“Lixo” nosso de cada dia?
Seu “lixo” tem início, meio e fim. Conheça todo o gerenciamento de resíduos sólidos, do descarte ao aterro sanitário, e entenda qual a sua responsabilidade neste processo.
O município de Viçosa possui aproximadamente 80 mil moradores e conta com a peculiaridade de ser um polo universitário, abrigando uma população flutuante de quase 20 mil universitários (IBGE, 2014). Esse cenário gera um impacto direto na arrecadação de resíduos sólidos, no qual é necessária uma atenção especial para tal setor. Sendo assim, a cidade tem o apoio do SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto), uma autarquia municipal responsável por toda gestão dos sistemas de coleta e destinação dos resíduos sólidos, para possibilitar o melhor manejo desses despejos.
Conforme os dados apurados em 2021 pela SNIS (Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento), o recolhimento de resíduos urbanos em Viçosa cobre 98% da totalidade territorial e atinge uma coleta diária de 0,54 kg por pessoa. Dessa forma, o SAAE foi responsável, no ano de 2022, por mais de 15 toneladas, em média, de resíduos produzidos em Viçosa, no qual quase 99% são destinados ao aterro sanitário.
Segundo o Serviço Geológico do Brasil, aterro sanitário é o local de destino dos resíduos sólidos urbanos provenientes da coleta de lixo doméstico e de alguns resíduos industriais não perigosos, escolhidos de forma a não causar danos à saúde pública e à sua segurança, minimizando os impactos ambientais. De acordo com o Diretor de Limpeza Pública do SAAE, Maxmiler Ferreira, o aterro sanitário de Viçosa segue todas as normas de gerenciamento necessárias para funcionamento.
Processo de descarte
Durante visita ao aterro, o diretor explicou todo o processo do descarte dos resíduos para a nossa equipe, que começa a partir da coleta nas casas. Em seguida, o material é levado até o local do aterro, onde é pesado. O próximo passo é o descarregamento do resíduo, de forma que uma retroescavadeira o empurra para um nível abaixo, onde são formadas camadas que, posteriormente, serão cobertas por terra para evitar mau-cheiro, insetos e animais.
O terreno do aterro é preparado previamente, o chorume, líquido poluente resultante da decomposição dos resíduos, é captado por canos e direcionado para duas lagoas, que são devidamente impermeabilizadas, para impedir que o material infiltre no solo e venha a contaminar o lençol freático. Parte do chorume evapora e o restante é pulverizado na parte superior do aterro para que assim ele seja drenado para a lagoa novamente. Além disso, bimestralmente acontecem testagens das redes pluviais próximas para comprovar que estas não estão sendo contaminadas. Segundo Maxmiler, o tratamento do chorume não acontece devido ao fato da cidade não possuir essa tecnologia e o processo é muito caro.
O aterro também conta com captação do biogás liberado pelos resíduos em decomposição, os gases são captados e queimados. O local possui canaletas que drenam a água da chuva, preservando o terreno, evitando inundações e contaminações. O aterro sanitário de Viçosa funciona mesmo com o descumprimento de um Termo de Ajustamento de Conduta, que ocorreu por conta de questões das gestões anteriores.
Ainda de acordo com o Diretor, o aterro ainda possui um prazo de vida de 9 a 10 meses. Após esse período, a única solução seria enviar os descartes para outra cidade. Outra questão da qual o SAAE ainda aguarda resposta é a aprovação do espaço para um novo aterro. O pedido de licença foi feito em 2022 após um convênio com a UFV (Universidade Federal de Viçosa), onde foi desenvolvido um extenso documento que serviu para a base da solicitação. Atualmente o processo se encontra arquivado.
Vida útil do aterro sanitário
Como solução para a sobrecarga do aterro sanitário, Marcos Nunes, diretor-presidente do SAAE, ressalta a importância da coletividade e de uma gestão compartilhada: “Hoje a gente recicla 5% do resíduo do município, se nós tivéssemos os resíduos na nossa casa, teríamos potencial para universalizar isso. Mas não há essa atitude cultural de separar o resíduo na nossa casa’’. Além disso, de acordo com Keivison Almeida, mestre em engenharia civil na concentração de sanitária ambiental pela UFV, o impacto dessa sobrecarga prejudica principalmente a vida útil do aterro, que acaba sendo reduzida devido à saturação causada por resíduos que poderiam ser descartados de maneira correta.
