A problemática dos animais no esporte

Esporte e sofrimento definitivamente não deveriam ser englobados em um mesmo conjunto, já que os desportos são uma forma de gerar entretenimento, diversão, lazer, auxiliar na construção de valores e promover a saúde humana, mas a verdade é que esses feitos são aplicados quando falamos dos humanos nos esportes, mas esquecemos que muitos deles envolvem outro seres vivos: os animais. Enquanto a prática e competição esportiva para o homem é uma forma de imprimir desempenho e demonstrar habilidade, para os bichos é apenas o reflexo de ordens impostas a esses seres que não possuem alternativas que não obedecer. A exploração dos animais para fins desportivos tem sido cada vez mais pauta de discussões, principalmente àquelas envolvendo bovinos e equinos.

O rodeio foi uma das modalidades bastante discutidas, por ser vista como um meio de crueldade com os touros, ao passo em que é defendido por outro lado como prática cultural. Em 2021, a Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados reconheceu o rodeio como manifestação cultural nacional e também como prática desportiva, através do Projeto de Lei 7624/17, criando diretrizes voltadas a garantir a integridade física dos animais durante todo o decorrer do evento.

A vaquejada é outro exemplo de evento que gerou bastante discussão, sendo defendida por alguns como manifestação cultural e condenada por ambientalistas e protetores de animais como uma tortura aos bovinos, que muitas vezes tem seus rabos arrancados. Em ambos os casos, o entretenimento do público e participantes consiste em sua maioria em colocar animais em situações de estresse e desespero.

(a vaquejada teoricamente não é vista como esporte, mas enriquece o texto, mantenho ou não?)

A situação se torna ainda mais grave por não haver lei federal que proíba o abate de cavalos e jumentos no Brasil.

Diversos casos que dão força à discussão quanto à exploração dos animais em esportes equestres foram noticiados em grandes mídias, e existem ainda as práticas realizadas em locais com menos visibilidade e com uma fiscalização falha quanto à integridade e tratamento adequado para esses animais, como uso incorreto de equipamentos. Atrás de portas fechadas e longe da regularização, quantos animais não estão sendo negligenciados e escravizados apenas para gerar entretenimento ou apresentar desempenho esportivo aos humanos?

que envolvem animais? Para os seres humanos sim, mas para os animais, em sua maioria a resposta é um expressivo não.

A ONG People for the Ethical Treatment of Animals – Pessoas pelo Tratamento Ético de Animais (PETA) levanta a bandeira contra o uso de animais em esportes e nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, solicitou que todas as competições equestres fossem retiradas dos eventos após alguns casos envolvendo cavalos. Na prova do Concurso Completo de Equitação (CCE), a vítima foi Jet Set, um cavalo de 14 anos que precisou ser sacrificado após ficar extremamente manco durante a competição. Jet estava sendo montado por Robin Godel e ficou ferido após saltar em um obstáculo, sofrendo uma grave e irreversível lesão na pata direita e tendo sua vida extraída. No hipismo, o cavalo Kilkenny estava sendo montado pelo cavaleiro Cian O’Connor e foi forçado a seguir realizando um percurso mesmo estando com um sangrando no nariz. Mas o principal caso que reforçou os argumentos contra os esportes equestres foi no Pentatlo Moderno,a pentatleta alemã Annika Schleu teve problemas com Saint Boy, o cavalo sorteado para acompanhá-la na prova de hipismo, que se recusava a saltar, e sua treinadora Kim Raisner foi flagrada desferindo socos no animal, além da própria Schleu que em meio a lágrimas demonstrando claramente sua frustração,  também desferiu golpes de chicote e com a espora em Saint Boy. Raisner recebeu um cartão preto e assim foi desclassificada do restante dos Jogos, e Schleu, que era candidata ao ouro, perdeu qualquer chance de pódio ao ser desclassificada da prova. A situação gerou bastante discussão e ambas foram processadas pela Justiça alemã por infringir as leis de proteção aos animais. Uma multa de 500 euros foi paga, mas nenhuma admissão de culpa foi feita.

O pentatlo moderno, um dos esportes mais tradicionais e antigos do programa olímpico, estando no roteiro desde 1912, é um exemplo de modalidade que sofrerá mudanças em seu formato depois de polêmicas envolvendo o maltrato a animais. 

A categoria é praticada tanto por homens quanto por mulheres, tendo estreado com os homens nos Jogos de 1912, em Estocolmo, e com as mulheres sendo introduzidas  a partir de 1981, inicialmente disputando campeonatos em cidades distintas as dos homens, e isso só mudou em 1997.

As disputas não eram realizada nos anos de Jogos Olímpicos até 1996, de modo que

em 1984, 88, 92 e 96 foram realizados apenas na categoria feminino, justamente porque até então não constava no programa olímpico.

Pode ser praticado também, de forma individual, em equipes com 4 atletas, em revezamento também com quatro atletas, e por equipes mistas, sendo um casal do mesmo país. Vence o participante que obtiver mais pontos ao final do circuito, que é formado por quatro provas de cinco modalidades. A primeira etapa é a esgrima, na qual todos os atletas se enfrentam bradando uma espada e tem como meta tocar o adversário em qualquer região do corpo para somar pontos, quem dominar a prova em 70% do tempo, angariar 1000 pontos (+). A segunda prova é a natação, e o participante tem 200 metros livre a serem superados no menor tempo possível em uma piscina de 50m, estando passíveis de sofrerem a perda de 10 pontos como punição para as seguintes faltas: escapar na saída prova, esquecer de tocar a parede no momento da virada e tocar no fundo da piscina.

