Quanto custa o ‘novo normal’: Viçosa realoca gastos após pandemia de Covid-19
Casos da doença continuam a aparecer e novos desafios são propostos para o período pós-pandêmico.
Recentemente, ainda que de maneira mais branda, o município de Viçosa passou por uma onda de casos de Covid-19. De acordo com os dados do Boletim Epidemiológico de Covid da Secretaria de Saúde, no último mês de novembro foram registrados quase 100 casos na cidade. Número recorde em relação aos três meses anteriores em 2023, que apresentaram média de 55 casos/mês.
Já no cenário nacional, entre os dias 12 e 18 de novembro foram registrados 26.496 casos novos, número menor do que os 27.921 casos na semana anterior e do que os 44.412 casos entre os dias 29 de outubro e 4 de novembro. Mesmo com a diminuição em tal período, sete estados ainda registraram aumento abrupto de casos na referida semana. Os dados são do Informe de Vigilância das Síndromes Gripais do Ministério da Saúde.
Mas quando se trata de periculosidade da doença, a Covid tem sido superada. Entre os dias 8 de outubro e 4 de novembro, 615 mortes pela doença foram confirmadas por exames laboratoriais em todo o país, se distanciando das 1,25 mil mortes registradas em 2022; 6,77 mil em 2021 e 10,92 mil em 2020, segundo dados do Painel Interativo da Covid do Ministério da Saúde. Viçosa registrou duas mortes em 2023.
Fonte: Boletim Epidemiológico da Covid-19 em Viçosa
Fonte: Boletim Epidemiológico da Covid-19 em Viçosa
Terezinha, de 63 anos e comerciante na cidade de Viçosa, foi acometida pelo vírus recentemente. Ela já havia tido Covid uma vez no ano passado, e, segundo ela, desta vez os sintomas foram bem mais leves, e tratar a doença foi bem mais tranquilo.
“Todos os sintomas foram parecidos, porém, amezinados pela vacina. Foi bem tranquilo. Foi tipo uma gripe.”
Mesmo assim, Terezinha entrou na conta dos casos de Covid da cidade de Viçosa.
Gastos com a Covid foram realocados
Casos recorrentes e cada vez mais brandos. Muito por conta do processo de vacinação e o cuidado das pessoas, hoje a pandemia dá uma trégua para a população. Mas, será que podemos dizer que ela, enfim, acabou? No quesito organizacional e de planejamento estratégico dos órgãos públicos, a resposta é clara: não.
O mês é outubro de 2023 e, mais de três anos depois de que a epidemia de Covid-19 foi caracterizada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como uma pandemia, o ministério da Saúde ainda investe dinheiro na contenção e no tratamento da doença. A exemplo dos R$6.453.532,00 gastos pela pasta na operacionalização e no enfrentamento da pandemia em 2023, segundo dados do Portal da Transparência do Ministério.
Ainda que em escala reduzida, segundo os dados do ‘Portal de transparência da Covid-19’ da Prefeitura de Viçosa, foram gastos R$2.167,00 no período de jan/23 a set/23, valor que ainda impacta mas se diferencia dos R$2.201.181,11 referentes ao ano completo de 2022.
Fonte: Portal da transparência da Covid-19
De acordo com Luan Campos, Secretário de Administração de Viçosa, com a diminuição da necessidade de ações de urgência para a Covid, o tratamento e encaminhamento desses casos foi integrado à Policlínica da cidade, devido ao quadro leve que normalmente é visto em pacientes que já tiveram o quadro completo de vacinação. Desse modo, os gastos relacionados à Covid foram integrados à própria pasta de saúde.
O que acontece em Viçosa na realidade não mostra que os gastos de enfrentamento à pandemia diminuíram. De fato esse movimento ocorreu mas o montante maior não foi reduzido e sim realocado. É o que relata Luan Campos ao citar de exemplo o ambulatório pós-covid, idealizado pela Prefeitura, e que integra tratamentos de recuperação física e psicológica de recuperados da Covid à Policlínica da cidade.
Mas, e 2024?
Então, se estrategicamente a pandemia em si ainda não acabou, como o poder público se planeja para os próximos anos? De fato, uma tarefa difícil, mas que exige paciência por parte dos gestores.
Luan destaca dois pontos de planejamento para a cidade: o primeiro, é de que o planejamento da verba para o próximo ano dependerá, a priori, da verba disponibilizada pelo Governo Federal. Segundamente, devido às variáveis, até então, tão incertas do vírus da Covid, não é possível orientar-se o suficiente perante o aumento e diminuição repentinas de casos. Mas, uma constante se destaca: é preciso tratar a Covid com normalidade.
Marcella Ignacchiti, clínico geral, diz que o assunto é delicado, haja vista que a doença tirou a vida de muitas pessoas. Mas, segundo ela, com o avanço da ciência e das vacinas, hoje se pode viver em um cenário em que a infecção pela Covid apresenta-se com sintomas mais leves, logo pode ser vista de maneira mais branda.
“Atualmente, ainda estamos tendo casos confirmados de COVID-19, mas baixíssimos casos de complicação e morte, e isso demonstra a eficácia das vacinas. […] Precisamos estar cientes que o vírus da Covid não deixará de existir, novas variantes poderão surgir, não necessariamente mais graves, e que imunossuprimidos, idosos e grupos de risco deverão receber as doses de reforço da vacina.”, completou.
Portanto, a Covid-19 impactou e impactará nossas realidades. Assim como na vida de Terezinha, ou na programação do servidor público Luan. De qualquer modo, o planejamento é imprescindível e, ainda, todo cuidado é pouco.
Por Gabriel Ângelo, Gustavo Bossolane, Henrique Tempone, Isadora Viana e Vitor Rezende.
Esta reportagem foi produzida a partir de técnicas de Jornalismo de Dados e apresentada como resultado de uma atividade da disciplina Jornalismo Online (COM 365), ministrada pelo Profº Henrique Mazetti e vinculada ao Curso de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa.