E como fica o cinema? Os impactos da pandemia no cinema brasileiro

E como fica o cinema? Os impactos da pandemia no cinema brasileiro

O cinema costumava ser uma rotina constante para algumas pessoas. Seja porque elas acompanhavam todas as estreias da indústria ou era apenas um destino escolhido aleatoriamente em um dia de sair com amigos.

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A emoção de sentar numa sala escura e ver um filme projetado em uma tela enorme é diferente se comparada aos streamings que ganharam popularidade nos últimos dois anos. Vitória Maria Lélis, estudante da Universidade Federal de Viçosa (UFV), costumava ir em média uma vez ao mês, por conta da falta de catálogo no cinema da cidade

Como tinha só 2 sessões por dia e quando era um filme mais procurado aumentavam [o número de sessões], mas acabava que ficava muito tempo o mesmo filme, acho que para mais pessoas poderem ver, mas acabava que muitos filmes nem entravam em cartaz aqui.

Vitória Maria Lélis

Segundo dados da ANCINE (Agência Nacional de Cinema), foram 707 títulos exibidos em 2018 e 625 títulos em 2019 no Brasil – já em 2020, foram somente 523. Em Viçosa, foram exibidos 39 filmes em 2018, subindo para 43 em 2019 e sendo apenas 9 em 2020.

Mônica Bento, assessora de comunicação viçosense, diz que como a cidade é a única na microrregião que possui uma sala de exibição, muitas pessoas de fora vêm, inclusive com a família. “Virou um programa, um evento”. Ela ainda complementa que a experiência de conhecer histórias de outras pessoas que são realidade é muito importante em uma experiência compartilhada de arte, e que o cinema é uma das principais formas de lazer e de arte. Já Vitória fala que ia às vezes ao cinema para sair com os amigos, já que também o enxerga como uma das opções de lazer de Viçosa.

Na edição de 2019 do Anuário Estatístico do Cinema Brasileiro, elaborado pela Superintendência de Análise de Mercado (SAM) e publicado pela ANCINE no intuito de registrar e preservar os dados da indústria nacional, vemos que mais de 176 milhões de pessoas passaram pelas 3.507 salas de exibição naquele ano – um aumento de 7,88% se comparada às 163 milhões de pessoas e 3.347 salas espalhadas pelo Brasil em 2018. A renda também aumentou: de quase 2,5 bilhões de reais em 2018 para quase 2,8 bilhões em 2019.

Público dos cinemas do Brasil
Fonte: Ancine. Dados publicados em 22/02/2019; 21/01/2020 e 29/03/2021

Em fevereiro de 2020 foi confirmado o primeiro caso de COVID-19 no Brasil e, a partir daí, o comércio (incluindo as salas de exibição de filmes) foi fechado em todo o país.

Além do impacto nas bilheterias, culturalmente os cinemas também sofreram com a chegada do vírus, fazendo as pessoas que acompanhavam os lançamentos sentirem a diferença. Vitória conta que criou o costume de consumir serviço de streaming e não tem certeza se voltará ao cinema com a mesma frequência, devido a tal hábito e pelas produtoras passarem a lançar seus títulos diretamente nas plataformas. Já Mônica acha que para quem acompanha o cinema foi um impacto maior.

Foi um ano que tiveram bastantes lançamentos desses filmes maiores […] deixar de vê-los no cinema, para mim, não foi bom. Acho que quem realmente acompanha e gosta sentiu bastante. Comigo também foi a mesma coisa.

Mônica Bento

Em Viçosa, a queda de público de 2019 para 2020 foi de 79,72%. Já em Minas Gerais, esse número chegou a 78,4%.

Realidade Mineira

Dados publicados pela ANCINE que fazem referência ao período mostram, que só houve uma renda geral de 628 milhões de reais em 2020 – uma queda de 77,47% se comparado a 2019. Em Minas Gerais, a queda foi de 78,3%.

Faturamento dos cinemas no estado de Minas Gerais
Fonte: Ancine. Dados publicados em 21/01/2020 e 29/03/2021

Em Viçosa, a queda na renda foi de 81,03%, ou seja, o número caiu de 644 mil reais em 2019 para pouco mais de 125 mil em 2020.

O cinema de Viçosa era uma das poucas opções que a cidade oferecia como lazer cultural. Shows e teatro aconteciam de forma esporádica e as sessões de filme eram as escolhas mais frequentes, principalmente dos estudantes.

Monique Mendes, estudante da Universidade Federal de Viçosa, é paulistana, mas se mudou para Viçosa pela segunda vez aos 14 anos. Ela afirma que tinha o costume de ir ao cinema sempre que saía um novo lançamento. “Por diversão mesmo ou porque gostava muito do filme e queria ver. Tinha carteirinha de estudante então ia quase todo mês. Eu sempre gostei de cinema e assistir filmes, então ia porque gostava de assistir ao cinema.

Faturamento dos cinemas de Viçosa
Fonte: Ancine. Dados publicados em 22/02/2019; 21/01/2020 e 29/03/2021

Pensando na realidade da cidade de Viçosa, Mônica, como consumidora do cinema na cidade, acredita que os preços de Viçosa são compatíveis para a realidade universitária, entretanto, ela entende que muitas pessoas de Viçosa não têm o privilégio e nem as condições de ir com toda a família.

