“O Brasil perde muitos atletas por falta de investimento”, diz atleta da UFV

“O Brasil perde muitos atletas por falta de investimento”, diz atleta da UFV
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–    “Nos primeiros dois anos que fiz na minha cidade natal, acho que foi tentando achar um esporte em que eu me adaptasse. Tentei de tudo; futebol, peteca, vôlei. Mas a natação me chamou atenção e eu vi que era aquilo mesmo que eu gostava”.

Foi assim que o doutorando em Bioquímica Aplicada na Universidade Federal de Viçosa, Fábio Assad, 26, iniciou nossa conversa. Natural de Manhumirim, o estudante despertou interesse pela natação aos oito anos de idade por um programa articulado pela prefeitura da cidade que reunia diversos competidores de várias as idades e categorias.

Obtendo mais ou menos doze títulos ainda criança, Fábio teve que interromper as atividades quando o programa gratuito findou por falta de recursos financeiros. Mesmo praticando o esporte por um ano através de investimento familiar, as condições de permanência no esporte não era a realidade do estudante, que só voltou a treinar em 2018 na Associação Atlética Acadêmica – LUVE – da UFV, na qual hoje atua como competidor e por ela obtém seis títulos.

Fábio Assad, no pódio à direita, representando a UFV na Copa Minas 2018, em Juiz de Fora.
Foto: Acervo pessoal

Sendo os atletas da LUVE servidores e estudantes da Instituição e contando com um público majoritariamente masculino e dos cursos de Engenharias, o ex-treinador, Gabriel Matielo, relatou a nossa equipe que diversos atletas conseguiram conquistar medalhas em competições e que o primeiro passo para a seleção é ter conhecimento de nado.

“A LUVE é uma liga atlética que visa competição. Sendo assim, os atletas que ali estavam compactuavam com a ideia de competição. Os treinos ocorriam em um período de aproximadamente uma hora, apenas estudantes e servidores da UFV. Para fazer parte da equipe deveria ser aprovado em um processo seletivo ao qual diversos requisitos dos participantes eram analisados e devessem enquadrar nos padrões propostos durante a seletiva (capacidade de nado, resistência, técnica)”, afirmou Matielo.

Em paralelo a afirmação do Matielo, Fábio acredita que o fato de praticar a natação desde cedo, a obtenção de capital econômico e continuamente auxilia no condicionamento físico do atleta e é um elemento importante para definir a permanência.

“Eu vejo que muitos ali tem um tempo muito melhor que o meu. Eu tenho um amigo que entrou agora na LUVE e ele é profissional e compete desde os 12 anos de idade. Ele está com 18 anos agora e desde o 3 anos ele tem mesma formação de natação que eu comecei aos 8 anos e não parou. Então eu vejo que eles tem um psicológico muito mais adaptado pro esporte, tem um físico muito melhor. Em comparação com uma pessoa que faz o esporte por 12 anos é bem difícil de competir”.

Para a Fábio, isso poderia ser mudado caso existisse políticas públicas e parcerias público-privado para a criação de clubes aquáticos que fomentassem a participação de mais pessoas que ensejam o esporte.

“Eu acho que isso é bem grave. O Brasil perde muitos atletas por falta de investimento. Isso é um fato e não tem como discutir. Uma pessoa, por exemplo, que mora no Silvestre dificilmente se deslocaria para a universidade num dia de chuva, de frio pra vir treinar. Eu tenho certeza que aqui em viçosa que não foram descobertos pela falta de investimento. É uma coisa que a gente sente falta” – ponderou Fábio.

Piscina sem cobertura impossibilita o treinamento ao causar entupimento dos ralos com folhas e galhos e pode causar hipotermia nos treinadores.
Foto fictícia extraída do https://imperatriz.ma.gov.br/. Autoria de Patricia Araujo

As políticas públicas existentes na cidade de Viçosa, advém do apoio de secretarias municipais e parcerias com diversos núcleos da cidade – entre eles a Divisão de Esporte e Lazer (DLZ), Pró Reitoria de Assuntos Comunitários, Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE,
Faculdade de Viçosa – FDV – e outros. O Educador Físico e Chefe do Departamento de Esportes e Lazer, Adaílson Abranches Monteiro, relatou que as políticas públicas esportivas existentes no município procuram abranger todos os viçosenses. Os diversos programas nomeados pelo secretário incluem crianças, adolescentes, adultos, idosos e deficientes.

