Aqueles 2%: a representatividade negra no Oscar

Aqueles 2%: a representatividade negra no Oscar

Desde a campanha #OscarSoWhite em 2015, a Academia tenta trazer maior representação racial, mas as estatuetas entregues ainda não passam de 2%

Em todo campo é necessário falar sobre representatividade e no cinema não é diferente. O debate racial é reacendido todo ano, principalmente quando saem as listas de indicações das grandes premiações da indústria. Afinal, quantas vezes você viu uma indicação a pessoas negras no Oscar? E quantas vezes os poucos indicados realmente levaram o prêmio?

Segundo a própria Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, até 2019 foram entregues 3.140 estatuetas desde a sua primeira edição, em 1929 – e apenas 44 delas foram para profissionais negros. Isso são apenas 2% dos prêmios.

Principais categorias

Apenas dois filmes levaram o prêmio de Melhor Filme: 12 Anos de Escravidão, em 2014, e Moonlight, em 2017. Moonlight fez história. Foi o primeiro filme com elenco todo de negros (e o primeiro com temática LGTB) a ganhar o prêmio principal. Na categoria de Melhor Diretor, uma das mais prestigiadas, apenas seis foram indicados em todas as 92 edições – entre eles Spike Lee, por Infiltrado na Klan, na cerimônia de 2019 -, mas nenhum venceu. Lee é um dos principais críticos da Academia e promoveu em 2016 um boicote contra o Oscar justamente pela falta de indicações negras à premiação.

Apenas uma mulher negra ganhou o prêmio de Melhor Atriz em toda a história do Oscar: Halle Berry, em 2002, por A Última Ceia. Já em Melhor Ator foram quatro prêmios para homens negros: Sidney Poitier em 1964, Denzel Washington em 2002, Jamie Foxx em 2005, e o mais recente foi em 2007 (há mais de uma década da presente matéria) para Forest Whitaker.

Elenco de Moonlight
Elenco de Moonlight: da esquerda pra direita, Mahershala Ali, Trevante Rhodes, Naomie Harris, Ashton Aanders, Alex R. Hibbert e o diretor Barry Jenkins

As categorias de Melhor Ator e Atriz Coadjuvante foram as que mais premiaram pessoas negras – foram seis homens e oito mulheres. Dentre os homens estão dois dos quatro profissionais negros que ganharam mais de um Oscar na carreira. Denzel Washington, citado anteriormente, ganhou o prêmio em 1990, e Mahershala Ali, recebeu dois prêmios da categoria, em 2017 e 2019. Na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante temos alguns nomes de peso, como Viola Davis, Regina King, Octavia Spenser e Lupita Nyong’o.

A primeira mulher negra no Oscar

A história dos negros no Oscar deu um grande passo aqui, com Hattie McDaniel recebendo o prêmio de Coadjuvante em 1940 – a primeira pessoa negra a vencer em alguma categoria. Mas não foi tão fácil assim. Ela esteve em um dos filmes mais famosos da história, E o Vento Levou, mas foi proibida de comparecer à estreia e não pode se sentar com seus colegas de elenco na cerimônia. Rejeitada por negros por fazer papéis estereotipados, era a única mulher negra da sala e a primeira a comparecer à premiação como convidada, não como empregada. Mas subiu no palco e disse em seu discurso: “Espero sinceramente ser sempre motivo de orgulho para a minha raça e para a indústria cinematográfica”.

Hattie McDaniel e Vivien Leigh contracenando em E o Vento Levou.
Hattie McDaniel com Vivien Leigh em E o Vento Levou.

Dizem que a Academia tenta uma maior representação racial desde a campanha #OscarSoWhite (Oscar tão branco, em tradução livre) em 2015. De fato, a edição de 2019 bateu o recorde de maior número de prêmios para profissionais negros em toda a sua história – sete estatuetas ao todo. Em 2020, Hair Love ganhou como Melhor Curta-Metragem de Animação e foi o único prêmio da edição a estar entre aqueles 2%.

Oscar 2021

Pela primeira vez, um filme com equipe de produção toda composta por negros, Judas e o Messias Negro, foi indicado à categoria de Melhor Filme. Além dele, outros seis longas com produção e elencos negros integraram a lista de indicados. Com a indicação de Viola Davis na categoria de Melhor Atriz por seu papel em A Voz Suprema do Blues, ela se torna a atriz negra com maior número de nomeações, duas como principal e duas como coadjuvante. Infelizmente, na premiação deste ano, ela perdeu a estatueta para Frances McDormand, de Nomadland. Nas categorias principais houve um recorde de indicações, mas tem todos venceram: Daniel Kaluuya ganhou o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante por Judas e o Messias Negro e Pete Docter pela animação Soul. Chadwick Boseman, o oitavo ator e o primeiro negro a receber uma indicação póstuma em toda a história da premiação, perdeu o prêmio para a atuação de Anthony Hopkins em Meu Pai.

O texto original foi publicado na segunda edição da Revista No Script!, feita pelo projeto de extensão Cinecom e publicada em novembro de 2020.

Beatriz Valente

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