Título: Manifestações estéticas da microcefalia: acontecimento, mundo comum e dissenso no Instagram
Autora: Adriana Helena de Almeida Freitas
Período: 2019-2
Orientador: Rennan Lanna Martins Mafra
Resumo: Esta monografia busca compreender a microcefalia enquanto manifestação estética na contemporaneidade no Instagram. Interessa-nos saber que perspectivas aparecem no cotidiano das pessoas diretamente afetadas pela microcefalia, fenômeno que irrompe como acontecimento, atravessando e alterando suas formas de ser e estar no mundo comum. Para isso, acionamos autores como Silva (2000) e Davis (1997) para delimitarmos a microcefalia como diferença; Dewey (1980), para a discussão da microcefalia enquanto fenômeno estético; Queré (2005, 2010), que auxilia a compreender essa diferença enquanto acontecimento; Deleuze (2007) propondo que o acontecimento é um fenômeno da ordem do sentido; Butler (2018), com o conceito de precariedade; Arendt (2007) que nos apresenta o espaço público como lugar de formação de um mundo comum; Seel, interpretado por autores como Cardoso Filho (2009), Osório (2014) e Guimarães (2004), para compreendemos que o aparecimento é pautado por uma estética do aparecer; Rancière (2014, 2012), que compreende as estéticas da diferença pautadas por dissensos; e, finalmente, Lacerda (2017), com seu olhar para o potencial revelador e transformador do cotidiano. A partir dos itinerários teóricos traçados, discutidos em nosso primeiro capítulo, iniciamos um processo de coleta e análise de dados de inspiração cartográfica. A cartografia implica em deixar que o objeto se manifeste, afetando o pesquisador e vice-versa e, por isso, mergulhamos na rede social Instagram para ir ao encontro das pessoas afetadas pela microcefalia. Nos debruçarmos sobre as contas pessoais de cinco crianças crianças (Ayla, Ester, Heitor, Nanda e Murilo) e buscamos compreender como estas famílias operam na construção de um mundo comum na plataforma, atravessados pelo acontecimento. A fim de interpretar estas experiências, estabelecemos sete categorias analíticas de manifestações estéticas da microcefalia: 1) o nascimento; 2) os aniversários e as datas comemorativas; 3) a própria rotina de criação das crianças; 4) a confecção de memes das próprias crianças; 5) o uso da hashtag tbt (throwback thursday); 6) as declarações na mídia; e 7) as discussões políticas que permeiam o cotidiano. Também buscamos interpretar como organizações que emergiram em busca de lutar por direitos de crianças e famílias afetadas pela microcefalia – a ONG aBRAÇO à Microcefalia e a Associação de Famílias de Anjos do Estado do Alagoas (AFAEAL) – evidenciam modos de manifestação estética da microcefalia no Instagram, a partir da identificação de sujeitos enquanto públicos, que passam fazer emergir comunidades políticas. Da mesma forma, estabelecemos sete categorias que nos permitem observar as formas de agir no espaço público destes grupos enquanto fenômenos mobilizados por manifestações estéticas: 1) participaçãocientífica; 2) assistência; 3) identidade coletiva; 4) uniformes; 5) manifestações poéticas da diferença; 6) presença nas ruas; e 7) participação deliberativa. Concluímos que o Instagram é atravessado pela lógica do aparecer na contemporaneidade e que essa estética da microcefalia convida os sujeitos afetados a um constante gesto de atualização. Além disso, foi possível perceber que a microcefalia, enquanto acontecimento, incita a formação de públicos que se manifestam poética e politicamente no processo de luta por direitos.
Palavras-chave: microcefalia, estética, acontecimento, cotidiano, Instagram.