Marcando o casamento? Confira os meses mais e menos escolhidos pelos noivos brasileiros
Escolher a data do casamento pode não ser uma tarefa fácil. A estação do ano, a disponibilidade da igreja e dos convidados, o acesso aos fornecedores de serviços e a variação dos custos são fatores que os casais precisam considerar na hora de agendar a cerimônia.
Segundo dados extraídos da pesquisa Estatísticas do Registro Civil, realizada pelo IBGE, dezembro foi o mês mais escolhido pelos noivos brasileiros nos anos de 2010 a 2020. Nesse mês, aconteceram, em média, 12,4% dos casamentos, equivalentes a cerca de 127 mil uniões matrimoniais a cada ano.
O gráfico abaixo, elaborado a partir dos dados da pesquisa, permite acompanhar as alterações nas porcentagens de casamentos por mês ao longo dos anos, bem como o ranking dos meses mais escolhidos anualmente.
Porcentagem de casamentos por mês no Brasil (2010-2020)
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Preferência pelo final do ano
Depois de dezembro, que aparece disparadamente no topo do ranking em todos os anos, estão os meses de novembro e outubro, com uma média de 10,1% e 9,5% dos casamentos anuais, respectivamente.
Para a cerimonialista Sílvia Resende, esses meses se destacam por estarem localizados na estação mais quente do ano e por se aproximarem do período de festas e de férias. “As pessoas querem aproveitar mais. Muitos não gostam do inverno para celebrar casamento e, dependendo do local, não gostam de passar por frio.” – comenta a profissional, que ressalta que as chuvas típicas do verão não impedem que essa época seja bastante procurada.
Sílvia trabalha no ramo desde 2010 e pôde acompanhar de perto as tendências. Segundo ela, o fator financeiro é também muitas vezes decisivo. É comum que os noivos estabeleçam a meta pessoal de se casarem no ano que vai começar, mas agendem a cerimônia só para os meses finais, a fim de se prepararem. “Eles começam a juntar dinheiro no início do ano para realizar seus sonhos mais para o final” – explica.
Meses em que menos se casou
Na década analisada, os meses de fevereiro, abril e agosto foram os que registraram os menores percentuais médios de casamentos, com 6,7%, 6,8% e 6,9%, respectivamente. No ano de 2013, apenas 6,2% dos casamentos aconteceram em fevereiro, parcela correspondente a pouco menos que 65 mil matrimônios.
Na opinião de Sílvia, o baixo número de casamentos em fevereiro nos anos analisados está relacionado ao calor excessivo, às frequentes chuvas e aos gastos mais intensos do final de ano e do carnaval. “Passavam-se o Natal e o Ano Novo, gastava-se o décimo terceiro, aí não sobrava dinheiro para casar” – comenta. Quanto a abril, o número reduzido de uniões matrimoniais parece estar relacionado ao fato de ser esse o mês imediatamente anterior a maio, popularmente considerado o melhor para se casar.
A cerimonialista argumenta, porém, que, nos últimos anos, maio foi aos poucos perdendo esse status: “Acho que se perdeu um pouco esse clichê de que ‘maio é o mês das noivas porque é o mês de Maria’. Deixou-se um pouco o lado da religiosidade. Infelizmente, hoje os casamentos não são todos mais com cunho religioso”.
E acrescenta: “Também um outro fator é o econômico. Pelo fato de maio ser o ‘mês das noivas’, tudo era bem mais caro. Vestido de noiva era mais caro, decoração, buffet, fotografia… Tudo subia em função da procura ser muito grande”.
No ranking produzido a partir dos dados do IBGE, maio ocupa uma posição mediana em quase todos os anos.
“Mês do desgosto”?
Agosto, que em 2010 aparecia na última posição do ranking, abarcando apenas 5,9% dos casamentos do ano, observou um gradual aumento nesse percentual ao longo da década, chegando a abarcar quase 8% dos casamentos ocorridos em 2019, ano em que foi o sétimo mês mais escolhido. O número absoluto de uniões matrimoniais em agosto foi de aproximadamente 57,5 mil em 2010 para 80,5 mil em 2019, um aumento de 40%.
