Em um esporte rápido, radical, e que não é muito praticado no Brasil, uma menina nascida em Iturama, Minas Gerais, destacou-se rapidamente. A canoagem slalom é complexa, oriunda do esqui slalom e surgiu na Suíça. Anteriormente era disputado em águas calmas, mas as regras atualizaram e hoje conta com três tipos de provas diferentes em águas de correnteza forte. Ana Sátila competiu em todas elas: o caiaque slalom, a canoa slalom e a novidade das Olimpíadas de Paris, o caiaque cross.
Nas provas de slalom, as competidoras concorriam pelo menor tempo percorrido, sem encostar nos portais, em que as atletas devem passar, de frente, pelo portal verde, ou por trás, pelo portal vermelho. Tudo isso com uma correnteza fortíssima as levando para o fim da prova. Já no caiaque cross, quatro canoístas entravam na água, e a que chegar na frente, como uma corrida, vence a prova. Dessa vez, existe uma série de obstáculos diferentes que transformam a canoagem slalom em um esporte totalmente dinâmico e radical, como, por exemplo, uma boia horizontal, para que a atleta gire dentro d’água para continuar o trajeto.
História de uma “fenômena”
Ana Sátila nasceu em 13 de março de 1996, e ainda muito novinha se mudou para o Mato Grosso, mais especificamente à cidade de Primavera do Leste. Seu pai era instrutor de natação e colocou sua filha para treinar desde os 5 anos de idade. Com o primeiro contato com o esporte aos 9 anos, incentivada por um professor da prefeitura municipal de Primavera do Leste, Ana aprendeu a remar, e adentrou a equipe de canoagem da cidade.
E com apenas 10 anos, participou da Copa Brasil de Canoagem. Apesar do último lugar, foi um feito histórico, o que mostrava o potencial de uma futura grande atleta, que pudesse representar o país em Olimpíadas. Mas tudo se comprovou quando aos 12 anos foi campeã brasileira de canoagem slalom.
A chegada do treinador italiano Ettore Vivaldi transformou totalmente sua carreira. Ana Sátila se classificou para as Olimpíadas de 2012, em Londres, com apenas 16 anos, sendo a caçulinha da delegação do COB. Foi campeã mundial júnior em 2014, e novamente classificou para a Olimpíadas do Brasil.
No Rio de Janeiro, em 2016, Ana Sátila no entanto, foi punida de maneira controversa nas semifinais do caiaque slalom. A canoísta fez o percurso em 99.12 segundos, mas os jurados decidiram por acrescentar mais 50 segundos, por considerar que a atleta não atravessou com o caiaque e a cabeça pelo meio do 20º portão, de 24 que existem na prova. O que fez os sonhos de ser a primeira brasileira em uma final de canoagem slalom serem adiados.
Em 2021, nas Olimpíadas de Tóquio, Ana realizou o sonho: competiu na final da canoa slalom. Porém, amargou a última colocação, mesmo sendo, naquele momento, a terceira do ranking mundial. Um erro, dessa vez, considerado correto, fez com que o tempo, de 114.71 segundos, virasse 164.71 segundos. novamente 50 segundos acrescentados, por duas olimpíadas seguidas.
Hoje, Ana Sátila treina na sede do Botafogo de Futebol e Regatas, e é a única mulher, nascida nas Américas, no top 10 do ranking mundial.
Meme nas Olimpíadas de Paris e melhor marca do Brasil
As provas de canoagem slalom em Paris, começaram no dia 27 de julho e terminaram no dia 5 de agosto. Porém, Ana Sátila participou de tantas etapas, que muitos brasileiros se perguntaram como ela sobreviveu a tanto trabalho, o que rendeu vários memes, como a “atleta olímpica CLT 6×1”.
A mineira conseguiu a melhor marca do país em todas as provas da canoagem slalom. No caiaque slalom, classificação e 4º lugar na final, por pouco não saiu com uma medalha inédita. Na canoa, onde a brasileira tinha um ranking mundial melhor, terminou em 5º lugar, também a melhor marca do Brasil. Já no caiaque cross, Ana Sátila, no detalhe, não se classificou para a final, ultrapassada pela francesa nas últimas boias.
De certa forma, Ana Sátila é um dos grandes nomes do esporte brasileiro, mesmo não conseguindo transformar seu desempenho em medalha. O Brasil se orgulha de atletas que lutam e tentam se manter com pouco investimento em esportes tão alternativos, e ser uma canoísta, considerada uma das mais potentes do mundo atualmente, mostra o quão nosso país precisa conhecer esses tipos de história.
O ciclo olímpico brasileiro pode estar parecendo estranho, com medalhas perdidas e poucos ouros. No entanto, a performance de Ana Sátila em Paris se destacou como uma grata surpresa, trazendo um brilho renovado para o esporte nacional. Sua conquista representa mais do que uma vitória individual, ela simboliza a resiliência e a dedicação que o esporte exige. Ana Sátila nos lembra do potencial existente em nossos atletas e que o próximo ciclo seja ainda mais vitorioso que em 2024.