O ouro escondido pela Cortina de Ferro
A história nos conta que de 1922 a 1991 a Rússia era a grande e respeitada União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – ou simplesmente URSS. Esse respeito, muito por conta do poderio político e militar do país, não ficou restrito ao campo político-militar, mas também se expandiu para outras áreas, e uma delas é a esportiva.
A Seleção Soviética – ou “Exército Vermelho”, como eram conhecidos – disputou, durante o período que existiu, sete Eurocopas e sete Copas do Mundo. As campanhas de destaque dos sovietes nas principais competições de futebol foram o título europeu em 1960, na França (além dos vices-campeonatos nas edições de 1964, 1972 e 1988) e o quarto lugar conquistado na Copa de 1966, na Inglaterra.
Além disso, a URSS tem três medalhas de bronze e duas de ouro em Olimpíadas, sendo uma delas conquistada sobre o Brasil nas Olimpíadas de Seul, em 1988, quando venceu o time que contava com nomes como Taffarel, Bebeto e Romário, futuros campeões mundiais com a Seleção Brasileira em 1994.
Os anos áureos
Durante todo o período em que o país existiu, a seleção da URSS esteve sempre na prateleira de destaque, ao lado de outras já consagradas equipes como Alemanha, Itália e Inglaterra. Os soviéticos, que tinham a vantagem de poder contar com os melhores jogadores das 15 nações que representavam o bloco, começaram a despontar a partir dos Jogos Olímpicos de Helsinque, Suécia, em 1952. Quatro anos depois, em Melbourne, na Austrália, conquistou a primeira medalha de ouro no futebol, batendo a Iugoslávia por 1×0 na decisão.
A primeira Copa do Mundo disputada pela União Soviética foi em 1958, na Suécia, tendo como destaque o goleiro Lev Yashin, considerado por muitos um dos maiores goleiros da história do futebol. Nela, se tornou a primeira equipe a enfrentar a Seleção Brasileira que tinha Pelé e Garrincha atuando juntos. Na ocasião, o “futebol científico” soviético não foi páreo para o talento brasileiro e saiu de campo com a derrota por 2×0.
A década de 60 foi marcada por boas aparições da esquete soviética e também pela fama de sempre cair nos momentos decisivos para as anfitriãs.
Em 1960 veio o momento de maior glória dos soviéticos no futebol. Em território francês – que na época apoiava os EUA na Guerra Fria -, na “final dos blocos”, a União Soviética venceu a Iugoslávia na grande final por 2×1 para conquistar o único título do torneio no futebol profissional – a União Soviética venceu, ao todo, 11 títulos de Eurocopa e dois de Copa do Mundo nas categorias de base.
Na Copa de 1962, no Chile, foi eliminado pelos anfitriões. Dois anos depois perdeu a final da Eurocopa para a Espanha, que sediava o evento. Em 1966 a União Soviética conquistou a quarta colocação no Mundial que aconteceu na Inglaterra ao ser eliminada na semifinal pela Alemanha Ocidental – que viria a ser derrotada pelos donos da casa na final.
Nos anos 70 angariou mais vices campeonatos e eliminações, além dos bronzes olímpicos conquistados, mas o destaque foi a ausência da seleção na Copa de 1974, na Alemanha Ocidental. Na ocasião, os socialistas precisariam jogar a repescagem para conquistar a vaga no Mundial, mas se recusaram a enfrentar o Chile em resposta ao golpe militar de Augusto Pinochet no ano anterior, que foi patrocinado pelos Estados Unidos.
A derrocada
O futebol soviético começou a se enfraquecer junto com a economia e a política do país, em meados de 1989. Alguns países do bloco se separaram antes do início da Copa de 1990, como a Estônia, a Letônia e a Lituânia, fazendo com que a seleção perdesse jogadores importantes para o elenco. Com a política e o esporte abalados, a URSS foi eliminada na primeira fase de uma Copa do Mundo pela primeira vez na sua história.
O último suspiro do então futebol soviético veio na Eurocopa de 1992. Representada como a Seleção da Comunidade dos Estados Independentes (CEI) – já que a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas se dissolveu em 1991 -, foi a última vez que uma equipe de futebol com atletas de países do bloco socialista entrou em campo para disputar uma competição de seleções. Com uma fraca atuação, foi novamente eliminada na primeira fase, encerrando um capítulo de décadas de sucesso como uma seleção sem bandeira, hino e vitórias.
Matéria tirada do OutrOlhar de Dez/2017