O príncipe que não quis se tornar rei

Na última data FIFA, Neymar mais uma vez se lesiona, desta vez a primeira no joelho de sua carreira e também uma das mais graves. O ano de 2023 marca a ida do jogador para a Arábia Saudita, aos 31 anos.
Em 3 de agosto de 2017, o brasileiro foi anunciado como o mais novo reforço do Paris Saint-Germain, uma contratação que se mostrou uma decisão errada por parte de Neymar, culminando em uma das piores gestões de carreira do futebol mundial.

Neymar surgiu no futebol em 2009, muito jovem, e já era tratado como o melhor jogador daquela geração que estava surgindo. Tudo relacionado ao jogador era muito diferente, e ele demonstrou ser extremamente talentoso em seus primeiros jogos com a camisa do Peixe.

Foto de Ricardo Saibun/Agif/Folhapress

Estamos criando um monstro

Renê Simões


Essa frase de René Simões foi dita após a vitória do Santos por 4×2 sobre o Atlético-GO em setembro de 2010. A verdade é que o treinador não estava falando do futebol de Neymar, mas sim de sua conduta. O jogador reclamou com o então treinador do Santos, Dorival Júnior, por não ser escolhido para bater o pênalti. Mesmo o jovem de 18 anos, Neymar, já encantando em solo brasileiro, outra coisa chamava a atenção de René. Neymar sempre teve a ânsia de ser o protagonista, sempre quis ser o rei, e quase conseguiu.

No ano seguinte, em 2011, o auge de Neymar no Brasil acontecia. O histórico Santos de Muricy Ramalho vencia a Libertadores, a dupla Ganso e Neymar brilhava, uma febre nacional surgia. Era participações em programas de TV, era dançinha na comemoração dos gols, era um futebol arte que há muito tempo não se via no Brasil. A lendária camisa branca do Santos dava lugar à icônica camisa azul.

Reprodução: internet

Em 2013, acontecia uma das maiores novelas do mercado de transferências nacional, e o protagonista foi ele, Neymar Jr. Ele era simplemente sondado por Real Madrid e Barcelona e, naquele momento, fez a escolha certa. Na Espanha, Neymar viveu seu auge, fez parte do maior trio de todos os tempos, fez história ao lado de Lionel Messi e Luisito Suárez.

Reprodução: internet

Em Barcelona, Neymar esteve entre os três melhores do mundo, fez um gol que concorreu ao Prêmio Puskás, marcou em final de Champions e naturalmente seria o sucessor de Lionel Messi no protagonismo do clube catalão, mas não o quis.

Em março de 2017, acontecia o jogo da volta das oitavas de final da UEFA Champions League daquele ano, ironicamente, os clubes eram PSG e Barcelona. Quis o destino que naquela noite ocorresse uma das maiores viradas da história do futebol, com Neymar sendo o protagonista do jogo. No entanto, no dia seguinte, os jornais estampavam Messi em suas capas. A icônica foto do argentino nos braços da torcida talvez tenha mostrado à Neymar que ele precisava procurar protagonismo em outro lugar. Meses depois, ele se tornava o jogador mais caro de todos os tempos.

Foto: Getty Images

Neymar chegou à França com peso de ouro, e o clube tinha grandes expectativas para conquistar a Liga dos Campeões. No entanto, pelo menos com ele, isso não aconteceu.

A primeira palavra que vem à mente de muitos quando se fala na passagem de Neymar pelo PSG é “lesões”. No final das contas, o brasileiro perdeu praticamente metade dos seus jogos devido a lesões. O jogador, que estava no auge de sua carreira no Barcelona, trocou a La Liga por uma liga muito mais física, na qual Neymar nunca se adaptou, perdendo assim a alegria que ele transmitia ano após ano.

Na temporada 22-23, Neymar estava tendo uma temporada de melhor do mundo e finalmente teve um primeiro semestre com sequência. Ele via na Copa do Mundo do Catar a sua oportunidade de redenção, mas, por quatro minutos, isso não foi possível.

Foto: Getty Images

Na Copa, Neymar se lesionou ainda na fase de grupos e jogou no sacrifício no mata-mata da competição. Essa decisão o fez se machucar novamente na segunda parte da temporada europeia, perdendo mais uma vez jogos decisivos na Liga dos Campeões.

Não era novidade para ninguém que o clima de Neymar com o clube e com a torcida não era dos melhores, e ao não ver oportunidades no PSG ou em outros clubes na Europa, Neymar escolheu o caminhão de dinheiro da Arábia Saudita.

Foto: Al Hilal

Decisões mal tomadas ao longo de sua carreira o fizeram ter que sair da Europa com apenas 31 anos. Agora, novamente ele se lesiona e só deve voltar no final de 2024. Os últimos anos foram muito pouco perto do que esse jogador prometeu entregar.

Eu não vi Ronaldo ou Ronaldinho no auge, mas vi Neymar. Foi mágico vê-lo brilhar em solo brasileiro, foi mágico vê-lo fazer parte do maior trio de ataque da história e me emocionar com você realizando seu sonho, menino. Infelizmente, o sentimento que fica hoje é que tudo poderia ter sido maior, tudo poderia ter sido melhor.

Ainda não acabou, mas há tempos que não é a mesma coisa.