O investimento financeiro no mercado de bicicletas

O investimento financeiro no mercado de bicicletas

por Anna Alvarenga, Bruno Figueiredo, Jéssica Morgenia e Letícia Passos

Em um cenário onde cada vez mais o custo dos meios de transporte elevam, seja no valor do combustível ou no transporte público, brasileiros optam por um transporte rápido e de custo relativamente baixo. A estudante de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa, Nathana Rudio, é uma das ciclistas que adotou as duas rodas para se locomover na cidade. 

Sem muito dinheiro para investir em uma bicicleta nova, Nathana preferiu economizar adquirindo uma bicicleta usada, mas ainda em bom estado de conservação.

“Sempre fui de andar de bicicleta. Não gosto de andar a pé porque acho que gasta muito tempo. […] na primeira vez que eu comprei uma [bicicleta] eu estava sem dinheiro e a usada saía mais barato.”

Nathana Rudio

Desde 2016, o mercado nacional de bicicletas vem crescendo progressivamente, atingindo a marca de R$2 bilhões em vendas, segundo dados disponibilizados pelo SIDRA, Sistema do IBGE de Recuperação Automática de Dados, abrangendo os números da indústria anual brasileira. Ainda assim, o mercado esteve sempre à mercê de relativas quedas na produção e nas vendas, tendo anos, como 2015 e 2017, em que as vendas foram relativamente inferiores ao que as indústrias foram capazes de produzir. Logo, anos como 2016 e 2018 tiveram mais vendas do que produções, a fim de suprir com a carência do ano anterior. 

Ao centrarmos num recorte mais específico da indústria do ciclismo, o Polo Industrial de Manaus (PIM), o faturamento teve um crescimento anual de, em média, 17%, segundo os Dados do Setor disponibilizados pela Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares) em 2020. A queda na produção e nas vendas percebida entre 2014 e 2016 não foram suficientes para afetar de forma negativa a receita bruta deste mercado. Em 2019, por exemplo, o PIM alcançou a marca de quase R$800 milhões de faturamento, tendo cerca de 900 mil unidades vendidas, somente nas empresas do polo industrial.

Logo, percebe-se o constante crescimento deste mercado tanto por parte da indústria quanto do público consumidor. De acordo com as indústrias associadas à Abraciclo, a Caloi, montadora brasileira com mais de 120 anos no mercado, cuja sede está localizada na Grande São Paulo, lidera o ranking de capacidade produtiva anual, 1 milhão e meio de unidades, empregando diretamente cerca de mil colaboradores. Enquanto isso, em segundo lugar, a montadora, originalmente piauiense, Houston, com sede no PIM, desde 2015, produz a média de 396 mil bicicletas por ano, empregando um número bem inferior de colaboradores, 140.

O cenário nacional de produção e vendas reflete diretamente no mercado viçosense, no interior de Minas Gerais, onde se vê cada vez mais um crescimento exponencial das bike shops. A Cicleminas, loja em atuação desde 1993, é um exemplo de quem já vivenciou os altos e baixos do comércio de bicicletas na cidade, quando em diversos momentos tinham o suficiente para permanecer de portas abertas.

O gerente da Cicleminas, confirma que o boom das vendas esteve em evidência desde 2019, como mostrado anteriormente pelos dados do IBGE e da Abraciclo. A loja, hoje, por exemplo, possui um catálogo de bicicletas infanto-juvenil às mais avançadas tecnologicamente, onde o cliente pode ir de um investimento de R$500 até R$115 mil. 

Segundo uma pesquisa independente realizada com ciclistas da cidade, 41,5% investem de R$1 mil  a R$5 mil na compra de sua bicicleta. Ainda assim, os mais apaixonados pelo esporte, 22%, desembolsam, facilmente, mais de R$5 mil. O entrevistado E.A, que prefere manter sua identidade em segredo, já chegou a gastar mais de R$30 mil no esporte, optando sempre por pedaladas em grupo e em locais mais seguros, por conta de possíveis roubos. 

Yuli Magalhães reconhece que o mercado está aquecido e os preços dos equipamentos, serviços e manutenções cada vez mais elevados. Anos antes, conseguiria facilmente utilizar de suas duas bicicletas, mountain bike (terra) e speed (estrada), mas com o novo cenário, estagnou e parou de investir além do necessário.

