Ouro dos catadores
Apesar da importância ecológica e social, ainda falta investimento na coleta seletiva de Viçosa.
Arlindo Neves é catador desde que se entende como gente. Com 48 anos, seguiu os passos do pai e começou a catar lixo com 5 anos de idade. Casado a 22 anos e pai de um casal, Arlindo deve “tudo ao lixo”. Com ele conquistou o sonho da casa própria, e tem orgulho ao afirmar que é capaz de prover sua família. Mas não foi fácil, acordando todos os dias as 5 da manhã e voltando às 10 da noite, foi necessária muita perseverança.
Durante grande parte da sua vida trabalhou sozinho, e nos últimos anos abraçou a causa da Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Viçosa – ACAT. Localizada no galpão da Sociedade São Vicente de Paula, no final da rua Santana, a ACAT conta com 20 associados, buscando materiais recicláveis nas ruas de Viçosa, contribuindo para a limpeza da cidade. Além da ACAT, existe outra associação em Viçosa, a Associação dos Trabalhadores da Usina de Triagem e Reciclagem de Viçosa – ACAMARE. Ambas são independentes, tendo sua própria forma de se autogerir.
Fórum do lixo
Para facilitar a conversa em relação a coleta de lixo, existe o Fórum Municipal Lixo e Cidadania Viçosa – FLMC-Viçosa, que envolve a participação de representantes do SAAE, que possui contrato com as duas associações. A empresa cede dois caminhões para os catadores, além de pagar pela prestação de serviço, de acordo com a quantidade de rejeitos que é coletada. Apesar do diálogo ter melhorado, ainda existe atrito entre catadores e o SAAE.
Embates no poder público
Um dos empecilhos é a possibilidade da ACAT perder o espaço em que opera. O galpão na rua Santana está próximo do fim do contrato de locação, com grandes chances de não ser renovado. Para os dirigentes, o ideal seria que conseguissem manter o local até que se efetivasse o projeto da Prefeitura de Viçosa em relação a construção da Unidade de Triagem e Compostagem – UTC.
Do lixo aos caos, do caos ao lixo, um pouco de alento
Com um trabalho exigente, os catadores ainda lutam para melhorar as condições de suas atividades. Mas há esperança; “Tudo que eu tenho foi tirado daqui, do lixo. Meu sustento, a minha moradia, a minha amizade. Eu tenho moral e honra de dizer sobre isso. Não troco esse serviço por nada. Enquanto viver quero ter o prazer de trabalhar” ressalta e finaliza Arlindo.
Nota: Matéria originalmente escrita em setembro de 2019 para veículo o impresso Outrolhar. Na matéria original, a única foto que acompanhava o texto era o do carrinho do catador. De lá pra cá, com o surto mundial de COVID-19, a situação dos catadores regrediu mais uma vez. Agora o risco é de Viçosa perder o aterro municipal, colocando esses profissionais em situação de vulnerabilidade.
por: Marco Vieira