Os resíduos sólidos, de acordo com a Lei de Nº 12305, de agosto de 2010, são materiais orgânicos e inorgânicos. Os resíduos orgânicos são compostos gerados da matéria animal ou vegetal, como resto de comida, por exemplo, se não descartados corretamente, ocorre a produção de chorume. Por outro lado, se este material for descartado corretamente, pode ser transformado em adubo, por meio do processo de compostagem. E, existem os resíduos inorgânicos, que são produzidos por materiais não naturais, como o plástico, garrafa pets, vidros entre outros, o que pode ocasionar, se forem descartados incorretamente, poluição no meio ambiente devido o seu processo de decomposição ser longo e demorado
Por isso, em Viçosa, desde 2008 a coleta seletiva de resíduos sólidos acontece por meio das associações de catadores, que são: ACAMARE (Associação de Usina de Triagem e Reciclagem de Viçosa) e a ACAT (Associação dos Catadores e Materiais Recicláveis de Viçosa). As duas associações, em parceria com o SAAE, recolhem os materiais recicláveis, como papelão, garrafas pets, garrafas de vidro, e entre outros recicláveis, em diferentes rotas nos bairros do município, com o objetivo de promover o reaproveitamento destes materiais inorgânicos em local apropriado. Esta ação contribui também para a limpeza da cidade.
Associação de catadores de Viçosa
a presidente da ACAT, Eni Brandão, após a coleta dos resíduos sólidos recicláveis nos bairros, os caminhões levam os materiais para a sede, onde eles passam, a princípio, pela separação (triagem), após essa etapa, os resíduos são prensados e pesados para serem vendidos e, posteriormente, serem reutilizados como matéria prima. Estes produtos são levados para indústrias que reaproveitam os recicláveis para gerar novos objetos e utensílios, em uma entrevista realizada com o Luciano Rezende, comprador dos materiais recicláveis da ACAT, ressalta o processo realizado após a compra, “Eu separo os materiais que quero comprar, como papelão, garrafas pets, menos o papel branco. Todos os meses eu venho aqui e junto sacos de diferentes materiais, ao todo são cerca de 80 quilos que eu levo para as fábricas da região para a destinação correta”.
Além disso, parte do dinheiro arrecadado pelas associações é destinado à compra de EPIs (Equipamento de Proteção Individual), pagamento de contas, e também, no pagamento dos trabalhadores. Segundo a Presidente da ACAMARE, Selma de Fátima, “Nós temos um quadro com os preços das embalagens de plásticos, de vidros, papelão, e cada venda que realizamos destes materiais, o dinheiro que conseguimos ao longo do mês, é dividido para os trabalhadores daqui, e utilizamos em parte para a compra de Epi’s e outros”.
Para diminuir o número de resíduos diários destinados ao aterro sanitário, cerca de 50 toneladas, e ampliar a reciclagem, é necessário que haja uma gestão compartilhada de gerenciamento dos resíduos sólidos, que depende do empenho dos prestadores de serviço (SAAE), da população e das associações que reciclam os materiais. ‘’Não é uma questão de dificuldade, é sobre parar para enxergar como esse problema pode ser solucionado’’, ressalta Renan Costa, responsável pelo gerenciamento da DGS (Divisão de Gestão de Resíduos.
Dentro dessas ações conjuntas, o primeiro papel é o da população, durante o descarte de seus resíduos. A coleta seletiva é um direito do cidadão, uma vez que existe uma taxa de remoção e destinação dos resíduos, todavia, cabe a este realizar a “triagem dos materiais, fazendo a separação do material reciclável do rejeito orgânico, com a possibilidade de realizar, ainda, a compostagem’’, como esclarece a Professora Nádia Dutra, responsável pela avaliação do impacto da Política Nacional de Resíduos Sólidos na coleta seletiva em Viçosa. Após este processo, é necessário que o cidadão se informe sobre os horários, dias e pontos de coleta seletiva, pois a triagem só é efetiva quando os materiais são destinados de forma adequada, sendo coletados pelas próprias associações, caso contrário, todo item separado será descartado no aterro, gerando um desperdício de materiais recicláveis.
Sobre isso, o especialista Keivison Almeida alerta sobre os impactos do descarte incorreto para o meio ambiente e para a saúde pública: ‘’Quando você mistura esses resíduos e descarta de forma inadequada, tem uma contaminação e poluição que acaba acarretando, também, a saúde humana’’. Dessa forma, quanto mais cidadãos se empenharem na prática da coleta seletiva, menos materiais que são fonte de renda dos catadores serão descartados no aterro sanitário, como ressalta o atual Diretor de Limpeza Pública da autarquia, Maxmiler Ferreira: “Apesar do SAAE coletar os resíduos, a população tem que cooperar respeitando o dia e o horário de coleta seletiva’’.
Por fim, para contemplar de forma justa ambas associações e atender uma maior extensão territorial, a coleta seletiva no município de Viçosa foi dividida, atribuindo a cada grupo a responsabilidade de determinados bairros. Confira na lista dos dias e horários de coleta seletiva e a associação responsável pela sua localidade. A partir disso, faça sua parte, contribua com o meio ambiente realizando a separação dos resíduos e os destinando corretamente.
reportagem: Izadora Arruda e Juliana Dias