“A mountain bike tem ficado mais pra um final de semana, um domingo, uma coisinha mais regrada, porque realmente não está dando pra manter esses produtos.”

Yuli Magalhães
Na foto, Yuli Magalhães.

O mercado viçosense tem optado cada vez mais por materiais produzidos em território nacional. As lojas locais especializadas utilizam esses produtos por conta de seu maior custo benefício e facilidade de alcance. Ainda assim, muitos fanáticos pelo ciclismo preferem gastar mais em componentes importados para suas bikes.

“As nacionais são um pouco mais em conta sim. Mas eu pessoalmente sou cliente das importadas. Nada contra as nacionais, já tive algumas… Mas as importadas têm um pouco mais de qualidade. Estão todas caras. As importadas mais caras ainda. Mas a qualidade das importadas é maior”

Rodrigo

“O próprio ciclista fortalece a alta dos produtos importados. Pois não dá preferência às empresas nacionais que estão com cada vez mais produtos de qualidade. É como dizem por aí, a grama do vizinho é sempre mais verde.”

Cicleminas

Segundo dados da Abraciclo, o país do qual o Brasil mais importou bicicletas, de 2014 à 2019 foi a China, atingindo a marca de 217.607 unidades em 2015. Contudo, através dos dados da associação é possível perceber uma queda no número de importações através dos anos. Ou seja, por mais que ciclistas optem por importar (por conta própria) bicicletas e componentes, o mercado brasileiro vem crescendo cada vez mais com sua produção nacional.

Os dados revelam a grande diversidade presente no universo das bikes. Os ciclistas vão de super empenhados em buscar a melhor das peças importadas pelos maiores preços aos que simplesmente buscam pelo simples e confortável ao bolso. Foi possível comprovar isso através de uma pesquisa independente realizada na cidade de Viçosa, que mostra a discrepância entre os valores pagos nas bicicletas dos ciclistas.

Nathana e Yuli são uma pequena parte de um imenso e diversificado grupo de ciclistas que se aventuram pelas ruas do município de Viçosa. O interesse e movimentação dos chamados “baikeros” e suas bicicletas na pequena cidade têm sido tão expressivos que, uma ciclofaixa unidirecional está em seus estágios iniciais de instalação no maior ponto turístico e queridinho dos ciclistas locais: o campus da Universidade Federal de Viçosa. 

Sendo o local de trânsito principal dos entrevistados, a ciclofaixa é uma necessidade antiga da Universidade e tornou- se significamente inadiável, como enfatizado por Matheus Oliveira, arquiteto envolvido no projeto da ciclofaixa. 

“Isso é uma demanda antiga da universidade, os meios de transportes alternativos têm crescido cada dia mais e as pessoas apostam na utilização da bicicleta. A universidade em si sempre teve a preocupação com a segurança do ciclista e tem um problema que é o aumento do número de automóveis no campus. O objetivo da ciclofaixa é também que promova o uso da bicicleta pela comunidade e com isso diminua o número de veículos automotores circulando no campus.”. 

Parcialmente financiada pela UFV, a ciclofaixa será executada a partir de dois cortes orçamentários. O trecho 1, que vai das 4 pilastras até o Restaurante Universitário 2, será  executado com recursos da Universidade e o trecho 2, entre a Caixa Econômica e a Funarbe, será financiado através de uma emenda parlamentar.  

Essencial para a segurança de ciclistas e pedestres, os projetos para a ciclofaixa se iniciaram em Julho de 2020 e estão finalmente saindo do papel. Matheus lembra: “(...) a partir do momento que criamos a ciclofaixa nos damos segurança ao ciclista em relação aos outros meios de transporte.” 

Podemos dizer então que, Nathana e Yuli, assim como os demais ciclistas que percorrem as ruas Viçosenses e a Universidade Federal de Viçosa, em breve não estarão felizes apenas por investir em um meio de transporte prático e em conta, mas também, estarão felizes por finalmente, poderem circular em segurança.

Através da pesquisa independente realizada foi possível entender a rota da maioria dos “baikeros” e também o motivo pelo qual fazem uso das bicicletas. O que deixa ainda mais evidente a necessidade da ciclofaixa na universidade.

Anna Alvarenga

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