Lixo Nosso de Cada Dia? Entenda como e para onde vai o seu lixo

Saiba que o lixo que você produz em casa e no trabalho tem início, meio e fim. Conheça o gerenciamento de resíduos sólidos, do descarte ao aterro sanitário. Entenda os desafios da gestão e qual a sua responsabilidade neste processo.

Segundo o Censo IBGE/2022, Viçosa possui 76.430 moradores e uma população flutuante de aproximadamente 15 mil pessoas. Esse cenário gera um impacto direto na arrecadação de resíduos sólidos, sendo necessária uma atenção especial para o setor. A cidade conta com o apoio do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), autarquia municipal responsável pela gestão dos sistemas de coleta e destinação dos resíduos sólidos, permitindo melhor manejo desses despejos.

Fonte: Ana Clara Ponté

Dados de 2021 do Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento (SNIS) evidenciam que o recolhimento de resíduos urbanos em Viçosa cobre 98% da totalidade territorial e atinge uma coleta diária de 0,54 kg por pessoa. Com isso, o Saae foi responsável, em 2022, por mais de 15 toneladas, em média, de resíduos produzidos na cidade, no qual quase 99% foram destinados ao aterro sanitário.

Aterro Sanitário e suas funcionalidades

Aterro sanitário é o local de destino dos resíduos sólidos urbanos provenientes da coleta de lixo doméstico e de alguns resíduos industriais não perigosos, escolhidos de forma a não causar danos à saúde pública e à segurança. De acordo com essa definição do Serviço Geológico do Brasil, isso faz com que os impactos ambientais diminuam.

Acompanhada pelo diretor de Limpeza Pública do Saae, Maxmiller Ferreira, a reportagem da PH Rolfs visitou o aterro sanitário de Viçosa. O diretor dos resíduos: começa a partir da coleta nas casas, depois o material segue até o local do aterro, onde é pesado e, em seguida, descarregado e empurrado por uma retroescavadeira para um nível abaixo. Nesse nível são formadas camadas que posteriormente serão cobertas por terra para evitar mau-cheiro, insetos e animais.

O terreno do aterro precisa de um preparo prévio. O chorume, líquido poluente resultante da decomposição dos resíduos, é captado por canos e direcionado para duas lagoas, que são impermeabilizadas para impedir que o material infiltre no solo e contamine o lençol freático. Parte do chorume evapora e o restante é pulverizado na parte superior do aterro para que ele seja drenado para a lagoa novamente. Além disso, a cada dois meses ocorrem testagens das redes pluviais próximas para checagens de não-contaminação.

Segundo Maxmiler, o tratamento do chorume poderia ser feito, mas não acontece devido à necessidade de uma tecnologia específica, ainda muito cara. Além disso, o aterro também conta com captação do biogás: após liberado pelos resíduos em decomposição, os gases são captados e queimados. O local possui canaletas que drenam a água da chuva, preservando o terreno, evitando inundações e contaminações.

O aterro sanitário de Viçosa funciona mesmo em face de um Termo de Ajustamento de Conduta, que ocorreu por questões relacionadas às gestões anteriores. Apesar disso, de acordo com o diretor, atualmente o aterro tem todas as normas de gerenciamento necessárias para o seu funcionamento.

Ainda de acordo com Maxmiler, o aterro ainda possui um prazo de vida de nove a 10 meses. Após esse período, a única solução seria enviar os descartes para outra cidade. Outra questão da qual o Saae ainda aguarda resposta é a aprovação do espaço para um novo aterro. O pedido de licença foi feito em 2022, após um convênio com a UFV. Foi desenvolvido um extenso documento que serviu para a base da solicitação.

Possíveis soluções para o descarte de materiais

Como solução para a sobrecarga do aterro sanitário, o diretor-presidente do Saae, Marcos Nunes, ressalta a importância da coletividade e de uma gestão compartilhada:

“Hoje a gente recicla 5% do resíduo do município. Se nós tivéssemos os resíduos na nossa casa, teríamos potencial para universalizar isso. Mas não há essa atitude cultural de se separar o resíduo em casa”.

Além disso, de acordo com o especialista Keivison Almeida, mestre em engenharia civil voltada para a área sanitária ambiental, o impacto dessa sobrecarga prejudica principalmente a vida útil do aterro, que acaba sendo reduzida devido à saturação causada por resíduos que poderiam ser descartados de maneira correta.

Os resíduos sólidos, conforme a Lei 12305/2010, são materiais orgânicos e inorgânicos. Os resíduos orgânicos são compostos gerados da matéria animal ou vegetal, como resto de comida, por exemplo. Se não descartados corretamente, podem produzir chorume. Mas se descartados da forma correta, podem ser transformados em adubo, por meio do processo de compostagem. Já os resíduos inorgânicos são produzidos por materiais não naturais, como o plástico, garrafas pets, vidros, entre outros. Se forem descartados incorretamente, podem poluir o meio ambiente em função do longo tempo estimado para sua decomposição.

