Por mais um besteirol na sua vida

Por mais um besteirol na sua vida

Ah, a Pandemia! esse período esquecido pelos deuses, essa terra de ninguém onde o surto é um grande ato de sanidade…

Envolto nesse caos, antigos problemas se tornam mais aparentes, o que na era da informação significa uma torrente de noticiais e dados capaz de intoxicar qualquer um.

Com isso, a cobrança por produtividade aparece em coisas triviais como “o que devo assistir”, e graças a essa culpa deixamos de lado obras que julgamos puramente escapistas por sua camada mais superficial, como o humor escatológico de South Park ou a fofura infantil de Steven Universe, sendo que possuem um discurso enraizado em cada escolha até em não se levarem tão a sério em seu exterior.

Uma mídia que aperfeiçoou essa técnica de se esconder discursos densos sob um véu de escapismo barato foram os animes, as pérolas nipônicas que estouraram como rosas em uma sociedade rígida e sufocante.

Indo desde de animes fofos e bobos com o objetivo de te fazer esquecer seu dia-a-dia a obras completamente densas com narrativas confusas para te fazer questionar.

E há aqueles que mesclam ambas as características, te vendendo no primeiro momento obras agitadas, coloridas e descompromissadas, enquanto deixam escapar pouco a pouco uma narrativa que diz muito sobre assuntos sérios e atuais.  E um Anime que marcou tanto a indústria Japonesa como a indústria ocidental foi Fooly Cooly.

Uma ode a descontração

A primeira coisa a ser dita sobre FLCL é que foi produzido pela Gainax em 2000, um estúdio de renome que havia acabado de lançar Evangelion, uma obra que marcou todo o Mundo, desde de obras independentes até os Blockbusters estadunidenses, e nesse cenário eles começaram a produzir um anime menor, de apenas 6 episódios e ao contrário de seu irmão mais velho Fooly Cooly não se levava nem um pouco a sério, isso pode ser refletido em uma entrevista com seu diretor:

“[…] FLCL nunca precisaria ser tão sério como Evangelion. Mesmo quando você está estressado, você ainda come doces. Dessa forma, se tiver algo interessante passando na TV, você vai acabar assistindo. Não é só por que você está estressado que você precisa sentar abraçados em seus joelhos no canto do quarto. Eu queria refletir isso em FLCL”

Desde seu nome que não possui um significado real até o desprendimento em suas técnicas de animação com o único intuito de manter os telespectadores entretidos em uma viagem visual que vão de usarem um paginas de manga sem acabamento e ir passando os quadros com a câmera até utilizarem o estilo de South Park.

E mesmo nesse cenário de caos e entretenimento a história te conta sobre personagens quebrados, que se sentem abandonados e perdidos em uma narrativa completamente humana e pé no chão, que apesar de trágica e densa em momento nenhum deixa de ser cômica, divertida, leve e eletrizante em uma dança paradoxal e encantadora.

Quando se estiver estressado não se sinta culpado de comer doces ou assistir algo que pareça interessante por medo de não esta sendo produtivo. As vezes tudo que precisamos produzir é um pouco de diversão.

Matéria originalmente publicada na Revista Amplie

Joao Vitor Campos

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