A terceira etapa é o hipismo, com um trajeto de 350 a 450 metros com 12 obstáculos a serem percorridos e superados em um tempo limite de 1 minuto e 1 minuto e 17 segundos. A escolha do cavalo, nesse caso, é feita através de um sorteio, realizado a partir da ordem de classificação das duas provas anteriores, após uma segundo queda o atleta tem sua prova encerrada.

A quarta e quinta etapas são a combinação da corrida e tiro a laser. Aqui, os atletas precisam percorrer um percurso de 3.200 metros, sendo que a cada 800 metros uma pausa é feita para a realização dos disparos. O alvo fica a dez metros de distância e precisa ser acertado cinco vezes com um disparo feito com apenas uma das mãos e em um tempo de cinquenta segundos. Para a largada, os pontos entre um competidor e outro, determina também os segundos entre eles. 

Todas as provas são realizadas em um mesmo dia, e a expectativa é de que nas próximas olimpíadas, tenha duração 1h30, tendo em vista que na Rio-2016 e na Tóquio-2020 durou cerca de quatro anos, o que é uma grande diferença para uma modalidade que já chegou a ser realizada em um período de cinco dias, mudança que aconteceu em Atlanta-1966. Todas as realizações e regulamentos estão sob os cuidados da União Internacional de Pentatlo Moderno, a entidade internacional responsabilizada por administrar o esporte. Sua sede fica em Monte Carlo, Mônaco, e o alemão Klaus Schormann é o atual presidente.

Segundo o COI, Comitê Olímpico Internacional, as mudanças têm como meta tornar o esporte mais acessível +

O Barão de Coubertin, criador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, foi o responsável por induzir a prática do pentatlo moderno, e pelo número variado de modalidades dentro da mesma prova, o vencedor é visto como o atleta mais completo. Atualmente a categoria agrupa as principais aptidões que um que um soldado do século XIX deve ter, mas nem sempre foi assim. O nome ‘Pentatlo moderno’ se deve ao fato de que, antes dele, uma outra categoria inaugural do esporte era praticada. Assim como muitos outros esportes, o pentatlo também bebe na água do militarismo para seu surgimento. Em 708 a.C, na Grécia Antiga, as provas que compunham o chamado Pentatlo eram a corrida, salto em distância, arremesso de disco, salto em altura e luta, com o intuito de destacar o participante com melhores condições físicas, e esse passava a ser tratado quase como um semideus, recebendo demasiado prestígio e sendo vangloriado pelo público, recebendo a nomeação de ‘’Victor Ludorum’’, ou ‘’O Vencedor dos Jogos’’. Antes de ser inserido nos Jogos da Antiguidade, os espartanos utilizavam-se dessas técnicas para destacar os mais completos soldados.

No âmbito das premiações, Hungria, Suécia e Rússia são as nações mais premiadas nos Jogos Olímpicos, e no Hemisfério Sul, o Brasil conquistou uma medalha de bronze em Londres-2012 com Yane Marques e a australiana Chloe Esposito conquistou ouro na Rio-2016. 

O maior campeão na categoria é András Balczó, húngaro que foi dez vezes campeão mundial, cinco delas de forma individual e outras cinco por equipes, vencendo de forma consecutiva entre 1963 e 1969 (a competição não aconteceu em 1964 e 1968 porque é realizada apenas em anos olímpicos). Além disso, ele conquistou cinco medalhas olímpicas, três de ouro e duas de prata, nas edições entre Romma-1960 e Munique-1972. 

Apesar de ser um esporte antigo, sua continuidade tem sido colocada em cheque devido a baixa popularidade fora da Europa, e esse foi um dos motivos que a COI – Comitê Olímpico Internacional usou como justificativa para a até então suspensão da categoria para Los Angeles – 2028. Essa é uma decisão que pode ser mudada caso a União Internacional de Pentatlo Moderno (UIPM) consiga realizar as devidas mudanças. Parte do problema parte de questões relacionadas a toda estrutura que a modalidade demanda para ser realizada: piscina, pista de salto, ginásio e uma grande área para que seja realizada a corrida. Além disso, na prova de hipismo a categoria exige que os cavalos a participarem da prova devem ser sorteados, e cada participante tem apenas vinte minutos para interagir com o animal, e a logística necessária para que se disponha de diversos cavalos de alto nível é inviável. Todas essas dificuldades para que a modalidade seja praticada em um evento grande como as olimpíadas, demonstra também como o esporte se torna inviável para a população geral, tornando o surgimento de atletas na área um tópico cada vez mais alvo de escassez. 

Dessa forma, para se manter como parte das atividades olímpicas o hipismo será substituído e algumas das modalidades cotadas até o momento para essa troca  são o ciclismo, corrida de drone, guerra de travesseiros e patinação. A redução do tempo de prática das atividades visa tornar a esporte mais compacto, sustentável e também visa atrair mais o interesse do público jovem.

Passou por mudanças e para Paris – 2014 o evento contará com semifinais e finais ao invés de apenas uma disputa única, e a participação de apenas 18 pentatletas ao invés do costumeiro número de 36 classificados. A ordem de disputa será a seguinte: hipismo, com duração de 20 minutos; a esgrima, com 15 minutos; a natação com 10 minutos e por fim corrida e tiro por mais 15 minutos.

As pausas entre as modalidades serão respectivamente de: 5, 10 e 15 minutos.