Análise: Reportagem “Ocupação irregular de áreas em Petrópolis mais do que dobrou entre 1985 e 2020”

Análise: Reportagem “Ocupação irregular de áreas em Petrópolis mais do que dobrou entre 1985 e 2020”

Este texto propõe-se a apresentar uma análise descritiva da reportagem guiada por dados “Ocupação irregular de áreas em Petrópolis mais do que dobrou entre 1985 e 2020”, do G1, o portal online de notícias do Grupo Globo. Como referência, serão tomadas as discussões e explicações colocadas em aula da disciplina de Laboratório de Jornalismo Online, ministrada pelo Prof. Henrique Mazetti.

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Reportagem do G1 constata crescimento da ocupação irregular em Petrópolis ao longo dos anos
Reportagem do G1 constata crescimento da ocupação irregular em Petrópolis ao longo dos anos

Publicada em 23 de fevereiro de 2022, a reportagem de Alessandro Feitosa trata do aumento de 108,81% da ocupação de áreas de risco na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro, ao longo dos últimos 35 anos. A matéria tem como gancho a tragédia ocorrida na cidade no dia 15 de fevereiro, ocasião em que pelo menos 190 pessoas morreram em função das fortes chuvas. Tratou-se da maior catástrofe da história da cidade.

Segundo informado logo no início do texto, as estatísticas relacionadas à extensão da ocupação irregular em Petrópolis no decorrer dos anos foram obtidas com base no cruzamento de dados do IBGE com imagens capturadas via satélite, sendo essa a metodologia da pesquisa. O instituto governamental mapeou de “aglomerados subnormais”, termo utilizado para classificar “áreas como favelas, invasões e loteamentos irregulares”. As imagens de satélite permitiram verificar o avanço da ocupação desses espaços ao longo do tempo. As principais perguntas respondidas com base na apuração das bases de dados foram, portanto, as seguintes: A ocupação de áreas de risco em Petrópolis aumentou ou diminuiu de 1985 a 2020? Em quanto? Qual a extensão de “aglomerados subnormais” ocupados a cada ano? E ainda – como será indicado mais abaixo –, as tragédias naturais ocorridas na história da cidade evitaram o crescimento desses números?

Vale destacar que esse trabalho de coleta e cruzamento de dados foi encomendado pelo G1 à MapBiomas. A rede colaborativa, segundo apresenta seu site institucional, “produz mapeamento anual da cobertura e uso da terra desde 1985”.

Os resultados são apresentados por meio de um vídeo e de um gráfico de barras. No primeiro, é possível observar uma imagem da cidade de Petrópolis capturada via satélite com a demarcação das áreas de ocupação irregular a cada ano. No segundo, é indicada a extensão em hectares da área total construída nos “aglomerados subnormais”, a cada cinco anos. Além disso, os dados obtidos são citadas discursivamente ao longo do texto.

Expansão da ocupação irregular em Petrópolis é apresentada em um vídeo
Expansão da ocupação irregular em Petrópolis é apresentada em um vídeo
Gráfico de barras indica extensão total em hectares da ocupação de "grupamentos subnormais" a cada cinco anos
Gráfico de barras indica extensão total em hectares da ocupação de “grupamentos subnormais” a cada cinco anos

O repórter compara os resultados obtidos pela MapBiomas com outras estatísticas, reforçando a legitimidade da matéria. É o caso de uma pesquisa realizada pelo IBGE e pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), utilizando dados do Censo 2010, e de um levantamento de 2016 da empresa Theopratique Obras e Serviços de Engenharia e Arquitetura, contratado pela prefeitura municipal.

Outras estatísticas reforçam a legitimidade da reportagem
Outras estatísticas reforçam a legitimidade da reportagem

É apresentado também um gráfico de barras com informações da Defesa Civil de Petrópolis concernentes ao número de mortos em desastres naturais na cidade ao longo dos anos. Quando comparadas aos resultados da pesquisa da MapBiomas, tais dados permitem afirmar que a ocupação dos chamados “aglomerados subnormais” continuou a crescer em Petrópolis mesmo após os grandes desastres naturais de 1988, 2011 e 2013, uma importante constatação.

Dados da Defesa Civil indicam datas das maiores tragédias naturais em Petrópolis
Dados da Defesa Civil indicam datas das maiores tragédias naturais em Petrópolis

A voz de especialistas é trazida no intuito de apontar possíveis causas para o fato de os moradores da cidade a continuarem se estabelecendo em áreas de risco mesmo depois de repetidos acidentes. São consultados a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e coordenadora do tema urbano no MapBiomas, Mayumi Hirye, e o geólogo Julio Lana, do Serviço Geológico do Brasil, da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (SGB-CPRM). Dentre outras argumentações, os pesquisadores apontam a falta de alternativas de habitação e o crescimento desordenado da cidade, apresentando possibilidades de ações que poderiam ser tomadas para prevenir o problema. Os cientistas tecem ainda outros comentários a respeito do fenômeno, apontando, por exemplo, a perspectiva de que eventos como esse se repitam.

A reportagem se encerra com a atualização das estatísticas do Corpo de Bombeiros a respeito do número de mortos e desaparecidos na catástrofe do dia 15. Intercalados no texto da reportagem, são exibidos também vídeos complementares sobre o assunto, reaproveitados da vasta produção jornalística do grupo empresarial. É o caso, por exemplo, de uma matéria do Jornal Nacional a respeito do histórico de tragédias naturais na cidade de Petrópolis.

Marco Túlio de Miranda

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