Alta na Gasolina: um panorama sobre a variação no preço dos combustíveis em Viçosa durante a pandemia
Desde o começo da pandemia de COVID-19, março de 2020, o Brasil enfrenta um crescimento excessivo nos preços da gasolina e do etanol. Com diversos reajustes nos valores dos combustíveis durante a pandemia, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as altas em 12 meses foram de 33,05% no diesel e 39,6% na gasolina, referente à valorização para o consumidor. Já nas refinarias as altas são de 65,3% e 73,4%, respectivamente.
Já o preço do etanol, mesmo que a produção seja nacional, segue aumentando significativamente. Segundo o Índice de Preços Ticket Log, o valor médio do combustível é o que apresentou a maior alta em setembro, em comparativo com agosto o aumento foi de 4,11%.
Nesta terça-feira (26) um novo reajuste passou a valer para os combustíveis automotivos. A Petrobras anunciou o aumento de 7,04% no preço da gasolina e de 9,15% para o diesel em suas distribuidoras.
VIÇOSA
Na cidade de Viçosa, Minas Gerais, a alta dos combustíveis foi destaque. A partir de um levantamento realizado entre os dias 17 e 23 de outubro pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a cidade apresentou os preços mais altos da gasolina, do etanol e do diesel no estado. Os preços médios dos combustíveis foram, respectivamente, de R$ 6,982 – foi constatado posto que chegou a cobrar R$ 7,09 pela gasolina – de R$ 5,435 e de R$ 5,713 por litro.
Segundo análises de dados retirados do Portal Brasileiro de Dados Abertos o aumento dos preços dos combustíveis automotivos durante a pandemia e em relação a antes desta vêm aumentando significativamente.
O cruzamento dos dados das planilhas analisadas mostra que os valores dos preços sofreram variações ao longo do período em questão, porém, o ponto de maior destaque está ocorrendo no segundo semestre de 2021, o qual a alta está muito elevada e com tendência de subir.
Essa situação se aplica tanto ao valor de venda ao consumidor quanto ao valor de compra pelos postos na cidade de Viçosa. É importante destacar os dados referentes aos três últimos meses de 2020 e aos quatros primeiros meses de 2021 não foram fornecidos pelas tabelas analisadas.
Esse constante aumento no preço do combustível na cidade tem afetado e mudado a rotina não apenas de pessoas que utilizam o transporte particular para se locomover no dia a dia, mas, principalmente, para aqueles que usam os veículos como meio de trabalho. tem encontrado muita dificuldade em se manter com tantos reajustes.
Isabela Magno é motorista de aplicativo em Viçosa há um ano e conta que a alta no preço da gasolina tem sido um grande desafio e que tem impactado completamente o dia a dia, com as corridas e a diminuição significativa do lucro.
“Antes nós podíamos deslocar em lugares mais longos que ainda obtinha um lucro bom .. hoje pra poder ter uma margem de lucro maior temos que aguardar a corrida mais próximas possíveis pra poder está ganhando.” afirma.
Isabela Magno
Cleonice Bernardes também trabalha como motorista de aplicativo e, assim como Isabela, tem buscado alternativas para manter o trabalho.
“Aproveito toda oportunidade que tenho para fazer corridas, toda vez que tenho algo a fazer, para conciliar as duas coisas , entregas e compras.” destaca
Cleonice Bernardes
Ambas afirmaram que esse cenário tem se tornado insustentável e declaram que a expectativa é que o preço volte a cair nos próximos meses, pois, ao contrário, vai se tornar cada vez mais difícil manter o trabalho.
Por que os preços não param de subir?
Os preços dos combustíveis são definidos basicamente a partir do preço estabelecido pela Petrobras nas refinarias, dos tributos federais (PIS/Pasep, Cofins e Cide) e estadual (ICMS) e do custo de produção e revenda.
Os fatores atuais que influenciam diretamente o aumento constante do preço dos combustíveis são:
O dólar e o preço do combustível
Apesar de o Brasil ser um dos maiores produtores de petróleo do mundo, ainda há a necessidade de importação do produto refinado para atender à demanda local. Com isso, o valor do mercado do dólar está diretamente associado à alta dos combustíveis. Isto acontece porque o preço do petróleo depende do preço do barril no mercado internacional, o qual utiliza o dólar como moeda universal para estabelecer os preços do petróleo. O dólar é a moeda escolhida pois apresenta menos incertezas em relação às outras moedas.
“A Petrobras é um monopólio de mais de 95% do mercado, então o preço que ela coloca é o que vai vigorar no mercado. A precificação da Petrobras de uns anos para cá depende muito da precificação internacional do barril de petróleo. Ou seja, se tem uma variação lá fora, aqui a gente também vai responder a essa variação”.
Gabriel Eleto
Isso é o que explica Gabriel Eleto, diretor de projetos da EJESC (Empresa Júnior de Economia e Serviços de Consultoria, do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Viçosa-UFV).