As razões para isso são semelhantes à situação de maio: “Os meses já não são mais tão importantes. Perdeu-se o clichê de que o mês de agosto é o ‘mês dos desgosto’. Não existe isso. Quem faz a felicidade é a pessoa, são os dois. Não é o mês que vai dizer se o casal vai ser feliz ou não. Antigamente, as pessoas tinham essa superstição, até recentemente” – comenta Sílvia.
A profissional expõe inclusive que há várias vantagens em se casar em agosto: “É o mês mais ameno em termos de temperatura, é o mês em que menos chove (…), um mês em que os salões de festa estão vazios, os preços estão mais baixos.” “As pessoas não estão mais preocupadas com o mês, e sim com a economia” – explica.
Efeitos da pandemia
O ano de 2020, marcado pelo advento da pandemia de Covid-19, viu o número de uniões matrimoniais cair aproximadamente 26%. Enquanto haviam sido registrados em torno de um milhão de casamentos no ano anterior, em 2020 o número absoluto foi de pouco mais de 750 mil.
Quanto à distribuição dos casamentos ao longo dos meses, observou-se a brusca redução da porcentagem de casamentos realizados em abril, maio e junho, meses em que as medidas de enfrentamento ao coronavírus foram mais intensas, com a adoção do isolamento social na maioria absoluta dos municípios brasileiros. Abril, que em 2019 abarcara 7% dos casamentos, manteve a última posição do ranking, registrando apenas 3,5% dos casamentos realizados em 2020. Em termos absolutos, o número de uniões matrimoniais realizadas em abril caiu de cerca de 71 mil em 2019 para 26 mil em 2020, uma redução aproximada de 63,5%.
Número de casamentos por mês no Brasil (2019-2020)
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Dezembro, novembro e outubro mantiveram-se no topo do ranking no ano de 2020. Aliás, a porcentagem de casamentos ocorridos nesses meses subiu consideravelmente. Outubro e novembro foram de 9,1% e 10,2% para 10,9% dos casamentos realizados. Dezembro, por sua vez, subiu de 11,2% para 14,9%, maior percentual registrado em toda a década. Em quantidade absoluta, no entanto, o número de casamentos registrados em dezembro de 2020 não superou o observado no ano anterior. Foram pouco mais de 112 mil casamentos registrados em dezembro de 2020, para quase 114 mil no mesmo mês em 2019.
Sílvia explica que os casais que tinham seu casamento agendado para meses como abril e maio de 2020 remarcaram a cerimônia para o final do ano, a fim de ganharem tempo e de evitarem que a celebração fosse postergada para o ano seguinte. Segundo ela, uma vez que o coronavírus sobrevive melhor em temperaturas mais baixas, houve uma relativa queda no número de infectados nos meses quentes do final do ano, o que possibilitou a realização de mais casamentos.
Experiência de se casar na pandemia
Os professores Vanessa Coutinho, 26, e Rafael Campos, 31, foram o primeiro casal a celebrar seu matrimônio no Santuário de Santa Rita de Cássia, em Viçosa/MG, durante a pandemia. A cerimônia ocorreu no dia 22 de agosto de 2020, com a participação restrita aos familiares e amigos mais próximos dos noivos. Foram seguidos os protocolos sanitários, como o uso obrigatório da máscara. Os demais convidados puderam acompanhar o rito por meio de uma transmissão ao vivo no YouTube, trabalho realizado por uma equipe de voluntários vinculada à Pastoral da Comunicação da paróquia.
O casal conta que a escolha da data da cerimônia não foi influenciada pela crise sanitária. Com um ano de antecedência, Rafael e Vanessa agendaram seu casamento para agosto, dentre outros motivos, por ser um mês pouco procurado, em que é mais fácil marcar o rito na igreja e encontrar fornecedores. Como Sílvia, eles destacaram que até mesmo os preços são mais em conta em agosto que nos outros meses. Assista a um trecho da nossa conversa com o casal:
Quando veio a pandemia, Vanessa e Rafael observaram apreensivos enquanto outros noivos acertavam com a igreja e com os fornecedores o adiamento de seus casamentos. Em março de 2020, todas as igrejas foram fechadas por determinação da Arquidiocese de Mariana, sendo suspensas as celebrações de matrimônio e de outros sacramentos. Também o atendimento presencial nos cartórios foi suspenso, por ordem do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Ainda assim, acompanhando os desdobramentos da crise e as novas orientações das autoridades, os noivos conseguiram manter a data e realizar o sonho de se casarem.