Juiz de Fora concentra a maior parte das vacinas, enquanto outras cidades da Zona da Mata ficam para trás
Desigualdades na distribuição vacinal escancaram os desafios logísticos e estruturais enfrentados pelos municípios menores da região da Zona da Mata Mineira
A pandemia de COVID-19 trouxe desafios significativos para a saúde pública global. No Brasil, a distribuição de vacinas desempenhou um papel crucial na contenção do vírus, especialmente em regiões diversificadas como a Zona da Mata Mineira. De acordo com dados de 2022 da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, a quantidade total de vacinas recebidas pelas maiores cidades da Zona da Mata Mineira – que pode ser observado no gráfico – possuem uma discrepância significativa entre Juiz de Fora e os demais municípios. Juiz de Fora lidera de forma absoluta, com um total de 1.123.849 doses recebidas. Em contrapartida, grandes municípios da Zona da Mata, mas com populações menores, como Visconde do Rio Branco, receberam quantidades substancialmente menores, como é o caso das 74.081 doses destinadas à cidade.
Outros municípios de destaque incluem Barbacena, que recebeu 245.693 doses, e Muriaé, com 187.509 doses. Essas duas cidades estão entre as que mais receberam vacinas, embora ainda fiquem muito aquém de Juiz de Fora. Essa diferença pode ser atribuída ao fato de Juiz de Fora ser um polo regional em saúde e economia, além de possuir uma população consideravelmente maior.
Porém, se observamos o número de vacinas recebidas em proporção à população, vemos que os dados revelam um cenário mais equilibrado. Juiz de Fora, apesar de liderar em números absolutos, apresenta um índice proporcional de 2,08 vacinas por habitante, ficando atrás de algumas cidades menores, como Viçosa, que registra uma proporção de 2,00.
Por outro lado, Ubá e Muriaé, com índices de 1,75 e 1,80, respectivamente, possuem uma das menores proporções de vacinas distribuídas em relação à população. Isso pode indicar desigualdades na distribuição ou na logística de envio das doses. Essas diferenças proporcionalmente pequenas, entretanto, sugerem que a alocação de vacinas seguiu critérios relativamente consistentes entre os municípios.
Angela Maria de Oliveira é enfermeira, especialista em Controle de Infecções Hospitalares e atualmente consultora em CCIH (Comissão de Controle de Infecção Hospitalar). Ela compartilha sua visão sobre o tema. Segundo ela:
“Sob o ponto de vista estatístico, de acordo com a população, a distribuição vacinal está proporcional. Se houvesse desigualdade, alguns fatores poderiam estar ligados aos critérios usados para a distribuição. Além da desigualdade que pode ocorrer na distribuição para os municípios, existem alguns fatores que influenciam diretamente na cobertura vacinal, como as questões culturais preestabelecidas por familiares, falta de imunobiológicos ou má conservação dos mesmos, dificuldades de acesso às unidades de saúde, falta de informações sobre a importância da vacinação, ação dos movimentos antivacina e fake news (notícias falsas). ”
Distribuição Específica de Vacinas Janssen
Um dos dados mais reveladores é apresentado no gráfico sobre a distribuição de vacinas Janssen. Nesse contexto, Juiz de Fora também se destaca como o município que mais recebeu doses dessa marca.
- Juiz de Fora recebeu 26.400 vacinas Janssen.
Isso representa uma diferença significativa em relação a outras cidades como:
- Barbacena, que recebeu apenas 5.215 doses;
- Ubá, com 4.125 doses.
Vacinas como a Janssen, que exigem apenas uma dose, desempenharam um papel fundamental em situações onde a imunização rápida era uma prioridade. A maior alocação em Juiz de Fora é coerente com sua função como centro regional. Entretanto, cidades como Viçosa e Santos Dumont receberam quantidades muito baixas, como 3.275 e 1.980 doses, respectivamente, levantando questões sobre a estratégia de distribuição desse imunizante específico, principalmente em relação à logística de vacinação em cidades menores ou com menos infraestrutura. A logística de distribuição de vacinas envolve uma série de desafios. Entre eles, a população total de cada município, a estrutura de armazenamento e a presença de unidades de saúde capazes de aplicar as vacinas são fatores que impactam diretamente no volume destinado a cada localidade.
No caso da Zona da Mata Mineira, é possível observar que as cidades com menor infraestrutura, como Visconde do Rio Branco, tendem a receber menos doses, não apenas em termos absolutos, mas também proporcionais. Isso pode ser parcialmente explicado pela capacidade limitada de armazenamento de vacinas em condições ideais e também pelas condições de transporte. No tocante a essa questão, Angela Maria esclarece:
“Com a consolidação do Plano Nacional de Operacionalização da Campanha de vacinação contra Covid-19 (PNO), e o envio regular das remessas, o apoio das Forças de Segurança não foi mais necessário e a logística passou a ser feita de forma rotineira buscando em BH, ou às vezes em Juiz de Fora, e às vezes as cidades menores não se disponibiliza de transporte seguro para tal. ”
Pós-Vacinação
Mesmo após tomadas todas as doses da vacina, é importante continuar tomando cuidados, pois, embora haja um menor risco, ainda é possível pegar COVID, independentemente da idade. Como foi o caso da Elis Maciel de 20 anos:
A análise da distribuição de vacinas na Zona da Mata Mineira evidencia disparidades que vão além da quantidade absoluta de doses, revelando nuances na proporcionalidade e na logística de alocação. Enquanto Juiz de Fora se destaca como um polo regional e recebe a maior parte das vacinas, os desafios enfrentados por cidades menores, como a falta de infraestrutura de armazenamento e transporte, ressaltam a complexidade da campanha de imunização. A vacina Janssen, apesar de sua eficácia e praticidade em dose única, sofreu com limitações em sua distribuição, especialmente em locais com menos recursos e acesso dificultado, levantando questões sobre a equidade na estratégia de vacinação.
Ao analisar o impacto dessa distribuição, torna-se evidente que questões estruturais e culturais desempenham papéis centrais na cobertura vacinal. Para além dos números, é necessário fortalecer campanhas de conscientização e ampliar investimentos em infraestrutura, garantindo acesso igualitário à imunização. A pandemia trouxe à tona a necessidade de rever estratégias e reforçar sistemas de saúde mais robustos, principalmente em regiões com alta diversidade populacional e geográfica como a Zona da Mata. O aprendizado deste cenário pode ser um ponto de partida para aprimorar políticas públicas futuras, visando maior eficiência e justiça social.
Entenda a estratégia de vacinação contra a COVID-19 com a cartilha disponibilizada pelo Ministério da Saúde:
Por: Alexia Bonifácio – 105740, Lucas Rocha – 103988, Maria Fernanda – 105755, Marcos Assunção – 95690, Fátima Tatiana – 113006, Maysa Cassemiro – 113003.