Fé no combate à fome: Entenda como a solidariedade religiosa está transformando vidas.
instituições religiosas e não governamentais há anos preenchem o vazio deixado pelo poder público municipal no combate à fome.
Falar sobre a fome como uma situação real e latente no Brasil pode parecer uma distopia, mas não é. A Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia) define três graus de insegurança alimentar para caracterizar a fome: leve, moderada e grave. A nutricionista Jéssica Almeida explica que o conceito de fome é a privação fisiológica de comida.
“A pessoa que está com fome sente dor ou desconforto físico pela falta de alimento. Já a insegurança alimentar considera não só a quantidade de alimentos a que a pessoa tem acesso, mas também a qualidade“.
De acordo com um levantamento feito pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (Fao), o Brasil voltou a fazer parte do Mapa da Fome em 2018, com 4,1% da população em situação de insegurança alimentar moderada e grave. No contexto estadual, uma pesquisa realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) revelou que mais da metade da população mineira possui algum tipo de insegurança alimentar, número equivalente a cerca de 11,1 milhões de pessoas. Esses dados revelam a urgência de iniciativas de combate à fome e a importância da Assistência Social nas cidades mineiras.
Ação filantrópica e religiosa na assistência social de Viçosa
A Assistência Social é um direito garantido a todo cidadão e dever do poder público. O órgão responsável por reunir os representantes do governo e da sociedade civil a fim de discutir e fiscalizar o setor, na esfera municipal, é o Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS). Conforme previsto na lei nº 12.435/2011, a gestão pública do município é incumbida do dever de prover recursos e estrutura para viabilizar a prestação de serviços socioassistenciais. No entanto, o protagonismo no trabalho de assistência social em Viçosa é, historicamente, assumido pelas Entidades Religiosas e Organizações Não Governamentais (ONGs). A fé e os valores cristãos, somados à pressa de quem tem fome, conduzem igrejas e instituições sem fins lucrativos do município à prestação de serviços de assistência social.
A Associação Assistencial e Promocional da Pastoral da Oração de Viçosa (Apov) é uma entidade filantrópica que atua com foco no bairro Nova Viçosa e oferece, por meio dos projetos Escolinha e Caminhar, um ambiente com alimentação de qualidade para crianças em situação de vulnerabilidade socioeconômica e insegurança alimentar. A organização conta com o apoio da Comunidade Católica Pequena Via,empresas privadas e doações de famílias associadas para a realização de suas atividades e da prestação de auxílio às famílias que precisam de doações.
De acordo com o diretor geral da Apov, Renato Luiz Gonçalves, o desenvolvimento das crianças é constantemente avaliado pela equipe. Renato destaca que, ao localizar uma criança em situação de subnutrição, a assistente social da instituição é acionada e mobiliza a doação de cestas básicas para aquela família.
“A nossa nutricionista lutou para que as nossas crianças tivessem todo dia proteína, uma alimentação orgânica, arroz, feijão e verdura. As crianças têm uma alimentação rica enquanto estão aqui na Apov. Sempre que necessário, é feito um acompanhamento direto com a família com dieta e uma proposta terapêutica para ajudar na desnutrição”.
Outra instituição que possui destaque na cidade de Viçosa é a Rebusca Ação Social Evangélica. Ligada à Igreja Presbiteriana, a Rebusca realiza um serviço de contraturno para crianças, promove atividades artísticas e multidisciplinares, além de oferecer refeições básicas, como café da manhã, almoço e jantar. Os recursos são fornecidos por pessoas físicas e jurídicas que, voluntariamente, contribuem para viabilizar o projeto. Essas instituições recebem um pequeno incentivo da prefeitura, o qual é distribuído de forma inconstante e não proporcional à necessidade do município.
Protagonismo do Terceiro Setor
A Assistência Social por parte do poder público em Viçosa acontece, principalmente, na distribuição de cestas básicas. Contudo, essa presença é vista apenas de forma pontual e descontínua, seguindo o que a prefeitura classifica como “demanda espontânea”.
A assistente social Vera Saraiva afirma que as famílias em vulnerabilidade são mapeadas pelo Cadastro Único e recebem auxílio mensal da prefeitura: “essa é a forma que encontramos para, pelo menos, minimizar a fome”.
Por sua vez, o depoimento de Sara Silva mostra a relevância da assistência social por parte do terceiro setor em Viçosa. Sara é moradora do bairro Nova Viçosa, mãe solo e beneficiada da Apov. Ela relata que o apoio da instituição contribui constantemente para a alimentação e manutenção da saúde de seus filhos.
“A minha vida é muito difícil e o maior auxílio que eu tenho é da Apov. Posso deixar os meus meninos lá, sei que estarão bem e alimentados. Aí, então, eu posso ir atrás do meu emprego”.
Por: Carlos Daniel Borges, Gabriel Castro, Henrique Tempone, Maria Izabela Viana e Maria Paula Faria.
Reportagem: https://online.anyflip.com/nciwp/rrhh/mobile/index.html, páginas 20 e 21
Adaptação: Tayssa Lopes (112997) e Ana Luíza Campos (113009).