Olimpíadas Na Área | A filha do Deus do Vôlei, Gabi Guimarães

Para entrar na história do vôlei muitos dizem que você deve ganhar um ouro pela sua seleção em Olimpíadas, ter a glória máxima do esporte mundial representando seu país. Desse modo, para Gabi Guimarães ainda falta essa conquista para adentrar ao grupo de mulheres da História do Brasil no Vôlei…. bem, eu compreendo essa visão, mas também quero trazer uma outra possibilidade de enxergar a trajetória da capitã da seleção brasileira de vôlei.

Atuar na seleção representando o Brasil é um grande privilégio, mas também um grande desafio. Não é diferente na seleção de vôlei feminina, que atualmente conta com 5 medalhas olímpicas, sendo delas 2 ouros em Pequim 2008 e Londres 2012; mais uma medalha de prata em Tóquio 2020 e duas de bronze em Atlanta 1996 e Sydney 2000. No cenário internacional, o Brasil sempre é um time cotado como favorito ou com chances de disputa mesmo contra outras potências como EUA, Itália, e mais recentemente a seleção turca.
Nomes como Fernanda Garay, Sheila Castro, Marcia Fu, Jaqueline, Thaísa Daher, Carol Gataz ficaram marcados e estão na história do vôlei brasileiro e quem sabe do mundial. Mas eu não irei comentar hoje sobre nenhum nome que citei anteriormente, mesmo que os nomes que foram bicampeãs pelo Brasil-entre eles Thaísa- a central ainda em ativa em Paris 2024 busca seu terceiro ouro.
Mas até mesmo essa gloriosa seleção feminina de vôlei teve suas oscilações seja nas últimas Olimpíadas ou nos períodos pré-Olímpicos, na última Liga das Nações ( VNL) ainda nesse ano, por exemplo , a campanha era de dar inveja a qualquer seleção. O Brasil havia vencido todos os 12 jogos disputados na fase classificatória, em embates complicadíssimos contra Japão, Polônia, Itália e Estados Unidos em jogos que parecia que a sorte e habilidade do Brasil seria superada, o time conseguiu reverter situações e fechar o jogo por 3 a 2 sets.
No fim, a seleção foi derrotada pelo Japão na semifinal da Liga das Nações em um jogo disputadíssimo em que tudo que o Brasil fazia parecia dar errado, mas foi nessa mesma edição da VNL que se espalhou um apelido para Gabi Guimarães– Filha do Deus do Vôlei- na verdade não é só um apelido qualquer, muito pelo contrário, é quase como um título dado a capitã da seleção que evidencia a qualidade da jogadora. Essas palavras saíram da boca do atual técnico da seleção polonesa, Stefano Lavarini, que além de enfrentar a seleção brasileira já ocupou o cargo de treinador do Minas Tênis Clube entre 2017 e 2019 treinando assim a oposta diretamente.

A história da filha do Deus do Vôlei

Foto: FIVB/Divulgação

  Nascida em terras belo-horizontinas em 1994, Gabriela Braga Guimarães no seu início no vôlei com seus 14 anos foi declarada baixa demais e rejeitada pelo Minas Tênis Clube, clube da cidade natal. Mas o treinador do Mackenzie Esporte Clube viu um potencial na mineira e levou ela para atuar no seu time, a partir de então a vida de Gabi nunca mais foi a mesma. Desde de jovem ela atuou pela Seleção Brasileira infantojuvenil ganhando simplesmente o campeonato Sul-Americano de 2010 como Melhor Jogadora da Competição ( MVP), isso tudo no seu primeiro torneio profissional com a blusa amarela.

