Crescimento urbano descontrolado de Viçosa gera problemas estruturais nas ruas do Centro

Crescimento urbano descontrolado de Viçosa gera problemas estruturais nas ruas do Centro

Entre interdições e incertezas, a Praça Mário Del Giudice já passou por duas obras nos últimos 9 anos e a Prefeitura ainda estuda solução definitiva.

Por Kamily Nogueira e Tiago Bueno

Veja o resumo aqui

– Em 2021, crateras se abriram no centro de Viçosa.
– Em 2014, uma situação semelhante já havia acontecido.
– O problema foi causado pelo rompimento do encanamento do Córrego da Conceição.
– Especialista aponta que mudança climática e a falta de escoamento para água intensificam o problema.
– O Diretor do GEOPLAM informa que uma obra maior deve ser executada pelo município para o problema ser completamente resolvido.

Em 2021, logo depois de uma chuva torrencial, crateras se abriram na Praça Mário del Giudice, em frente à Drogaria Araújo, afetando alguns comércios e prédios, que foram interditados. O problema estava no encanamento subterrâneo que atravessa a praça, levando a região a obras por mais de três meses para consertar o encanamento que havia rompido.

Uma situação semelhante já havia acontecido em 2014, quando vários comerciantes da região foram notificados que os locais em que trabalhavam seriam interditados pelo Corpo de Bombeiros. A medida necessária na época veio após a aparição de rachaduras nas paredes e afundamentos no piso de algumas lojas. Os espaços foram liberados somente em 2016, após mais de dois anos em obras.

O problema

A praça, assim como uma parte do Centro da cidade, foi construída em cima do Córrego da Conceição, destino de grande parte da água que escoa de alguns dos bairros mais urbanizados de Viçosa: Bairro de Fátima, Clélia Bernardes, Bom Jesus e seus entornos. Esse grande fluxo de água que o córrego precisa suportar em épocas de chuva não foi previsto em sua canalização. Isso, em conjunto com o acúmulo de lixo depositado no leito do córrego, resulta no risco de rompimento no encanamento, como o que aconteceu em 2014 e 2021 na Praça Mário del Giudice.

O aumento do fluxo de água que escoa para o Córrego da Conceição tem aumentado nos últimos anos devido à urbanização acelerada do município. Com o crescimento elevado de Viçosa nos últimos 30 anos, ocorrido principalmente por causa do surgimento de novos cursos na UFV, o número de prédios na cidade aumentou de forma descontrolada, visto que era preciso comportar um grande número de estudantes em um espaço limitado. 

Algumas construções invadiram os leitos de córregos e ribeirões e a área verde ficou cada vez menor, contribuindo com as diversas complicações que o município passou a enfrentar. Esses precedentes provocaram a impermeabilização de extensas áreas, impedindo a infiltração da água das chuvas, que, por isso, começou a escoar direto para dentro dos córregos que cortam a cidade.

O que diz o especialista

André Faria, professor do Departamento de Geografia da UFV, explica que a mudança climática, que provoca chuvas cada vez mais fortes, e a falta de locais para o escoamento da água da chuva na cidade são os principais fatores que geram os problemas na área

“A gente tem que ter o entendimento que a natureza pode em algum momento gerar as condições para que aquela obra não dê conta do volume de água que cai na bacia do Córrego da Conceição, que vai chegar imediatamente nele, pois a sua margem é uma das áreas mais urbanizadas que temos no município de Viçosa.” 

Ele reforçou ainda que, como grande parte do solo da região está impermeável, a água da chuva vai direto para o córrego e, nas proximidades da Praça Mário del Giudice, seu espaço de circulação é reduzido nas adutoras localizadas abaixo daquela praça. Assim, a pressão exercida pela quantidade de água rompeu a tubulação na ocasião mencionada.

Os orgãos públicos

O atual diretor do Geoprocessamento, Planejamento e Meio Ambiente do Município de Viçosa (GEOPLAM) e engenheiro civil, Douglas Ferreira, informou que as obras realizadas em 2022 no local são suficientes no momento, mas que o problema não foi completamente solucionado. O diretor declarou, ainda, que para a resolução definitiva do problema, uma obra maior deve ser executada pelo município, porém, devido ao alto custo da ação, a Prefeitura precisa arrecadar recursos para isso através do Governo Federal, mas não há um prazo para a liberação de verba.

Texto adaptado de reportagem da Revista PH Rolfs publicada por Bianca Brustolini, Cibelle Ferreira, Kamily Nogueira, Leonardo Amorim e Tiago Bueno

Quer saber mais? Ouça nossa reportagem:

Reportagem criada para a disciplina de Radiojornalismo.
Narração de Kamily Nogueira e Cibelle Ferreira, roteiro de Bianca Brustolini, Cibelle Ferreira, Kamily Nogueira, Leonardo Amorim e Tiago Bueno.

Reportagem original:

Kamily Nogueira

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