Dessa forma, a variação cambial também é um fator para a oscilação dos preços, com isso, a desvalorização constante do real comparada ao dólar impulsiona o encarecimento dos preços dos combustíveis cada vez mais. Até o dia 22/10/2021 o dólar acumulava alta de 8,5% sobre o real.
Impostos
Os impostos sobre os combustíveis são:
- PIS PASEP e COFINS: referente ao pagamento de seguro-desemprego, abono e participação na receita de empresas privadas e públicas.
- CIDE: criado pela União, referente ao valor destinado a investimentos em projetos ambientais e de transporte relacionados à indústria de petróleo e gás.
- ICMS: imposto estadual criado sobre a circulação de produtos e prestação de serviços.
O ICMS é muito associado à alta dos preços dos combustíveis por ser um imposto que tem grande peso sobre o valor. De fato, o valor nominal do imposto pago por litro de combustível subiu, isso porque seu custo, usado como base de cálculo, cresceu. Porém, as alíquotas – percentual que será aplicado para o cálculo do valor de um tributo – são as mesmas em relação a antes da atual crise.
No final de setembro, a Petrobras informou que é responsável por apenas R$ 2 na composição de preços da gasolina e que o aumento de preços do combustível é de responsabilidade do governo.
No caso da gasolina, a divisão do valor é de 34% da Petrobras, em torno de 16,5% do custo do etanol anidro, 10,7% são da distribuição e revenda, 11,3% representam os tributos federais PIS/Pasep e Cofins e 27,7% o ICMS.
Preços dos biocombustíveis
Os biocombustíveis fazem parte da composição da gasolina e do diesel e, assim, influenciam fortemente nos preços finais destes. 27% do litro da gasolina corresponde ao etanol anidro e 10% do diesel é biodiesel.
O aumento dos preços dos biocombustíveis está diretamente relacionado aos efeitos climáticos adversos que o Brasil tem enfrentado. A falta de chuva e a ocorrência de geadas reduziram a produção das lavouras de cana-de-açúcar, matéria-prima do etanol anidro. As estiagens também dificultaram a produção da soja, usada na fabricação do biodiesel, além de estar mais cara devido à maior demanda.
Instabilidade política, econômica e inflação
As incertezas políticas que o Brasil vive durante o governo de Jair Bolsonaro têm se instalado cada vez mais, sendo vistas não mais como uma instabilidade, mas como um padrão.
Não basta o fato de que os brasileiros têm enfrentado a gravidade da pandemia de COVID-19 em um país marcado por um contexto socioeconômico de desigualdades extremas, preconceitos diários, pobreza e desemprego, ainda é necessário lidar com um governo que se mostra inapto à liderança de um país, tanto no social quanto no político e no econômico.
No contexto econômico, essa situação chegou aos olhos de países estrangeiros que passaram a ver o Brasil não mais como um emergente promissor, mas como um país de instabilidades que precisa oferecer mais para que invistam nele. As atitudes e falas de Bolsonaro instalam e mantêm a crise política econômica no país, o qual gera a falta de investimentos e a desvalorização cambial.
A inflação está diretamente ligada a esse contexto, como explica Gabriel:
“A instabilidade política do país é um fator importante e, também, a gasolina, pelo fato de que a nossa malha de transporte é principalmente rodoviária. Assim, o aumento no preço da gasolina é redistribuído em todo o comércio, tudo que gasta para transportar conta com a gasolina. É um custo em cascata, está disseminado em toda a economia. Então, o aumento do preço da gasolina costuma ser bem preocupante e, assim, temos uma inflação maior do que deveria ser.” afirma
Gabriel Eleto
Apesar do contexto econômico estar afetando toda a população, uma tentativa de lucro sobre os combustíveis não é a realidade. Segundo dados dos anos anteriores, os postos continuam com a mesma margem de lucro referente a estas matérias primas, concluindo que este não é um fator que contribui para o aumento excessivo dos preços.
A inflação acumulada é medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que marcou no primeiro semestre de 2021 o índice de 3,77%, considerado alto. Ao comparar esse dado às altas dos combustíveis automotivos, considerando que o etanol encareceu 32,6% no mesmo período, a gasolina 19,5% e o diesel 18%, vemos que houve um aumento de 785%, 417% e 377%, respectivamente, maiores que o IPCA. Com valores tão altos, os combustíveis têm sido responsáveis por impulsionar a inflação do setor de Transportes, o qual influencia os outros setores.
“Principalmente pelo aumento da gasolina e pela instabilidade política que o país está vivendo, aumenta a incerteza. Esses são os principais fatores (que impulsionam a inflação) a nível macro e isso não vai mudar muito para o município de Viçosa”.
Gabriel Eleto
O banco de dados pode ser acessado aqui
Grupo formado por: Giovana Leite, Laura Tranin e Maria Eduarda Melo.