Olimpíadas Na Área | Alison dos Santos, o Piu, a superação brasileira no atletismo

A previsão do tempo em Paris para o Brasil é de um sol dourado, reluzente, no lugar mais alto do Stade de France: o atletismo de velocidade alcança o holofote. Uma das modalidades mais importantes das Olimpíadas, principalmente os 400 metros com barreiras, é dominado por europeus e norte-americanos em sua história. Mas, mesmo com pouca tradição, um grande atleta pode nascer em qualquer lugar de nossa terra tupiniquim.

Os 400 metros com barreira é uma corrida de resistência, com ritmo diferente, mas com necessária extrema velocidade para competir e estar acima de todos os seus adversários. É preciso superar 10 barreiras, dar uma volta por toda a pista, e ainda manter uma constância. Com tanta adversidade, é muito difícil, sendo considerada uma das provas mais complicadas do atletismo de velocidade.

É um esporte que não apenas testam os limites físicos dos competidores, mas sua resiliência mental, pois cada erro pode ser decisivo. Desse modo, essa prova sintetiza o espírito do atletismo, onde a preparação intensa e a precisão técnica se encontram com a paixão e a determinação dos atletas.

E nesse mundo caótico, que é muito afunilado e nunca para de evoluir, é um brasileiro que emana simbolismo do melhor em sua geração de corredores – a maior de todos os tempos. Um sobrevivente, que já é eternizado e medalhista olímpico inédito nacional, o imortal Piu.

Da queimadura na infância aos primeiros passos e saltos

Alison competindo pelo Pinheiros, no início de sua carreira profissional. Foto: Reprodução/Pinheiros

Alison Brendom dos Santos nasceu em 2000, em São Joaquim da Barra e, com menos de um ano de idade, sofreu um acidente doméstico grave. Uma frigideira esquentava óleo para fritar peixe e o que era para ser um dia qualquer em família se tornou um desastre. Alison sofreu queimaduras de terceiro grau e, com apenas 10 meses de idade, comemorou o aniversário dentro do hospital. O acidente marcou sua testa, rosto, peito e braço esquerdo.

Piu, apelidado pela semelhança com outro “Piu” de sua cidade-natal, cresceu sempre usando boné para esconder as cicatrizes, mas encontrou no esporte uma forma de brilhar. Começou no judô – tímido, tinha medo de trocar de modalidade. Até que um amigo o levou ao atletismo e, lá, os seus treinadores se deslumbraram com o seu talento. Apesar de iniciar no salto em atura, Ana Fidélis, sua treinadora, percebeu que o biótipo de um atleta de 2 metros era melhor para corridas com barreira. Foi com certeza a atitude mais acertada na história do atletismo nacional. Piu deslanchou e competiu em diversas competições nacionais, empilhando troféus e medalhas.

Mas é no âmbito internacional, que o garoto voou de vez. Campeão pan-americano e medalha de ouro nas Universíadas em 2019, vencedor do Campeonato Mundial, em 2022, nos Estados Unidos, Piu mostrava ao mundo sua velocidade e resiliência. O brasileiro conquistou uma vaga olímpica, trazendo ao Brasil a primeira medalha do país na categoria e iniciando uma rivalidade ferrenha com o norueguês Karsten Warholm, atual recordista mundial.

O atleta não desistiu, continuou a evoluir, e em diversas etapas, após Tóquio 2020, da Diamond League, a liga de maior nível do atletismo, Alison desbancou o norueguês, tornando-se o melhor corredor de sua categoria.

A velocidade em busca de um ouro inédito em Paris

Alison, conquista o ouro em Oslo e arrebenta o recorde do ano. Foto: Maja Hitij/Getty

De certo modo, o ano de Piu é de um ser galáctico nos 400 metros com barreira. O brasileiro disputou seis das sete etapas na Diamond League, conquistando o pódio em todas as etapas. Apenas perdeu o ouro em uma ocasião.

Destaque para o desempenho monstruoso em Oslo, terra de Karsten Warholm. Piu colocou o norueguês no bolso, em casa, e conquistou o primeiro lugar, ainda marcando o melhor tempo do mundo, no ano de 2024, quando concluiu a prova em 46,63 segundos. A única derrota veio na penúltima etapa, antes de Paris 2024. Nessa ocasião, o ouro foi para o estadunidense Rai Benjamin, prata na última olimpíada, e Alison terminou com o bronze, atrás ainda de Warholm.

Apesar disso, Piu já é um campeão para o povo brasileiro. E vai mostrar, que na cidade das luzes, a principal e mais reluzente será a que estiver no peito dele, em cima do pódio.