O papel das confecções locais na economia brasileira

Pequenas confecções, como a Querhym em Viçosa, enfrentam desafios, apostam na inovação e se destacam ao fortalecer os laços com as comunidades locais

Loja Qherhym em Viçosa MG.

O papel das pequenas confecções na economia brasileira

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e de entidades como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), as pequenas empresas representam 99% dos negócios formalizados no Brasil e contribuem com 27% do PIB, sendo, portanto, essenciais na economia do país. Dentro desse contexto, as pequenas confecções locais, como a Querhym Confecções em Viçosa, se destacam ao fortalecer os laços com as comunidades e atender às demandas específicas, como uniformes escolares e roupas de academia.

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Dados de instituições como a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), IBGE e Sebrae mostram o impacto do setor, os desafios e as oportunidades que ele enfrenta. Esse cenário levanta questões importantes: qual o papel das pequenas confecções locais no fortalecimento da indústria têxtil brasileira? Como elas podem se adaptar às mudanças do mercado para continuar crescendo?

Na tentativa de responder essas perguntas, esta reportagem investiga como essas pequenas confecções superam as dificuldades do mercado, aproveitam suas vantagens competitivas e se adaptam às transformações econômicas, buscando atender às novas demandas dos consumidores e garantir seu crescimento no setor.

Indústria têxtil e mercado de confecções no Brasil

A indústria têxtil possui um importante papel na economia brasileira, sobretudo no que diz respeito à geração de empregos e à movimentação da renda nacional. Suas origens, que remontam ao período colonial, foram influenciadas pela cultura europeia. A partir de 1900, com o surgimento das primeiras confecções nacionais, especialmente durante a Primeira Guerra Mundial, o setor começou a se consolidar no país, abrangendo desde a produção de fibras, como o algodão, até a confecção de peças. Atualmente, o Brasil é um dos líderes mundiais na produção de jeans e malhas, além de se destacar no design de moda praia, jeanswear e homewear, evidenciando a versatilidade e inovação desse setor.

O mercado de confecções, responsável pela fabricação e comercialização de produtos finais (vestuário, calçados e acessórios), abrange desde pequenas confecções locais até grandes marcas nacionais e internacionais. Esse é um setor essencial para a economia, visto que gera empregos e movimenta a cadeia produtiva. A indústria têxtil, por sua vez, inclui processos, como a produção de fibras, fiação, tecelagem e acabamento, fornecendo a matéria-prima que será transformada em produtos finais no mercado de confecções.

Fábrica da Rhodia.

O faturamento crescente do setor reflete sua relevância econômica. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), em 2023 o faturamento da cadeia têxtil e de confecção foi de R$ 203,9 bilhões, superando os R$ 193,2 bilhões de 2022 (IEMI, 2024). As exportações de produtos têxteis, exceto fibra de algodão, somaram US$ 956 milhões em 2023, enquanto as importações totalizaram US$ 5,8 bilhões, gerando um saldo negativo de US$ 5,6 bilhões na balança comercial. Esses números evidenciam a dependência do setor em relação às importações, o que pode impactar a competitividade das empresas nacionais.

Além disso, o setor emprega cerca de 1,3 milhão de trabalhadores formais. Se considerar os  empregos indiretos, o número chega a 8 milhões, com 60% dessa força de trabalho formada por mulheres (IEMI, 2024). Ao todo, são 25,3 mil unidades produtivas formais no país, tornando o Brasil o segundo maior empregador da indústria de transformação, atrás apenas do setor alimentício (PIA, 2021). A produção de peças totalizou 8,02 bilhões em 2023, abrangendo desde vestuário e meias até artigos técnicos.

Desafios e oportunidades no setor têxtil

Apesar das dificuldades, como os altos custos de importação de insumos e a concorrência com produtos estrangeiros, pequenas confecções locais têm identificado formas de se destacarem no mercado. Muitas vezes, essas empresas apostam em nichos específicos, como roupas personalizadas ou produções em menor escala, o que permite fidelizar clientes e atender às demandas regionais.

Dados da Pesquisa Mensal de Comércio do IBGE (novembro de 2024) indicam um crescimento acumulado no volume de vendas do comércio varejista de 2,7% ao ano e 2,4% nos últimos 12 meses, com destaque para um aumento expressivo de 8,0% em novembro. Esse crescimento pode estar relacionado à adaptação do setor às novas demandas do mercado, como a digitalização das vendas e o investimento em inovação nos processos produtivos. Estratégias sazonais, como promoções e datas comemorativas, também têm impulsionado as vendas.

