Entenda a presença e resistência das religiões afro-brasileiras em Viçosa-MG

  • As religiões afro-brasileiras somam mais de 1 milhão de adeptos no Brasil, reunidos no Candomblé e na Umbanda. 
  • Em Viçosa, há pelo menos quatro terreiros pouco conhecidos

O Pai de Santo umbandista Wemerson Inacio acredita que as entidades espirituais ajudam no nosso processo de evolução, compartilhando os saberes ancestrais, receitas de chás, de banhos, conselhos e outros conhecimentos que vieram dos povos pretos e indígenas.

Outro local é a Casa Cultural Vó Cambinda, da Mãe de Santo Maria do Carmo, a Mãe Du, que tem cerca de 50 anos de Santo. 

Eles nos contam sobre a falta de reconhecimento do município de Viçosa para com a contribuição dos terreiros. 

Mãe Du explica que o conhecimento das plantas medicinais poderia ser adotado dentro da rede pública de saúde em Minas – assim como já é feito no Paraná, estado onde as benzedeiras foram reconhecidas como profissionais de saúde.

A atuação dos terreiros no uso de conhecimentos ancestrais para prestarem serviço de consulta é uma das grandes contribuições dessas religiões na região. 

Os terreiros de Wemerson e Mãe Du já atenderam mais de duas mil pessoas nos últimos 10 anos

No entanto, devido ao preconceito enraizado na sociedade, muitos escondem que frequentam os terreiros para evitar julgamentos.

Somado ao Terreiro João Boiadeiro da Campina Verde, a Casa Cultural Vó Cambinda, zelada pela Mãe Du, já atendeu mais de duas mil pessoas

Desde os primórdios

A formação histórico-social da Zona da Mata Mineira é fortemente atravessada pela presença dos povos pretos e indígenas, fato que é desconhecido e desvalorizado tanto pelo poder público quanto por uma parcela da população viçosense. 

O professor José do Carmo, historiador especialista no assunto, conta que, devido à dificuldade de acesso à região, esses povos aqui se instalaram, promoveram a sua cultura e praticaram as suas religiões. 

Outras barreiras

A vinda da Igreja Católica, por volta do século XIX, com o objetivo principal de controlar as terras, colaborou para o silenciamento. Adotando estratégias de invisibilização dos povos pretos e indígenas, isolou suas culturas, se apropriou dos conhecimentos e ressignificou alguns de seus símbolos por meio do sincretismo religioso.

Diante desse cenário, a atual gestão da Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de Viçosa tenta uma maior aproximação com os líderes das religiões afro-brasileiras, apesar de haver vários obstáculos. 

O chefe do Departamento de Cultura, Marcelo Augusto, conta que, apesar de dificuldades financeiras e preconceitos, a proposta seria buscar uma integração maior entre as religiões e a sociedade, por meio de produções audiovisuais e da inclusão dessas comunidades em eventos. No entanto, o avanço nesse sentido ainda parece lento, uma vez que falta apoio direto à infraestrutura dos terreiros para garantir o seu funcionamento e a sua preservação, conforme nos relataram Wemerson e Mãe Du.

Resistência e contribuição

Apesar de enfrentar o preconceito e o descaso, esses e tantos outros terreiros seguem resistindo e prestando seus serviços para a população viçosense, tanto para quem é adepto, quanto para quem nunca foi a um terreiro. Essas heranças estão presentes em diversos aspectos de Viçosa, que, para além da prática espiritual, envolvem arte, sociedade, história e medicina ancestral

Wemerson reforça a necessidade dos terreiros do município atuarem em conjunto para seguirem resistindo e preservando a cultura:

“os terreiros cuidam do próximo, contribuindo para a evolução espiritual e carnal, independente de quem os procuram, porque a Umbanda abraça diversas causas”.

Na maioria dos terreiros de religiões afro-brasileiras há um elemento em comum presente em todos eles: a vela.

Texto original

Por: Heloísa Puri e Laura Queiroz.

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