Crescimento e reconfiguração dos Meios de Comunicação no Brasil
O celular vem se tornando cada vez mais o aparelho mais utilizado pelos brasileiros
O crescimento do uso de telefones celulares está se tornando, cada vez mais, o principal meio de comunicação tanto para o trabalho, quanto para o lazer, sendo percebido dentro dos lares, nas escolas e nos ambientes de trabalho, onde é possível notar a ascensão das tecnologias através dos anos. Outros meios de comunicação também apresentaram crescimento nos últimos tempos, mesmo que não se preste atenção, seu uso está diretamente ligado às rotinas e a forma como a internet é usada, como por exemplo, a televisão.
Essas mudanças levantam algumas questões: O que tem desaparecido do dia a dia nas casas dos brasileiros? O que tem surgido com mais intensidade? E o mais importante, quais são os brasileiros que estão sofrendo mais com essas mudanças? Para responder essas questões, foi feita uma análise a partir dos dados retirados de tabelas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), buscando entender como os hábitos de consumo de mídia da população brasileira tem mudado constantemente, de forma que o aumento do uso desses aparelhos se relaciona diretamente com fatores sociais, econômicos e culturais.
A partir dos dados que foram analisados, percebe-se como a convergência midiática – possibilidade do uso de um único aparelho para diversas funções – cria um certo conflito, de que a sociedade enfrenta um possível declínio do uso dos meios de comunicação tradicionais, como a televisão, o rádio e o telefone fixo. O jornalista e pesquisador Jonathan Fagundes, graduado na Universidade Federal de Viçosa, nos conta um pouco da convergência nesses meios ao ser perguntado sobre a diminuição do uso desses veículos tradicionais.
“Acho que sim houve um declínio do uso desses veículos e dessas mídias tradicionais, mas ao mesmo tempo nunca enxergo as coisas como se fosse um declínio que levasse a encerrar aquele veículo, aquela mídia, eu enxergo mais como um processo de readaptação e é isso que acontece ao meu ver.” Explica o pesquisador
De acordo com o levantamento realizado, a televisão era o aparelho midiático mais utilizado em 2015 com o acesso de 31,9% da população brasileira, seguido pelo celular com 30,6% de usuários. Já no ano de 2023, houve um aumento de 3% na utilização desses meios. Em contrapartida, o rádio, em oito anos, registrou uma queda de 6,2% em relação ao percentual de uso. Na área rural, o rádio segue como aparelho midiático de grande influência.
O pesquisador também fala sobre a presença da tecnologia e mídias, principalmente nas áreas rurais, e menciona a sua relação com o rádio:
“Eu enxergo muito como se fosse uma readaptação do uso, então com essas transformações têm o podcast, que é rádio e por mais que a gente, às vezes, ache que é super moderno e tudo mais, é rádio.”
O entrevistado conta um pouco sobre como houve uma reconfiguração do uso dos aparelhos eletrônicos. Inicialmente o aparelho mais utilizado para o acesso da internet nos 2000 era o computador de mesa, que desempenhava funções específicas de uso, já que a internet era de acesso limitado. Com o passar do tempo, ele vai perdendo espaço para a televisão, que em 2010 volta a ser mais utilizada com o surgimento dos streamings e da smart tv.
Atualmente, o celular aparece como o meio de comunicação mais utilizado para acessar a internet com 99% dos usuários, seguido dos aparelhos de televisão, que continuam como o segundo dispositivo mais utilizado para acessar a rede. O uso da televisão para acessar à internet segue com viés de alta para 55% em 2022 no país. Assim, o celular é um meio de comunicação que se mistura com os outros, sendo mais acessível para as classes mais baixas da população e oferecendo diversas funcionalidades, fazendo com que mesmo o aparelho de menor preço, mas que possua um sistema de internet conectado, seja capaz de oferecer acesso à internet, à televisão, ao rádio, entre outras funcionalidades que só o celular é capaz de oferecer.
No entanto, o mais interessante a se observar é o papel da televisão nessa mudança, levando em consideração que muitos brasileiros a usam para assistir canais, ouvir música, vídeos, entre outras formas de comunicação através de aplicativos diretamente conectados à internet.
“A televisão me chama muito a atenção, porque boa parte das casas nos domicílios do país tem televisão. Se não tem uma, tem duas ou alguns não tem nenhum, mas ao mesmo tempo, com plataformas como o Globoplay, você acaba acessando um conteúdo de televisão no computador, então você acaba consumindo televisão de uma forma indireta.” – Disse o jornalista.
Apesar do alto número de pessoas que possuem e têm acesso a um aparelho telefônico, Jonathan destaca a diferença existente entre as regiões e a forma como se tem uma falsa sensação de que atualmente todo mundo está conectado, quando na verdade a população da zona rural, por exemplo, ainda enfrenta dificuldades em conseguir acessar a internet. O pesquisador também menciona a situação nas zonas rurais, destacando que, embora o site da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) afirme a existência de uma rede telefônica e de internet, na prática, não é a realidade e os moradores encontram desafios na hora de se manter conectados.
A televisão mantém seu espaço ao conseguir atingir essas áreas, suprindo suas necessidades. Ainda segundo Jonathan, a TV serve como uma ferramenta de “readaptação”, permanecendo muito presente no meio rural e, tal como o celular, convergindo-se entre TV, internet e rádio, já que ela também consegue suprir essas funcionalidades.
Para acessar as informações e dados utilizados nesta reportagem acesse o link
Produzida por Mavi Gervásio, Julia Vargas, Giovanna Almeida, Ana Júlia Alves e Alice Sarmentto