Esses dados reforçam que o setor de confecção se destaca e possui oportunidades de expansão, principalmente para pequenas confecções que investem em processos inovadores, atendimento personalizado e estratégias alinhadas às necessidades locais e globais.

Transformação digital e inovação na Querhym Confecções

Assim como novas tecnologias são desenvolvidas, o mercado de vestuário precisa estar em constante transformação, com tendências inovadoras que ajudam a otimizar a produção e potencializar os resultados. Assim, esse cenário exige que as confecções locais se atentem às mudanças para sustentarem sua posição no mercado.

Formada em Administração pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e atual administradora da Querhym Confecções, Samara Milagres reforça que a inovação constante é importante para o crescimento das pequenas confecções:

“É necessário inovar em vários aspectos: modelos, cores, tecidos, maquinários e sistemas informatizados. Desde agulhas até os acabamentos finais, inovação é essencial. Se não houver melhorias, ocorre uma estabilização. Para acompanhar o mercado, principalmente nessa era digital, é fundamental estar atento às inovações trazidas pela internet, especialmente em relação aos modelos de roupas e outras peças. As pequenas confecções precisam estar atentas para não ficarem para trás”, afirma.

O impacto da inovação e os desafios enfrentados

Apesar da importância da inovação, Samara destaca os desafios que as pequenas empresas enfrentam ao tentar incorporar novas tecnologias e processos.

“Mudar um processo dentro de uma fábrica com mais de 20 anos de história é uma tarefa delicada. Uma confecção não funciona de maneira independente, pois cada parte do processo é interdependente. Quando você altera um processo, toda a cadeia produtiva é impactada”, explica.

Apesar disso, ela afirma que a Querhym Confecções busca trazer inovações e avanços, sempre que possível, a fim de melhorar a qualidade do produto final e a competitividade da empresa.

“Nos esforçamos para incorporar novos processos e tecnologias que tragam benefícios reais, mesmo diante das dificuldades de adaptação”, conclui.

No contexto das pequenas confecções, a adoção de práticas como as células de produção é uma das estratégias para melhorar a eficiência e a qualidade. Diferentemente das linhas de produção tradicionais, as células de produção funcionam como estações integradas de trabalho, onde equipes colaboram em diferentes etapas do processo de confecção. Isso facilita a customização, reduz estoques e permite maior controle da qualidade. Essa configuração é especialmente útil para atender demandas locais e nichos específicos.

História e trajetória da Querhym Confecções

A proprietária da Querhym Confecções, Arlete Soares, conta que a empresa surgiu em 2000, inicialmente funcionando dentro de casa, com costuras sob medida. Em 2003 foi formalizada e passou a oferecer serviços de confecção de camisas para silk-screen, até se consolidar na produção de uniformes e malharias em geral. Sobre os desafios enfrentados pela empresa, Arlete destaca a questão da mão de obra:

“No nosso ramo, você tem que ir em busca de contratar e treinar a pessoa. Dificilmente você encontra um trabalhador que já se encaixe na forma como você trabalha”.

Essa situação reflete uma dificuldade comum entre pequenas confecções, que muitas vezes precisam investir em qualificação para manter a produtividade e atender às expectativas dos clientes.

Querhym Confecções nos anos 2000

O futuro das pequenas confecções no Brasil

As confecções locais são uma parte importante na economia brasileira, não apenas como geradoras de emprego e renda, mas também como agentes de inovação e adaptação às novas demandas do mercado. Empresas como a Querhym Confecções demonstram a importância da flexibilidade e da atenção às especificidades regionais para o sucesso, ao investir em processos inovadores e estratégias personalizadas. Apesar das dificuldades enfrentadas, como a alta competitividade, os custos de produção e a escassez de mão de obra qualificada, as pequenas confecções se destacam pela capacidade de se reinventar, seja por meio da implementação de novas tecnologias, seja pela especialização em nichos de mercado. 

A força do setor têxtil no Brasil está em grande parte atrelada a essas iniciativas, que são fundamentais para fortalecer a indústria nacional, criar novas oportunidades de emprego e, ao mesmo tempo, atender às necessidades dos consumidores. O futuro do setor dependerá da capacidade dessas pequenas empresas de continuar a se adaptar e inovar, acompanhando as mudanças do mercado global e local, e oferecendo produtos que atendam cada vez mais a um público exigente e diversificado.

Por Clara Martins, Heloísa Puri, Larissa Fontes e Laura Queiroz para disciplina de Jornalismo Online.

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