de serviço, de acordo com a quantidade de rejeitos que é coletada. Apesar do diálogo ter melhorado, ainda existe atrito entre catadores e o SAAE.

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Primeira sessão do Fórum do Lixo, em 2017 (Reprodução: Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Federal de Viçosa)

Embates no poder público

Um dos empecilhos é a possibilidade da ACAT perder o espaço em que opera. O galpão na rua Santana está próximo do fim do contrato de locação, com grandes chances de não ser renovado. Para os dirigentes, o ideal seria que conseguissem manter o local até que se efetivasse o projeto da Prefeitura de Viçosa em relação a construção da Unidade de Triagem e Compostagem – UTC.

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Catadores em 2018, Arlindo está no meio, de regata vermelha. (Reprodução: Projeto Interação)

Do lixo aos caos, do caos ao lixo, um pouco de alento

Com um trabalho exigente, os catadores ainda lutam para melhorar as condições de suas atividades. Mas há esperança; “Tudo que eu tenho foi tirado daqui, do lixo. Meu sustento, a minha moradia, a minha amizade. Eu tenho moral e honra de dizer sobre isso. Não troco esse serviço por nada. Enquanto viver quero ter o prazer de trabalhar” ressalta e finaliza Arlindo.

Nota: Matéria originalmente escrita em setembro de 2019 para veículo o impresso Outrolhar. Na matéria original, a única foto que acompanhava o texto era o do carrinho do catador. De lá pra cá, com o surto mundial de COVID-19, a situação dos catadores regrediu mais uma vez. Agora o risco é de Viçosa perder o aterro municipal, colocando esses profissionais em situação de vulnerabilidade.

por: Marco Vieira

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