Visão panorâmica do aterro sanitário de Viçosa (MG). Fonte: Arquivo Saae

Coleta seletiva na cidade

Desde 2008 a coleta seletiva de resíduos sólidos acontece por meio de duas associações de catadores, a Associação de Usina de Triagem e Reciclagem de Viçosa (Acamare) e a Associação dos Catadores e Materiais Recicláveis de Viçosa (Acat). As duas associações, em parceria com o Saae, recolhem os materiais recicláveis em diferentes rotas nos bairros do município, com o objetivo de promover o reaproveitamento destes materiais inorgânicos em local apropriado. Esta ação é fundamental para a limpeza da cidade.

Segundo a presidente da Acat, Eni Brandão, após a coleta dos resíduos sólidos recicláveis nos bairros, os caminhões levam os materiais para a sede, onde passam, a princípio, pela separação (triagem). Após essa etapa, os resíduos são prensados e pesados para serem vendidos e, posteriormente, reutilizados como matéria-prima. Estes produtos são levados para indústrias, que reaproveitam os recicláveis para gerar novos objetos e utensílios. Para a reportagem, Luciano Rezende, comprador dos materiais recicláveis da Acat, nos conta sobre o processo realizado após a compra: “Eu separo os materiais que quero comprar, como papelão, garrafas pets, menos o papel branco. Todos os meses venho aqui e junto sacos de diferentes materiais. Ao todo são cerca de 80 quilos que eu levo para as fábricas da região para a destinação correta”.

Garrafas plásticas coletadas e separadas pelo ACAT. Fonte: Redes Sociais / ACAT

Além disso, parte do dinheiro arrecadado pelas associações é destinado à compra de Equipamento de Proteção Individual (EPI), pagamento de contas e dos trabalhadores. A presidente da Acamare, Selma de Fátima, conta que “existe um quadro com os preços das embalagens de plásticos, de vidros e papelão. Cada venda que realizamos destes materiais, o dinheiro que conseguimos ao longo do mês é dividido para os trabalhadores daqui”.

Para diminuir o número de resíduos diários destinados ao aterro sanitário (cerca de 50 toneladas) e ampliar a reciclagem, é necessário que haja uma gestão compartilhada de gerenciamento dos resíduos sólidos, que depende do empenho dos prestadores de serviço do Saae, da população e das associações que reciclam os materiais. “Não é uma questão de dificuldade, é sobre parar para enxergar como esse problema pode ser solucionado”, ressalta Renan Costa, responsável pelo gerenciamento da Divisão de Gestão de Resíduos.

A parceira principal dessa ação conjunta é a população da cidade, que já pode cuidar da separação do lixo dentro de casa. A coleta seletiva é um direito do cidadão, uma vez que existe uma taxa de remoção e destinação dos resíduos. Entretanto, cabe às famílias em suas casas realizarem a “triagem dos materiais, fazendo a separação do material reciclável do rejeito orgânico, com a possibilidade de realizar, ainda, a compostagem”, como esclarece a professora Nádia Dutra, professora do Departamento de Ciências Sociais da UFV e responsável pela avaliação do impacto da Política Nacional de Resíduos Sólidos na coleta seletiva em Viçosa.

Após este processo, é necessário que o cidadão se informe sobre os horários, dias e pontos de coleta seletiva, uma vez que a triagem só é efetiva quando os materiais são destinados de forma adequada, sendo coletados pelas próprias associações. Caso contrário, todo item separado será descartado no aterro, gerando um desperdício de materiais recicláveis.

Sobre isso, o especialista Keivison Almeida alerta sobre os impactos do descarte incorreto para o meio ambiente e para a saúde pública: “Quando você mistura esses resíduos e descarta de forma inadequada, tem uma contaminação e poluição que acaba acarretando, também, à saúde humana”. Dessa forma, quanto mais famílias se empenharem na prática da coleta seletiva, menos materiais que são fonte de renda dos catadores serão descartados no aterro sanitário, como ressalta o atual diretor de Limpeza Pública da autarquia Maxmiler Ferreira:

“Apesar do Saae coletar os resíduos, a população tem que cooperar respeitando o dia e o horário de coleta seletiva”.

Por fim, para contemplar de forma justa ambas associações e atender uma maior extensão territorial, a coleta seletiva no município de Viçosa foi dividida, atribuindo a cada grupo a responsabilidade de determinados bairros. A lista pode ser acessada em www.saaevicosa.mg.gov.br/servicos/re- siduos-solidos/coleta-seletiva-horarios. A partir disso, faça sua parte, contribua com o meio ambiente realizando a separação dos resíduos e os destinando corretamente.

Exercício Exercício de adaptação de texto para web, feito por: Maysa Cassemiro (113003) e Fátima Tatiana (113006).
Texto
original: Lixo Nosso de Cada Dia? – Por Ana Clara Ponté, Elidia Penedo, Izadora Arruda,Júlia Curcio e Stefhany Barreto.

Revista PH Rolfs – Nº 12 – Ano 11 – Outubro 2023 (anyflip.com)

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