A farofa que une e separa um país
Imagem: Reprodução/Receitaria
É abrir a despensa de um brasileiro que, certamente, acharemos pelo menos um pacote de farinha, seja ela de milho ou mandioca. A farinha está presente na alimentação brasileira há séculos e com trotar dos burros e cavalos ao longo dos anos, deu origem a nossa “tradicional” farofa. Por meio de uma série de vídeos produzidos e divulgados pelo Nexo, “É Por Quilo”, em sua plataforma digital, somos apresentados ao passado e ao presente de um de nossos alimentos mais ricos: a amada farofa.
A série de vídeos “É Por Quilo: comidas que explicam o Brasil”, produzida pelo jornal independente e digital Nexo busca “explorar […] como as comidas ajudam a explicar o Brasil, ajudam a explicar algo da história do país, algo da dinâmica social, às vezes algo até da política.” diz o apresentador José Orenstein no episódio de lançamento “Como o brasileiro reinventou o temaki. E o boom das temakerias.”
Para análise e discussão neste presente momento, selecionamos o segundo episódio da série, “O país da farofa: indígenas, tropeiros, sertanejos e farofeiros”, publicado no dia 05 de setembro de 2019 e apresentado por Ricardo Monteiro, vídeo maker há mais de quatro anos na plataforma.
Com duração de aproximadamente 10 minutos, assim como os demais vídeos da série, Ricardo norteia dois convidados principais a relatarem seus conhecimentos históricos, sociais e gastronômicos a respeito dessa iguaria. A antropóloga Paula Pinto e Silva aborda os conceitos históricos do surgimento, propriamente dito, da farofa em nosso país e como essa comida acabou por influenciar diretamente a construção de um identitário social, econômico, político e claro, gastronômico.
Para Paula, “O aprendizado da comida é o aprendizado da cultura”, e é a partir dela que podemos compreender como a farinha, e por fim, a farofa, serviram de alimentação de subsistência para as áreas extremas do sertão. Por ser leve, seca e fácil de carregar, foi o que manteve bandeirantes e tropeiros alimentados durante suas expedições pela seca.
A comida é considerada uma das peças para distinções sociais e de grupos em nossa sociedade, uma vez que somente as classes mais baixas e consideradas “não civilizadas” se alimentavam das receitas oriundas da boa e velha farinha de milho ou de mandioca. É por isso que hoje, facilmente, ouvimos as palavras “farofa” ou “farofeiros” para se revirem a um ambiente ou grupo de pessoas sem regra nem educação.
Além das discussões históricas e sociais abordadas tanto pelas falas de Paula quanto pelos elementos gráficos apresentados por Ricardo, o chef de cozinha, Rodrigo Oliveira, do Restaurante Mocotó, especializado em culinária nordestina, agrega a reportagem com seu olhar e experiência no fogão.
A farofa une o país ao estar presente em todo e qualquer prato brasileiro, “desde o churrasco do gaúcho, no chibé do amazonense, na feijoada do paulista e do carioca, e no tutu do mineiro.” Com a ascensão do prato nos grandes restaurantes brasileiros e as suas mais variadas receitas, deixamos de enxergá-lo de maneira depreciativa.
Aprender um pouco das origens do que colocamos no prato diariamente nos permite entender mais as linhas traçadas pelos nossos ancestrais e quais são as influências que carregamos até os dias de hoje. Por meio desta série de conteúdos audiovisuais, muito bem roteirizados e produzidos, voltamos no tempo para muita água na boca, prontos para sentarmos à mesa para mais uma “boca livre”.