 Com olhos sob si, Gabi rapidamente foi para a liga profissional de vôlei com seus 16 anos, Bernardo Rezende , mais conhecido como Bernardinho e atual técnico da seleção brasileira masculina de vôlei, levou a oposta para jogar no Rio de Janeiro Vôlei Clube que na época se chamava Unilever ( devido a patrocínio é comum os times alterarem o nome comercial, atualmente o time se chama SESC RJ Flamengo e ainda é treinado por Bernadinho). A partir de então houve uma escalada no nível da jogadora, que começou em 2013 a ser convocada por Zé Roberto, atual técnico da seleção feminina, aos poucos Gabi foi começando a se destacar também na categoria adulta profissional, a oposta chegou a participar da campanha

  A passagem pelo Rio continuaria por longos 6 anos, mas o destino traria Gabi de volta ao lugar que uma vez foi rejeitada por não ter altura para o esporte. De volta a Belo Horizonte e de volta ao Minas Tênis Clube em 2018, com status de jogadora competente e talentosa, Gabi chegou ao clube e conseguiu atingir novamente a Prata no Mundial de Vôlei com participação individual, conseguindo levar o time mineiro à final do campeonato. 

  Seu talento era tamanho que o Brasil ficou pequeno para a mineira, que foi atuar no vôlei turco- o campeonato com maior dificuldade de se atuar recentemente- pelo Vakifbank Istanbul. Onde simplesmente foi campeã de todos os troféus possíveis pelo clube em uma temporada, a Copa Turca, Supercopa Turca, Campeonato nacional da Turquia, Mundial de Clubes e Champions League sendo a MVP deste último citado.   A atual capitã da seleção feminina é uma atleta completa, com seus fundamentos totalmente aprimorados Gabi muitas vezes recepciona o saque e ataca no mesmo rally, suas estatísticas de defesa são sempre invejáveis para as demais ponteiras e com cada ano a mais de experiência ela assume uma postura cada vez mais centrada e responsável dentro da seleção brasileira. No seu auge dos 30 anos, Paris pode ser a última dança de Gabi com uma medalha de ouro, um tópico sensível para os fãs da jogadora.

Falta o ouro para Gabi entrar na História ?

Gabi Guimarães- A filha do Deus do Vôlei
Foto: Reprodução/Redes Sociais da Atleta

  No dia em que esse texto é publicado (07), o Brasil se encontra na semifinal do vôlei e enfrente no dia 08 os Estados Unidos às 11 horas, atual campeão olímpico que venceu o Brasil em Tóquio 2021. Assim como na VNL deste ano, a seleção feminina tem uma campanha invejável, já que até então não perdeu nenhum set sequer para nenhuma seleção. Na outra semifinal está Itália e Turquia que disputam a outra vaga para a final, as seleções que atualmente são a segunda e terceira colocada no ranking mundial atrás somente do Brasil. A final independente de quem avance será um confronto complicado, com duas seleções, Brasil e EUA, que vêm em um processo de renovação de jogadoras e Turquia e Itália que vivem seu auge nos últimos anos.

  É difícil abordar o assunto sobre o fim de Paris 2024 e mais sobre o fim desse terceiro ciclo olímpico da Gabi que agora já está com seus 30 anos. Mesmo que no vôlei a aposentadoria dos jogadores seja mais tardia, com seus 35 anos em maior frequência, coroar Gabi Guimarães com esse ouro nesse ano seria tirar um peso da seleção que nos últimos anos bate na trave, seja sendo eliminado nas quartas de finais em casa no Rio 2016 ou perdendo a final de Tóquio 2020 ou do trauma que foi perder para o Japão na VNL de 2024 depois de ficar invicta por meses.

  Para a filha do deus do vôlei, garantir esse ouro é garantir também uma seleção mais leve emocionalmente para uma nova revitalização da seleção brasileira que aos poucos acontece. As mais experientes como Gataz, Fernanda Garay deixando suas vagas para promissoras jogadoras como Ana Cristina e Julia Bergmann, e no meio de todo esse processo, Gabi como capitã esteve ali para sustentar as críticas, quando tudo dava errado, quando eliminações ocorriam. Arrisco dizer que a jogadora mais completa em todos os quesitos e fundamentos do vôlei, Gabriela Guimarães não precisa de um ouro para entrar na história do vôlei mundial. 

 Mas não serei hipócrita de dizer que caso a seleção feminina conquiste essa medalha dourada depois de 12 anos eu não estarei chorando em frente a transmissão, porque se existe alguma jogadora que merece e alguma seleção que merece é a brasileira e a Gabriella Braga Guimarães.