A natação, como prática competitiva moderna, teve seu início no século XIX, principalmente na Inglaterra. Antes disso, a natação era praticada de forma recreativa e militar desde a antiguidade, mas não havia uma estrutura organizada de competições. Hoje, o esporte aquático é uma das modalidades mais tradicionais e populares dos Jogos Olímpicos modernos, presente desde a primeira edição em 1896.
No cenário brasileiro, temos uma bela história na natação olímpica, repleta de atletas que conquistaram medalhas ao longo dos anos. Um exemplo é Gustavo Borges, um dos principais nomes da natação brasileira, que conquistou quatro medalhas olímpicas: prata nos 100m livre em Barcelona-1992, prata nos 200m livre e bronze nos 100m livre em Atlanta-1996, e bronze no revezamento 4x100m livre em Sydney-2000.
Nesta edição dos Jogos Olímpicos, a equipe brasileira conta com Nicolas Albiero. Originalmente considerado uma das promessas da natação estadunidense, o atleta é naturalizado brasileiro e treina pelo Minas Tênis Clube. Conhecido como Nick, o jovem de 24 anos venceu os 200 metros borboleta na Seletiva Olímpica/Troféu Brasil de Natação 2024, no Rio de Janeiro. Com essa conquista, o nadador garantiu seu lugar nas Olimpíadas de Paris.
Do Kentucky ao Minas Tênis Clube
Nicolas Albiero nasceu em 8 de junho de 1999, nos Estados Unidos. Desde cedo, foi cercado por uma forte influência esportiva graças aos seus pais, Arthur Albiero e Amy Comerford, nadadores de destaque. Ambos tiveram carreiras brilhantes, acumulando diversos títulos no circuito universitário dos Estados Unidos.
Nick Albiero teve uma carreira admirável na natação em seu país de origem. O jovem foi membro da Seleção Nacional Júnior dos EUA e foi medalhista de prata no Campeonato Mundial Júnior de 2017, no revezamento medley 4×100. Além disso, subiu ao pódio diversas vezes nos Campeonatos Nacionais de Juvenis. Até hoje, Nick ainda detém recordes no estado de Kentucky e na Universidade de Louisville. Sob a orientação de seu pai, ele se tornou campeão da NCAA e, na época, foi o segundo melhor nadador de 200 jardas borboleta da história.
Nick foi pioneiro na história ao conquistar cinco títulos consecutivos nas 200 jardas borboleta da ACC, estabelecendo um recorde incomparável. Sua trajetória é ainda mais notável com a conquista de 13 títulos de revezamento, consolidando-o como um dos nadadores mais proeminentes na história do atletismo do Louisville Cardinal. Entre os muitos reconhecimentos recebidos, destacam-se duas nomeações ao título de Nadador Masculino do Ano da ACC, uma honra que reflete sua excelência e impacto no esporte. Porém, estas conquistas ainda não eram suficientes para ele.
Em 2023, sua vida passou por uma transformação significativa ao se mudar para o Brasil, a terra natal de seu pai. Nick e sua irmã, Gabi Albiero, representaram o Minas Tênis Clube no Troféu Brasil deste ano. Uma infecção alimentar o impediu de nadar algumas provas e, principalmente, de mostrar todo o seu potencial. Mesmo assim, foi vice-campeão dos 200 costas (2:00.66), quarto colocado nos 100 costas (55.38), décimo lugar nos 100 borboleta (53.67) e décimo terceiro nos 200 livre (1:51.34).
Para mídia, Albiero desabafou sobre sua escolha de vir ao Brasil: “ou vou desistir ou tentar uma nova experiência. Acho que as pessoas acreditam que vim para entrar na equipe olímpica. As manchetes diziam: ‘Nick se muda para o Brasil para disputar as Olimpíadas’. Mas elas não entendem que eu tive que passar por tanta coisa, mudar de nacionalidade. Vim com duas malas, e não sabia se seria capaz de me classificar para representar o Brasil. Eu vim para salvar minha carreira, conhecer o país que sempre amei desde criança, aprender o idioma, a cultura, ver minha família. Foi muito mais que “vou para as olimpíadas” – completou.
Primeiro nadador brasileiro abertamente gay nas Olimpíadas
Enquanto frequentava a Universidade de Louisville, Albiero começou seu primeiro relacionamento amoroso, o que foi um gatilho para que ele começasse a se perguntar como seria e como as pessoas reagiriam ao descobrir sua sexualidade. Por isso, o nadador decidiu que assumiria o controle da situação e que a escolha de tornar o tópico público seria sua.
Em 2022, antes de sua chegada ao Brasil, Nick decidiu tornar o fato público. Na época, ele ainda defendia os EUA e chegou a preparar um texto “muito longo e profundo” para postar em suas redes sociais, mas acabou desistindo da ideia. Apagou tudo e foi direto ao ponto, postando em seu Instagram: “(Nick Albiero) is out and proud”, junto com uma foto de si mesmo usando as cores do arco-íris. A frase, em tradução livre, significa “fora do armário e com orgulho”.
Ele contou ao site da NCAA que “eu acho que decidi me assumir justamente por isso… eu senti que havia uma falta de representação (LGBTQ+) no esporte, especialmente entre os homens. Pensei… se eu posso ajudar pelo menos uma pessoa, eu farei isso por eles, porque eu sei o quão difícil foi”.
A participação de Nick Albiero nas Olimpíadas representa um avanço significativo para a visibilidade LGBTQIA+ no esporte. Sua coragem e determinação funcionam como um símbolo de esperança para muitos que ainda enfrentam discriminação e preconceito. Albiero demonstra que é possível alcançar o sucesso sem abrir mão de sua verdadeira identidade, e sua trajetória continua a inspirar e motivar inúmeras pessoas ao redor do mundo.
Primeira chance de deixar seu marco nas Olimpíadas
O ano no Brasil foi desafiador para Nick Albiero. Sempre muito franco, ele não hesitou em compartilhar suas dificuldades em entrevistas durante a Seletiva Olímpica Brasileira de Natação. Devido à sua naturalização ainda não estar concluída, o torneio era sua única chance de realizar o sonho de representar o Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris 2024.
Nas eliminatórias, ele chegou muito próximo do índice olímpico de 1min56s19, mas sabia que precisava atingir essa marca na final. E conseguiu. Ao vencer a prova dos 200m borboleta com um tempo de 1min55s52, nadou abaixo do índice estabelecido e celebrou calorosamente.
Profundamente emocionado, ele compreendia que, apesar de ter alcançado um marco significativo em sua carreira, ainda estava no começo de uma longa trajetória. “Não tenho palavras, estou muito empolgado. Preciso corrigir meus erros antes de Paris”, declarou Nicolas logo após a prova ao Canal Olímpico do Brasil.