O Som da Copa do Mundo 2014
Sistema VTX foi o escolhido para as cerimônias de abertura e encerramento do Mundial de Futebol
Antes de o árbitro apitar o início do primeiro jogo e o final da última partida da Copa do Mundo 2014, centenas de espectadores que estiveram na Arena Corinthians e no Maracanã assistiram às cerimônias de abertura e encerramento do Mundial de futebol. Os dois eventos musicais, que duraram pouco mais de vinte minutos, cada um, tiveram que seguir o tal “padrão Fifa” também imposto à sonorização dos dois eventos, que ficou a cargo da Gabisom.
Um dos desafios era trabalhar com as limitações do local. Arena Corinthians, ou Itaquerão, e Maracanã – dois estádios com características arquitetônicas bem diferentes, não podiam ganhar o mesmo tratamento, embora em ambos tenha sido usado o sistema VTX, da JBL. “No Itaquerão, a gente tem uma estrutura mais quadrada e no Maracanã, mais oval. No entanto, o PA é basicamente o mesmo, os mesmos modelos de caixas, de subgraves, mas a disposição das caixas e a quantidade foi diferente de um estádio para o outro. No Maracanã tivemos mais caixas do que no Itaquerão”, observou Fernando Fortes, responsável por todo o projeto de sonorização, incluindo o gerenciamento e coordenação de frequências dos sistemas sem fio tanto da cerimônia de abertura quanto na de encerramento.
Um dos desafios da Arena Corinthians indicados por Fernando era a área livre a ser trabalhada. O vão livre entre o campo e a arquibancada, por exemplo, é muito mais estreito do que no Maracanã. Somadas a isso, há as necessidades técnicas de outros profissionais que precisam usar gruas, câmeras etc., restando uma área mínima para o posicionamento do PA. “No Maracanã, o vão livre já é maior, então tivemos mais liberdade e melhor condição de colocar o PA”, ressalta Fortes. Outra dificuldade em São Paulo foi com
relação ao próprio posicionamento da caixas, porque existiam áreas que não podiam ser sonorizadas, como a área de entrevistas. “É claro que a prioridade deles é a transmissão para TV, mas estamos aqui e temos que fazer o melhor trabalho possível”, ressalta Fernando. “Tivemos que ter certo jogo de cintura para nos adequarmos a eles, definir onde podíamos pôr as caixas. Então essa foi uma das dificuldades que tivemos que enfrentar e tentar resolver da melhor forma. É lógico que poderia ser um trabalho mais ideal, mas não podíamos pendurar caixas, não podíamos fazer clusters pendurados no teto, então to
das as caixas tiveram que ficar no gramado, na região que foi delimitada para que elas fossem colocadas. Nos dois estádios tivemos que trabalhar com essa limitação”, completa.
“Tivemos que ter certo jogo de cintura para nos adequarmos a eles, definir onde podíamos pôr as caixas. Então essa foi uma das dificuldades que tivemos que enfrentar e tentar resolver da melhor forma”
O problema de limitação nos dois estádios foi resolvido com o sistema VTX, da JBL, tanto no PA quanto nos subs, mais amplificação Crown e processamento Lake. Para Fernando, esse foi o sistema que melhor se adequou às exigências na sonorização. As primeiras fileiras da arquibancada no Maracanã, por exemplo, onde o torcedor estava quase sentado na grama, não podia ter uma coluna imensa de caixas. “Esse torcedor estava muito no chão; então tivemos essa dificuldade, que era não atrapalhar a visão de quem estava sentado nas primei-
ras fileiras”, comentou. “Acabada a cerimônia de encerramento, tivemos que desligar todo o PA e recuá-lo para deixar a área livre, porque repórteres e câmeras estariam ali e não podíamos atrapalhar a visão de ninguém”, falou. Além de ter mais liberdade para trabalhar, no Maracanã o número de caixas e consoles pôde ser maior. Enquanto em São Paulo foram 46 caixas VTX V25 mais 23 SUBS VTX S28, no Maracanã foi
possível configurar o sistema com 44 caixas mais 22 subs. O número de consoles também mais que dobrou. No Itaquerão, foram duas DiGiCo SD7 funcionando em redundância completa, contra três consoles DiGiCo usados no estádio carioca: uma SD5, uma SD7 e uma SD10. Como consoles principais, foram 3 DiGiCo, uma SD5 para o PA, uma SD7, que fez o broadcasting, e uma SD10 que fez o monitor. Para comandar, Valtinho (da Gabisom), no PA; Renato Muñoz, fazendo o broadcasting; e Paulo Seminati,
fazendo o monitor. Tanto Valtinho quanto Renato fizeram o monitor e PA de todos os artistas – Carlos
Santana, Alexandre Pires, Ivete Sangalo, Carlinhos Brown, Shakira e Wyclef.
ACÚSTICA
Por ser oval, a acústica do Maracanã acaba por ser bem diferente do Itaquerão. “Pior, vamos dizer assim, porque o oval aumenta a reverberação. Então a posição do PA é para tentar minimizar isso um pouco mais. Lá no Itaquerão, tem um teto um pouco mais rígido, então tivemos que fugir um pouco do teto, por causa da reflexão. Em SP, tentamos controlar de um jeito, e no RJ, de outro, mas são características diferentes, sim. E os estádios têm um som próprio, que é usado durante o jogo para fazer anúncios, como troca de jogadores, execução do hino nacional. Então nosso sistema de som foi exclusivo para a cerimônia”, observa Fernando.
“De todo o projeto, a coordenação de RF era o ponto mais crítico, pois dentro do estádio, estavam liberadas cerca de 270 frequências para uso.”
MICROFONES
Para os microfones, foram usados dois sistemas de microfones sem fio, que trabalharam na faixa de 470 MHz até 806 MHz. “Para alguns artistas o sistema Axient, da Shure, e para outros, o transmissor 5200 com receptor EM3732II da Seinnheiser. In ear, estamos usando o PS1000 da Shure; Wycleaf e Santana pediram monitor de chão mas usaram o in-ear também”, enumera Fortes, acrescentando que também foi feita uma coordenação de RF e cálculo de frequência, cumprindo solicitação da Anatel, junto com a solicitação de uso temporário de frequências. De todo o projeto, a coordenação de RF era o ponto mais crítico, pois dentro do estádio, estavam liberadas cerca de 270 frequências para uso das redes de televisão e sistemas do próprio estádio. Encontrar uma “brecha” livre de intermodulação e interferência foi o desafio.
Além do sistema de microfones para os artistas, a Gabisom ficou responsável por mandar o sinal para o sistema de ponto de todos os bailarinos e de todos que iam entrar no campo. “É um rádio, é quase como se fosse um in-ear, só que não chega a ser um in-ear, é um radinho mesmo, que está recebendo uma frequência na faixa de 70 MHz, e uma potência elevada de 6 watts para transmitir informações para todos os bailarinos e todos que estejam envolvidos. Eles conseguem ouvir as trilhas sonoras e as deixas do stage manager, que vai o tempo todo informando os tempos de entrada das pessoas”, explica Fernando.
“Acho que sempre temos que usar a nossa experiência, nosso jogo de cintura para tentar fazer o melhor. Eu fiquei contente com o resultado do Itaquerão. Lógico que tiveram algumas regiões que podem não ter sido ideais, mas tínhamos uma série de restrições e não tínhamos o que fazer. Aqui no Maracanã ficamos em uma situação bem mais confortável, porque o espaço é muito maior”, completa.
Pdf da matéria original: https://www.fernandofortes.com.br/stuff/Backstage_237_O%20Som%20da%20Copa.pdf