Todos eles desenvolvem atividades monitoradas por estagiários, distribuídos pelos núcleos divididos em vários pontos do município, desde a UFV às comunidades mais afastadas do centro como nas escolas das localidades de Laranjal, São José do Triunfo e Cachoeirinha.
Dentre as dezenas de programas existentes e citados por Adaílson, a recente inauguração do Complexo Esportivo Municipal – antiga Associação Esportiva Viçosense (AEV) – foi lembrada como um exemplo de política pública que abrange desde a natação aos esportes das quadras, ou
seja, para ele é possível abranger modalidades distintas e fomentar o esporte para todos. O Secretário defende, além de políticas no esporte, o investimento de recursos em outros âmbitos sociais.

Diminuição das políticas públicas no esporte nos últimos 10 anos no município. A mensuração menor de destinação de recurso é para esportes aquáticos.
Infográfico extraído da Federação de Amigos de Museus do Brasil.

– “Não temos nenhuma parceria com Governo Federal e Estadual, tudo é feito com recurso do município. Estamos pleiteando um projeto para executar ou criar outros (projetos) porque precisamos dar mais suporte a criança em todos os pilares. Para o menino fazer esporte, ele precisa lanchar. Precisa de acompanhamento de saúde – fisioterapia, cardiologia, odontologia – e estar inserido na educação. Precisamos abranger para dar uma qualidade de vida melhor” – explicou.

Além de problematizar a inexistência de projetos na cidade e na Instituição que amplie e abra margem para as populações mais distantes e sem capital econômico de permanência na natação, Fábio chama atenção também para a negligência da UFV na infraestrutura utilizadas na natação e a falta de materiais que permite a realização do esporte.

– “Aqui na universidade uma questão que a gente tem reclamar muito são nos dias que chove. Não tem como, no DCE, colocar nossas mochilas porque saem todas molhadas, tem dois banheiros que não vestiários e a gente fica na fila por muito tempo pra esperar vagar um pra gente trocar de roupa. A universidade tem alguns equipamentos que ela pode fornecer pra gente. Mas muitas coisas a gente teve que comprar, alguns equipamentos a gente teve que arcar. Nós compramos pé-de-pato, muitos compraram palmares, borrachinhas de alongamento. São coisas que a gente tem que arcar também. Tem infraestrutura, tem o recurso. Então por que não investir mais? Tem um limite infraestrutura que barra nossa melhora. A gente sabe que tem uma piscina muito boa, tem vestiário ao redor que ajuda. É uma proposta que vamos fazer pra universidade pra liberar a piscina pro nosso treinamento. Por mais que tenhamos a piscina do DCE, não é uma piscina exclusivamente de treinamento porque os estudantes utilizam pra lazer e nos fins de semana nós temos que disputar uma raia de lazer com eles. Então não é uma piscina específica para treinar”, declarou Fábio.

Chefe do Departamento de Educação Física da UFV, Sr. DCM, listou os planos para sanar as pendências para que no retorno do semestre letivo a infraestrutura esteja prontamente utilizável (fictício).

Para o ex-treinador Matielo, no período em que trabalhou na LUVE,

– “A piscina disponível estava de acordo com as dimensões semi-olímpica, quando haviam muitos atletas no treino a logística se complicava. Uma piscina maior seria mais confortável. Mas nada que atrapalhasse em demasia os treinos, o planejamento sempre era cumprido do mesmo modo”, ponderou Matielo.

VOCÊ SABIA? O surgimento dos esportes foi marcado por muitas apostas. No século XVI, a Igreja Católica começou a ser opor aos jogos baseados em apostas porque além de implicar diretamente nas emoções dos sujeitos, tinha-se a ideia de pecado manifestado nos vícios e “desperdício” de capital. Leia o artigo completo aqui.

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Yuri Tomaz

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