A produção cinematográfica brasileira cresce, mas o público continua distante

A produção cinematográfica brasileira cresce, mas o público continua distante

Em 1896 o primeiro filme brasileiro foi lançado, um curto documentário mostrando a Baía de Guanabara. Em 1897 a primeira sala de cinema brasileira foi inaugurada no Rio de Janeiro. Em 1960 o filme brasileiro “Orfeu Negro” ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Em 1999 Fernanda Montenegro foi a primeira brasileira indicada a um Oscar de melhor atriz.

Ao longo dos anos, o cinema brasileiro foi crescendo, tanto a criação de obras, quanto a presença dessa arte no país, mas apesar desses grandes feitios e premiações, é importante notar que há uma defasagem em relação ao cinema internacional, por isso procuramos analisar os diferentes níveis de popularidade entre filmes brasileiros e internacionais nos cinemas do Brasil.

2009 – 2019

Anualmente, a Agência Nacional do Cinema (ANCINE) em parceria com o Governo Brasileiro, levanta dados sobre o cinema nacional e o consumo de filmes no Brasil.

Ao entrevistarmos a tabela “Público, Renda e Número de Lançamentos por Tipo de Distribuidora 2009 a 2023” que apresenta o número exato de lançamentos e consumidores entre esses anos percebemos diferenças drásticas.

Houve uma elevação de 98% de lançamentos de filmes nacionais entre 2009 e 2019, de 84 por ano, para 167, enquanto de internacionais foi de apenas 18%. Isso é de extrema significância para a cultura local, em um período de apenas 14 anos, a distribuição de filmes brasileiro quase dobrou.

Apesar disso, o consumo dessas obras aumentou cerca de 50%, o que pode parecer muito, mas comparado com o aumento drástico de produções e o aumento similar de consumo de obras internacionais, 57%, deixa muito a desejar.

Para colocarmos de forma mais simples, em 2009, houveram em média 191.374 consumidores para cada filme brasileiro distribuído, em 2019 esse número caiu para 145.271, ou seja, os filmes dobraram enquanto seu consumo caiu. E quando comparado aos dados de filmes estrangeiros, a situação fica ainda mais crítica, em 2009 eram cerca de 414.572 pessoas por filme e em 2019 esse número subiu para 552.630 apesar de apenas 18% de aumento de lançamentos. Com esses dados, percebemos que a população passou a consumir muito mais filmes internacionais, porém, menos brasileiros.

2023

Essas informações representavam a realidade do cinema brasileiro entre os anos 2009 e 2019, mas tudo mudou depois disso, por causa da pandemia de COVID-19, a necessidade do isolamento social e lockdown, derrubou os níveis de criação, lançamento e consumo de filmes. Entre 2020 e 2022 não houve recolhimento de informações justamente por causa da pandemia, mas os dados de 2023, pós-pandemia, demonstra as consequências deixadas.

Em 2023, 161 filmes nacionais foram lançados, apenas seis a menos que 2019, mas novamente, os dados mais relevantes foram os de consumo, as obras brasileiras foram vistas 85% a menos que em 2019, enquanto os filmes estrangeiros quase se recuperaram, caindo apenas 27%.

A partir da análise desses dados, encontramos nossa maior pergunta: Por que o consumo de cinema brasileiro caiu tão drasticamente no Brasil?

Procurando a resposta para nosso questionamento, entrevistamos primeiramente alguém que faz parte desse público consumidor. Leonardo Amorim, estudante e cinéfilo, consome mais filmes internacionais, mas fez questão de deixar claro que não é por falta de interesse e sim por falta de acesso, ele diz que o número de obras estrangeiras que chegam até ele, são muito maiores do que as nacionais.

Outro ponto relevante e mencionado por Leonardo, é a simplicidade e facilidade das plataformas de streaming, a vasta diversidade de opções e o preço em relação aos cinemas, fazem dessas plataformas mais acessíveis, financeiramente e fisicamente. O surgimento dessas plataformas e seu crescimento durante a pandemia fizeram com que filmes fossem muito mais acessíveis.

Em seu livro “O filme nas telas: a distribuição do cinema nacional”, Hadija Chalupe da Silva, doutora em comunicação e pesquisadora do cinema, traz um problema da situação do cinema brasileiro, a divulgação. Segundo sua análise, uma parte importante do sucesso comercial de uma obra é sua divulgação, analisando a história do cinema no brasil, a criação de filmes e o aumento de lançamentos, são decorrentes das leis criadas após o fim do governo Collor, que apoiam a cultura financeiramente. Através dessas leis, essas obras são realizadas, porém, elas não têm meios de divulgação tão influentes como os filmes estrangeiros, isso acarreta em uma defasagem grande entre o consumo de filmes brasileiros e internacionais.

Os dados informam que o cinema brasileiro enfrenta um desequilíbrio preocupante: apesar do aumento na produção, o público segue distante. A dificuldade de acesso, tanto nos cinemas quanto nas plataformas de streaming, somada à falta de investimentos em divulgação, limita o alcance dessas obras. Para mudar esse cenário, é necessário repensar como os filmes nacionais chegam ao espectador, criando condições para que eles sejam tão presentes e atraentes quanto as produções estrangeiras no mercado nacional.

Reportagem produzida por Ana Paula Faria, Guido Maroni e Sofia Souto.

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