De Cabral para Clarice: centenário na Literatura Brasileira

De Cabral para Clarice: centenário na Literatura Brasileira

Escrito porJoelma Santana Siqueira, Doutora em literatura brasileira pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, e Professora de Literatura Brasileira vinculada ao Departamento de Letras UFV.


Em 2020, comemoramos o centenário dos escritores João Cabral de Melo Neto e Clarice Lispector. Há muitos eventos e lançamentos acontecendo para festejar essa data importante para a cultura brasileira. Neste texto, Joelma Siqueira comenta sobre a correspondência de Cabral. Veja.

Sobre Clarice Lispector

Clarice Lispector
Clarice Lispector. Reprodução/Internet

Clarice Lispector residiu em Washington de 1952 a 1959. Nesse período, trabalhou nos contos que foram publicados no livro Laços de família (1960) e no romance A maçã no escuro (1961), esse último, inicialmente, intitulado A veia no pulso. Vivendo em outros países, visitou o Brasil em 1946, 1949, 1951 e 1954, mas voltou a residir definitivamente no Rio de Janeiro apenas em 1959.

Sobre João Cabral

João Cabral de Melo Neto
João Cabral de Melo Neto. Reprodução/Internet

João Cabral, em 1952, foi removido para o Brasil para responder a inquérito por ter sido acusado de subversão por envolvimento com o comunismo. Em 1954, foi reintegrado à carreira diplomática e passou a trabalhar no Departamento Cultural do Itamaraty no Rio de Janeiro até 1956, quando foi transferido para Barcelona, como cônsul adjunto, com a missão de fazer pesquisas históricas no Arquivo das Índias de Sevilha, onde residia. Em 1958, foi removido para Marselha e, em 1960, para Madri.

A correspondência de Cabral

Na correspondência enviada de Sevilha para Lispector, podemos notar que Cabral dirige-se ao casal, mas a ênfase está em sua amizade com a escritora. O desânimo comentando pelo missivista é identificado por ele como “abulia”, atribuída ao ambiente em que se encontrava e não a outros fatores políticos e sociais.

Cabral menciona um poema que teria enviado junto com a carta, mas ressalta que não esperava com isso que seu poema transmitisse afeto. Essa ressalva é compreensível, pois o poeta é conhecido também por posicionar-se contra a poesia intimista, como o fez na conferência “Da função moderna da poesia”, proferida durante o Congresso de Poesia de São Paulo, em 1954.

Ele aguarda notícias do romance de Lispector, A veia no pulso (na verdade, A maça no escuro), comentado em uma carta anterior e diz que em breve irá enviar ao casal um livro novo que está sendo ilustrado por Aloísio Magalhães. Trata-se da obra Aniki Bóbó, um livro que ficou raro e só foi reeditado em 2016.

Aniki Bobo
Aniki Bobo. Foto/reprodução

Matéria adaptada do Jornal dos Escritores, um produto, originalmente, vinculado ao projeto de pesquisa “Escritores na imprensa: João Cabral e Clarice Lispector no Jornal do Brasil”, desenvolvido com o apoio da Fapemig, Edital Universal/2017.

Os quatro primeiros jornais são dedicados a esses dois importantes escritores que, em 2020, comemoram 100 anos de nascimento. Acesse o site para saber mais sobre o projeto e as demais versões do jornal.

Daniel Silva

Estudante de Jornalismo/UFV.

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