Pensando em uma realidade onde seria necessário pagar muitas entradas entre meias e inteiras, ela sugere algumas opções quanto ao preço, que podem baratear os ingressos na cidade e deixar mais acessível para aqueles que nunca foram ou que não frequentam o cinema por causa da condição financeira. Mônica afirma que “ter outros horários do dia ou pelo menos algum dia com um valor reduzido, poderia ser bem legal para estimular pessoas que não costumam frequentar por causa do preço.

E agora, Brasil?

A pandemia acelerou um processo gradativo de esvaziamento das salas de cinema – trocar a experiência do cinema pela comodidade de ficar em casa, já era uma realidade de muitos, mesmo antes da pandemia. Com o distanciamento social e o fechamento das salas de exibição, até aqueles que não abriam mão de ver de perto uma estreia nas grandes telas, se viram obrigados a transferir essa paixão para a televisão de casa.

Bruno Ravagnolli, diretor e diretor de fotografia conhecido em São Paulo apenas como Bruno Coroinha, trabalha no mercado audiovisual há mais de 25 anos. Ele acredita que as salas de exibição continuarão a existir, mas sofrerão uma queda em número que já vinha acontecendo desde antes da pandemia.

O cinema também foi afetado quanto à narrativa. Além de produções feitas com foco em viroses e pandemias, iniciou-se uma tendência a curtas e longa metragem sendo feitos com equipes e elencos reduzidos (e até com enredo mais intimistas e introspectivos) para evitar a disseminação da COVID-19.

Você começa a ver vários filmes que tem esse cuidado de serem menores, de você ter um ou dois personagens, de você não ter aquela vastidão de cenas imensas, e eu acho que isso vai ser algo que a gente vai ver aí em tornos de uns 5 ou 6 anos, acredito eu, nesse sentido. […] Talvez filmes de super heróis utilizando o chroma, fazer filmes com mais animação, mais ‘motion’ pra você contar a história e ter um acesso menor a pessoas no dia a dia.

Bruno Ravagnolli
Bruno ressalta como a falta de investimentos no mercado também influencia na renda do país.

Os reflexos no setor audiovisual já começam a ser sentidos quando feita uma comparação entre os valores gerados nos últimos 3 anos. Os investimentos, juntamente com um aumento no público resultaram em um crescimento de 13,4% de 2018 para 2019, o que representa uma movimentação de aproximadamente 2,8 bilhões de reais no país.

Ao adicionarmos 2020 à conta o valor surpreende: arrecadando um valor aproximado de 628 milhões de reais, o mercado teve uma queda geral de 77,47% quando comparado ao ano anterior, como mencionado anteriormente.

Faturamento dos cinemas do Brasil
Fonte: Ancine. Dados publicados em 22/02/2019; 21/01/2020 e 29/03/2021

A forma como o cinema é consumido já começou a sofrer mudanças. O professor de Cinema do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Alfredo Suppia, acredita que a melhoria da qualidade e multiplicação que os serviços de streaming tiveram, está relacionada às transformações no cinema, mas que estas não são suficientes para decretar um fim das salas “Eu acho que [o cinema] vai continuar, sempre haverá o público que tem desejo de ir ao cinema e que irá ao cinema quando for seguro, seguindo os protocolos de segurança”.

Juliana Bravo, professora de Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense e produtora executiva na Viralata Produções, explica que o fechamento das salas de exibição levou as produtoras e distribuidoras a se adaptarem a novas estratégias de distribuição: adiar o lançamento em salas de cinema, expandir a carreira dos filmes para festivais nacionais e internacionais em circuitos para que as produções não ficassem paradas e assim ganhassem visibilidade e participar de categorias competitivas.

Com a pandemia, houve uma inversão na lógica de distribuição. Os filmes passaram a ser lançados inicialmente na janela de vídeo on demand e/ou com a televisão, principalmente a paga. E como as coisas estão retomando minimante as suas atividades e as salas abrindo, os filmes estão sendo lançados no circuito comercial de sala de exibição”.

Juliana Bravo

Ela ainda acrescenta que outro impacto significativo é a retraimento das políticas de incentivo e um desmonte sofrido na ANCINE durante esse tempo, sofrido sobretudo desde 2018. Não há editais sendo lançados, não há disponibilidade de auxílios emergenciais por parte da agência reguladora e não houve um sistema emergencial para segurar a indústria audiovisual durante o período de pandemia.

Isso vai levar a uma queda na quantidade de filmes sendo produzidos, uma grande perda de profissionais no setor e imigraram de área, principalmente para a publicidade, e fechamento de empresas independentes – o que leva a uma quantidade maior de grandes produções sendo exibidas; um problema histórico, mas que foi acentuado nos últimos anos. E não será algo que retornará facilmente nos próximos anos.

O cinema em Viçosa é uma das principais formas de lazer – especialmente antes da popularização da televisão. Mônica conta que nos anos 1970 a cidade já teve três salas de forma simultânea antes de ter ficado sem nenhuma para exibição durante alguns anos: “acho que Viçosa tem uma relação próxima com o cinema: é um espaço bem valorizado pela população da cidade, e também pela população da região.

Há uma grande expectativa para a reabertura das sessões. Afinal, nada se compara com a emoção de assistir a uma produção em uma sala escura e em uma tela projetada, compartilhando aquele momento com outras pessoas. Não dá para saber como o cinema será nos próximos anos, mas nada será como voltar a dividir estes momentos com as pessoas que nos cercam.

Matéria por: Beatriz Valente, Caroline Campos, Hugo Virgínio e Victoria Barel

Dados:

Hugo Virgínio

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